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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O coração de Chico Pereira

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publicado em 27/12/2025 ás 07h00
atualizado em 27/12/2025 ás 08h42

O coração de Chico Pereira parou de bater. O sangue que corria nas veias, estancou. Chico era notável e foi o escolhido do Natal que passou. Somos tão pouco interessantes quando o coração para de bater. Nascemos e morremos dia após dia.

Lembro, era costume, nos velórios do sertão, colocar bacias com gelo e carvão embaixo dos caixões, em salas apertadas, muito café e a vida alheia varava a madrugada, ou seja, os vivos e suas podridões. E tinha os terços de hora em hora.

Costume de dizer ´Deus conforte a família´ (e o inferno é aqui),  onde o rei pode ser encontrado nu nas calçadas pedindo migalhas, bem longe do exército de Tito, (70 d.C.) e muitas, muitas nuvens ligeiras.

Uma escuridão na avenida Beira Rio nos levou para a cidade, na véspera de Natal para abraçar o povo de Chico Pereira, na Academia Paraibana de Letras – o artista  deitado eternamente. Grande Chico!

Lá estavam alguns parentes da vida da voz do morto. No centro da sala uma mesa farta com salgados, bolos e refrigerantes. “Para o consumo”, (me disse um rapaz), dos que iriam passar a noite de Natal ali.

Em dado  momento ouvi gargalhadas, não creio que provocadas por piadas de salão, mas sim, as pessoas frouxas de rir no jardim da indignação inconstante de Augusto dos Anjos: “Levando apenas na tumbal carcaça, o pergaminho singular da pele e o chocalho fatídico dos ossos!”

Vi pessoas formando grupos para serem fotografados. Isso é moderno? Ou eu estou por fora? Por que ninguém disse nada do modelo do meu terno?  Ah! A culpa é do celular. Cenas de cortar coração

O tempo passou e a  cidade mudou em noites que sonhavamos com as estrelas e todos nós, cedo ou tarde, teremos a (in)felicidade de encontrar o lugar de deitar o corpo e morrer.

Chico Pereira não estava ali. Chico era versátil, sabia muitas coisas.

Todos nós construímos glorias e guerras inconstantes à volta da vida, amamos os divertimentos, o sexo, para depois não sentirmos o pulso ao sangue já morto.

Boa sacada de quem levou os quadros pintados por Chico, para compor o cenário do funeral – aqui, ilustrado por uma variação de sua fase dos corações.

Chico Pereira não existe mais. Chico era velho demais para ser velho.

O mundo dos antepassados

Não sei que nome dar a esse mundo novo, não sou Américo Vespúcio, o navegador e explorador dos mares que, através de suas viagens e relatos detalhados, foi o primeiro a  dizer que as terras descobertas por Colombo não eram a Ásia, mas sim um Novo Mundo. Talvez ainda nem sequer o tenha visto por aí, talvez seja só imaginação, a tentar convencer-nos de que vivemos um  mundo novo.

Kapetadas

1 – Parece normal mas é tão estranho a gente falar da gente mesmo com uma seriedade né, como se a gente fosse assim lá grandes merd

2 – Quando o sentimento é superado pelo ressentimento, fez-se o Natal

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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