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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Quando a Emoção Fala Mais Alto

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publicado em 20/06/2025 ás 08h05

Nem sempre é o que dizemos, mas o jeito como dizemos. Na comunicação humana, as emoções não são coadjuvantes, são protagonistas. Cada palavra que sai da nossa boca carrega, mesmo que escondido, um pedaço do que sentimos. Por trás de um simples “tudo bem?”, pode haver tristeza, raiva ou medo disfarçado. E o mais curioso é que aprendemos desde cedo a esconder isso. “Engole o choro”, “não grita”, “não faz drama”. Crescemos ouvindo que expressar sentimento era fraqueza, quando, na verdade, é sinal de conexão com a vida.

A cultura patriarcal tratou a emoção como um problema a ser resolvido, um bicho a ser domado. O resultado está aí: adultos que não sabem dizer o que sentem e que, muitas vezes, se perdem nas entrelinhas das próprias palavras. As mulheres, historicamente, foram as mais penalizadas. Quando expressam algo com firmeza, são chamadas de “histeria ambulante”; já os homens, nesse mesmo tom, ganham o rótulo de assertivos. Um claro exemplo de distorção emocional mascarada de análise racional.

Mas as emoções estão sempre ali, mesmo quando fingimos que não. Negar o que sentimos só faz o incômodo crescer. Segundo estudiosos como Charles Darwin e Paul Ekman, as emoções são universais, biologicamente programadas no ser humano. Alegria, raiva, tristeza, nojo, medo, desprezo e surpresa fazem parte do nosso “pacote de fábrica”. Não é exagero dizer que são como um painel de controle do corpo, disparando reações físicas e comportamentos, batimento acelerado, suor, gestos impensados.

Fingir que não sente só atrasa o que precisa ser compreendido. Cada emoção traz um recado: o medo pede proteção, a tristeza convida à introspecção, a raiva exige ação. O segredo está em escutar esse recado com consciência, em vez de deixá-lo explodir como um alarme disparado. Quando não cuidamos da emoção, ela se encarrega de nos cobrar, seja num rompante, seja numa doença. Cultivar emoções, como se cuida de uma planta, é uma metáfora certeira: cada uma precisa de um tipo de atenção.

No mundo do trabalho, isso é ainda mais delicado. As emoções são vistas com desconfiança, como se fossem uma ameaça à produtividade. Mas ignorá-las é tapar o sol com a peneira. Profissionais emocionalmente inteligentes são os que conseguem ler o próprio estado emocional e o do outro, tomando decisões mais humanas, menos impulsivas. Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, reforça que quem domina esse campo tem mais sucesso nos relacionamentos e na carreira.

Outro ponto importante é diferenciar emoção de sentimento. Emoção é reação imediata, quase instintiva. O sentimento é o olhar que colocamos sobre essa emoção. Por isso, o amor não é uma emoção, é uma construção de percepção sobre experiências. É possível, por exemplo, sentir medo e, mesmo assim, agir com coragem. Ou sentir raiva, mas escolher se posicionar com respeito. Essa consciência é o que nos faz adultos emocionalmente maduros.

Tristeza não é fracasso. É chamada à reflexão. Medo não é covardia. É convite ao cuidado. Raiva não é fúria sem controle. É energia que pode ser canalizada para mudar o que precisa ser mudado. E alegria, essa sim, talvez seja a mais potente das emoções, porque nos empurra para o outro, para a conexão, para o compartilhamento. Quando alguém sorri, mesmo em silêncio, diz mais do que muitas frases. A emoção, quando bem vivida, é um laço.

Por isso, ao nos comunicarmos, precisamos lembrar que não falamos apenas com palavras. Falamos com a voz, com o olhar, com o corpo, com os silêncios. Às vezes, o outro não entende nossa mensagem porque não percebe a emoção por trás dela ou porque ela chegou distorcida. Em vez de gritar para ser compreendido, talvez o caminho seja escutar primeiro o que estamos gritando por dentro. E aí, sim, falar com clareza.

Presença, cuidado e consciência: é isso que as emoções pedem. Não para serem eliminadas, mas para serem compreendidas. Somos seres emocionais que, às vezes, raciocinam e não o contrário. Quanto mais reconhecemos essa verdade, mais eficaz se torna nossa comunicação, nossos relacionamentos, nosso viver. A emoção tem, sim, peso. E, quando bem acolhida, tem também potência.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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