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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Quando o silêncio mata a inovação

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publicado em 16/05/2025 ás 07h48

Numa sala de reunião de uma indústria no interior da Paraíba, uma analista de qualidade pensa em dar uma ideia simples que poderia evitar desperdícios. Mas ela não fala. Lembra que, da última vez que alguém sugeriu algo fora do padrão, foi cortado no meio da fala e nunca mais quis opinar. A sugestão morre ali, sem nascer. E junto com ela, morre também uma chance de melhorar, de inovar, de evoluir.

Essa cena acontece em muitas empresas. E revela algo sério: o maior inimigo da inovação pode ser o próprio ambiente de trabalho.

Ambientes tóxicos nem sempre gritam. Às vezes, eles silenciam. E esse silêncio vai apagando, aos poucos, o brilho das pessoas. Quando a confiança se perde, as ideias somem. A energia que move as equipes se esgota. Como dizem os estudiosos Sisodia, Sheth e Wolfe, essa energia só floresce onde há espaço para escutar, tentar, errar e aprender. Mas ela desaparece quando há medo, rigidez e desprezo pelas pessoas.

Esse medo aparece de várias formas: no chefe que desautoriza publicamente, na meta que ignora o limite humano, no feedback que parece punição, no ambiente onde só o cargo alto tem voz. Isso cria um clima falso, onde todos fingem estar engajados, mas por dentro estão se protegendo. É um teatro corporativo e nenhum teatro gera transformação real.

O problema vai muito além de um clima ruim. Ele afeta a inovação, aumenta a saída de funcionários, derruba a produtividade e adoece emocionalmente as equipes. Uma rede de atacarejo em João Pessoa percebeu isso. Achava que a alta rotatividade era culpa do salário, mas descobriu que o verdadeiro problema era o ambiente. Mudaram a cultura: criaram rodas de conversa, formaram líderes mais empáticos, fortaleceram a confiança. Em poucos meses, as sugestões de melhoria aumentaram 40%.

Inovação não nasce em solo seco. Precisa de ar. E esse ar é o diálogo. É poder errar sem medo. É poder propor algo novo sem ser ridicularizado. É poder discordar sem ser punido. Grandes empresas não são feitas só de metas e relatórios são feitos de gente. E gente precisa de espaço para criar. Onde não há espaço, só sobra repetição. E repetir o passado é o caminho mais rápido para se tornar irrelevante.

Infelizmente, muitos líderes ainda acham que mandar e controlar é o que importa. Confundem respeito com medo. Autoridade com autoritarismo. Mas a verdadeira liderança vem do exemplo, da escuta, do cuidado. Quando o líder inspira confiança, as pessoas se soltam. Quando impõe medo, elas se escondem e escondem também as ideias que poderiam mudar tudo.

A mudança começa com uma pergunta simples: sua equipe está criando ou só obedecendo? Está pensando junto ou apenas seguindo ordens? Está contribuindo ou só tentando sobreviver? Essa resposta diz mais sobre a saúde de uma empresa do que qualquer planilha.

Porque onde há medo, o presente fica pesado. Mas o futuro… esse é silenciosamente destruído.

Romper esse ciclo exige coragem. Coragem para escutar o que incomoda. Para reconhecer erros, rever atitudes e mudar. Cultura não se transforma com frases na parede, mas com atitudes. No café, na reunião, no jeito de liderar. Cada gesto conta. Cada silêncio, também.

As empresas da Paraíba que quiserem crescer de verdade precisam entender: ambientes tóxicos matam ideias. E sem ideias, não há inovação. Não adianta investir em tecnologia se o clima adoece as pessoas. Um ambiente saudável não é frescura é estratégia. É o que sustenta a criatividade, a confiança e o desempenho no longo prazo.

A próxima grande ideia pode estar ali, em silêncio, esperando coragem para ser dita. E a pergunta que fica é: sua empresa está pronta para ouvir?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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