João Pessoa, 11 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Fiquei envergonhado com o vídeo gravado em Pedro do Rosário, no interior do Maranhão, um menino com a camiseta do Superman chorando com saudade da mãe vítima de feminicídio. O filho de Dona Cirani, aparece visivelmente abalado dizendo: “se ela tivesse viva, eu não estaria sujo”
Sujo estamos nós, sujo é o Brasil onde matança de mulheres não para. Cadê as mulheres curdas do meu país?
Estava a caminho de casa, pensando em escrever sobre expectativas, mania que eu tenho de viver pensando, querendo escrever um romance falso, mas mais verdadeiro do que fosse se verdade.
Lembrei da Última Crônica de Fernando Sabino, sim o nome da Crônica é a Última. Ele diz estar a caminho de casa, entra num botequim da Gávea no Rio de Janeiro, para tomar um café, mas estava adiando o momento de escrever. O que ele escreveria em sua última crônica? Seria ele o grande mentecapto? .
Saudades são fontes antigas, mesmo na intuição dos deuses. E escrever sobre saudade não faz sentido, só sentir.
Muitas caras lavadas nas ruas, máscaras e unguentos. Juro que gostaria de estar inspirado, mas esqueci o que ia escrever – nos sinais fechados, nem um rolé, olá.
No chão da praça vejo minha sombra que caminha mais depressa que eu e parece até que tem vida própria e se perde de mim.
De cara com o circunstancial, lembrei que quando eu era menino, olhando para o Cruzeiro do Sul atravessava as ruas que andai e não andarei mais.
Estou sem assunto.
Ainda menino, eu não ficava triste com nada, não fazia a menor ideia do que seria diabetes, colesterol, gordura no fígado ou demência.
O chão do sertão era imenso, o céu mais azul e dava para contar as estrelas.
Coragem é escrever, mostrar e melhorar.
Já estava em casa, sem conseguir escrever fui ler as cartas de Clarice Lispector para Fernando Sabino: “Falta um demônio na cidade. Não trabalho mais, Fernando. Passo os dias procurando enganar a minha angústia”
Hoje, uso pulseiras com a imagem de São Bento e que não seja o dragão o meu guia – trabalho noite e dia para sobreviver, mulher, cachorro, filho, boletos e gatos.
Sozinho lembrei do menino de Pedro do Rosário e torno-me velho, perco a noção do tempo, esqueço onde coloquei as chaves da casa, os ósculos e sem mais nada para contar fico com a poesia na cabeça “Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua, longe um menino chora, em outra cidade talvez, talvez em outro mundo”
Esse menino sou eu
Kapetadas
1 – As leis são como salsichas: ninguém deveria ver como são feitas.
2 – Rir é mastigar o absurdo sem precisar engolir.
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VEREADOR QUESTIONA - 09/10/2025