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Você Está Realmente Se Fazendo Entender?
Todo mundo fala, mas nem todo mundo se comunica bem. É comum acreditarmos que, por sabermos falar, dominamos a arte da comunicação. No entanto, os ruídos diários provam o contrário: desentendimentos em casa, mal-entendidos no trabalho, relações que se desgastam por frases mal colocadas. A verdade é que comunicação não é o que você diz, é o que o outro entende. E, entre a boca de quem fala e o ouvido de quem ouve, há um caminho longo e cheio de interferências.
A comunicação é natural, sim, mas exige aprendizado constante. A repetição automática de padrões, muitas vezes, nos leva a cair em armadilhas. Falamos como sempre falamos, sem refletir sobre o impacto do que dizemos. Muitas vezes, não percebemos que nossas expressões, nosso tom, nosso tempo de resposta ou até o silêncio estão carregados de significados. E o pior: achamos que o outro é que deveria nos entender melhor, quando, na verdade, a responsabilidade por uma comunicação clara é sempre de quem fala.
Pesquisas mostram que nos comunicamos muito pior do que imaginamos. Seja em relacionamentos afetivos ou profissionais, a dificuldade de diálogo lidera as causas de conflitos. No ambiente corporativo, por exemplo, a falta de clareza na comunicação é uma das principais queixas entre gestores e equipes. As novas formas de trabalho, como o modelo híbrido e remoto, potencializam esse desafio. Escrever uma mensagem direta no WhatsApp, sem emojis ou rodeios, pode soar ríspido. Mas às vezes é apenas objetividade com pouco espaço para firulas.
Por isso, precisamos dobrar o cuidado. Cada canal de comunicação exige um tipo de atenção. No virtual, falta o tom de voz, a expressão facial, a linguagem corporal. Uma frase curta pode ser lida como bronca. Um ponto final pode parecer agressivo. Um áudio longo pode ser ignorado. Por isso, revisar a intenção antes de enviar a mensagem pode evitar conflitos desnecessários. Às vezes, um simples “tudo bem por aí?” antes do pedido já muda o clima da conversa.
Outro erro comum é acreditar que o óbvio não precisa ser dito. Mas o que é óbvio para você pode ser um enigma para o outro. A clareza é mais valiosa do que a eloquência. Em reuniões, por exemplo, quando um líder fala algo e não deixa claro se é uma instrução ou apenas uma informação, as interpretações se espalham. Uma equipe desorientada não é necessariamente incompetente, muitas vezes, só está mal informada. Comunicar bem é, também, evitar suposições.
E aqui entra um ponto crucial: a escuta. Vivemos em uma sociedade que fala demais e escuta de menos. Já pensamos na resposta antes mesmo de ouvir a pergunta inteira. Escutar de verdade é estar presente, sem pressa, sem julgamento. É acolher o que o outro tem a dizer, mesmo que não concordemos. E, quanto mais escutamos, melhor nos comunicamos. Porque passamos a entender melhor a linguagem do outro e conseguimos adaptar a nossa.
Também é preciso reconhecer que cada pessoa interpreta a realidade com base em suas experiências, valores e crenças. Isso significa que a mesma mensagem pode ter significados diferentes para cada interlocutor. Não basta falar bem. É preciso garantir que o outro compreendeu como deveria. Pedir um feedback simples, como “isso fez sentido para você?” ou “ficou claro?” pode evitar distorções.
A comunicação eficaz nasce da consciência. Consciência do que se diz, de como se diz, de quem está ouvindo. É preciso simplificar, contextualizar, ser direto sem ser agressivo, e sempre estar disposto a ajustar a rota quando a mensagem não chegar como deveria. Ser claro não é ser seco; ser cuidadoso não é ser inseguro. É possível unir firmeza e gentileza numa mesma fala e isso faz toda a diferença nos vínculos que construímos.
Se você quer se comunicar melhor, comece olhando para dentro. Como você fala com você mesmo? Com que palavras você se dirige à sua própria história? Afinal, quem não consegue se escutar dificilmente vai saber escutar o outro. A comunicação é uma via de mão dupla, mas ela sempre começa em nós.Quantas vezes você já foi mal interpretado por achar que estava sendo claro?
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