João Pessoa, 17 de maio de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Tudo deveria estar muito claro, posto que a noite se acabou. Subtraída a noite, restaria a luminescência do dia, mas esse, paradoxalmente, está mais escuro.
Com a noite, morreu o passado. Não há mais o raiar do dia, tampouco o poente importa. Sem a inspiração da noite, todos pecam às escâncaras desde a autora. E não dormem. O futuro caminha ligeiro para ser passado, porque tudo que era noite se fez presente bem curto, instantes engolidos
Foi o capitalismo quem engoliu a noite e todos sabem que era na noite que as pessoas deitavam o descanso. Hoje, todos estão cansados às claras, trabalhando dia e noite, pois a noite é tempo de trabalho, afinal ela não precisa de paradas.
Tínhamos dia e noite para viermos e para morrermos, mas hoje em dia, só morremos de frente de uma claridade rasa cheia de produtos rasos que nos saltam aos olhos piscando mensagens luminosas e atrevidas. Vivemos no centro de uma Via láctea de mentirinha. Para que olhar o céu estrelado, se as estrelas também foram devoradas pelos bits das telas capitalistas?
Foi-se o tempo das esperas por um novo dia. A paz é chacoalhada dentro dos minutos lotados, sacudidos nos trens da vida, dia e noite; morre-se nas fábricas de serviços dia e noite. A fábrica de serviços está na palma das nossas mãos, mastigando o tempo, encolhendo-o, distorcendo-o, engabelando-o. Nascente e poente estão cada vez mais próximos, emendados, afinal é preciso comprar e vender mais, muito, rápido, qualquer coisa, para qualquer um, antes que nova oferta fabrique nova ansiedade.
As horas já são minutos. Minutos já são segundos, metas cronometradas, um círculo viciado, brilhoso em alta velocidade; tudo é dia, dia e noite, embora todos estejam no escuro. E não há retorno. Não há como pegar de volta as nossas identidades perdidas em cada minuto que passou. Nessas condições, quem há de questionar, pensar a vida, viver o ócio, questionar a morte e os pecados do sistema? Sim, estamos perdidos.
@professorchicoleite
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