João Pessoa, 29 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Quantas vezes repetimos as mesmas rotinas, dia após dia, esperando que, de alguma forma, os resultados mudem? Talvez uma das definições mais simples de insanidade seja exatamente essa: fazer sempre o mesmo e esperar algo diferente. No fundo, sabemos que mudar hábitos não é tarefa fácil. Afinal, hábitos automáticos se formam rapidamente e, depois, parecem nos dominar sem que a gente perceba. Quem nunca ligou a televisão apenas para ver “o que está passando” e, quando percebeu, já se foram três horas? Esse tipo de distração até pode aliviar o estresse momentaneamente, mas muitas vezes nos afasta do que realmente importa.
O problema é que, ao viver assim, seguimos meio anestesiados, correndo atrás de objetivos sem significado, ocupando o tempo com tarefas vazias, enquanto, por dentro, sentimos um vazio que não sabemos explicar. O dia acaba, e a sensação é de que a vida passou sem que tivéssemos realmente vivido. Por outro lado, quando nos propomos a buscar, de maneira consciente, experiências que tragam realização, alegria e sentido, tudo muda. Passamos a cultivar uma vida mais plena, mais rica e, principalmente, mais saudável.
Experiências como mindfulness, flow e espiritualidade são caminhos que nos ajudam a ter uma vida mais intencional, mais conectada ao que somos de verdade. Esses três conceitos podem parecer complicados, mas na prática são muito simples: estar presente no que se faz, mergulhar profundamente nas atividades e reconhecer a dimensão espiritual, que nos liga a algo maior que nós mesmos. Quando colocamos isso em prática, transformamos nossa rotina e criamos momentos de satisfação e bem-estar.
O psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel, diz que a vida é feita de momentos. Ele calcula que, em um dia de 16 horas, vivemos cerca de 20 mil momentos de três segundos cada. E o mais impressionante: em cada um deles, muita coisa acontece dentro de nós. Há pensamentos, emoções, sensações físicas, desejos. Mas, muitas vezes, estamos tão distraídos que nem percebemos esses pequenos pedaços que formam o todo da nossa existência.
Se pararmos para pensar, cada um desses momentos representa uma oportunidade. Podemos simplesmente deixar que passem despercebidos ou podemos nos abrir para vivê-los de forma mais consciente e profunda. Quem já andou na rua com uma criança pequena sabe bem como funciona: o adulto quer chegar rápido, mas a criança para a cada passo, observa, comenta, se encanta com tudo. Ela vive o momento de forma plena, sem pressa, sem preocupação com o que vem depois. Isso é mindfulness: a capacidade de estar inteiro no presente.
Essa mesma presença podemos aplicar no trabalho, nos relacionamentos, nos pequenos gestos do dia a dia. Há estudos que mostram como pessoas que desempenham funções aparentemente simples, como profissionais de limpeza em hospitais, conseguem transformar seu trabalho em uma verdadeira vocação, quando passam a fazê-lo com atenção, carinho e propósito. Ao decidir, por exemplo, mudar a posição de um quadro para alegrar o ambiente de um paciente, essas pessoas mostram como o mindfulness pode tornar cada tarefa mais significativa.
Além do mindfulness, há o flow, que acontece quando estamos tão envolvidos em uma atividade que nem percebemos o tempo passar. Sabe aquele momento em que você está tão concentrado em algo que se esquece do mundo ao redor? Isso é flow. Esses estados de profunda absorção nos trazem prazer, satisfação e até uma sensação de transcendência. São momentos que mostram que a felicidade não está apenas no resultado final, mas no próprio processo.
E, por fim, a espiritualidade, que nos conecta com o sagrado, com valores mais elevados e com a ideia de que fazemos parte de algo maior. Não se trata apenas de religião, mas de um sentimento de conexão, de reverência pela vida e pelo mundo. Quando cultivamos essa dimensão espiritual, passamos a olhar para cada momento com mais gratidão, mais humildade e mais amor.
Buscar viver com mais mindfulness, mais flow e mais espiritualidade é, portanto, escolher uma vida com mais qualidade e mais propósito. Não significa eliminar todas as distrações ou virar uma pessoa perfeita, mas sim colocar mais intenção nas escolhas, mais atenção no presente e mais abertura para o que realmente importa.
No fim das contas, talvez a grande lição seja essa: a vida não é um grande evento que acontece lá na frente. A vida está aqui, agora, neste exato momento. E, como bem lembra Kahneman, temos milhares de chances todos os dias de escolher como vamos viver cada um desses instantes. Que possamos, então, escolher viver com mais presença, mais consciência e mais alegria.
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