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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Dançar forró

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publicado em 23/06/2023 às 07h00
atualizado em 22/06/2023 às 17h52

Tenho minhas desconfianças, mas não sei se elas procedem. O fato é que não sei dançar forró.  Estranho isso, afinal sou do sertão da Paraíba, nasci ouvindo Luíz Gonzaga, vendo minha mãe dançar as mais autênticas músicas de forró:

“(…)

Vem, morena, pros meus braços
Vem, morena, vem dançar
Quero ver tu requebrando
Quero ver tu requebrar

(…)”

Há exceção em tudo. Quando morei em Vitória da Conquista, em 1994, em uma noite colorida de São João, tomei uma bebida de nome “quentão”. É uma mistura de tudo quanto energiza na Bahia: cachaça, açúcar, casca de limão, cravo da índia, casca de laranja, água, gengibre, canela em pau e outros penduricalhos embriagantes.

O bicho é quente e aperreado do juízo. O primeiro gole entrou queimando a garganta. No estômago, dançou alvoroçado, deu uns cangapés carpados, acendeu um fogaréu em mim e me fez tirar para dançar uma sexagenária que bailava tão desajeitada que parecia uma cacatua embriagada.

A coisa foi braba mesmo. Quando a sanfona chorava para um lado, eu quebrava os quartos para o outro; quando a zabumba percutia de uma forma, eu dava uns pulos enviesados como cabrito novo em cima dos pedregulhos da Serra do Desterro; quando o triângulo tinia, a velhinha sacolejava as pernas e assoviava algo indizível.

Não ficou dedo sobre dedo da pobre mulher. Nem unhas, mas a senhorinha aguentou firme. Minha esposa quem me disse. Que eu parecia um peru bêbado, rodando para um só lado só, dando pinotes pelo ar, como um dançarino esvoaçante.

Eu só me lembro da resenha do outro dia, da dor no quadril, uma leseira na cabeça, um calo em cada pé e uma sensação de que o mundo estava rodando pelo contrário, coisas do forró.

Forró lembra à festa de São João. Acho a festa de São João melhor do que a de Natal: pelas músicas, que são dançantes, e não enfadonhas; pela comida, regada a milho verde, pamonha, canjica, pé de moleque e batata assada; pelo cheiro, fogueira, bombinhas e algazarra. Ai, ai, ai, que saudades do quentão!

@professorfranciscoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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