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Quando um estudante ingressa no curso de Gestão Pública, quase sempre traz consigo um ideal forte: o desejo de transformar a realidade que o cerca. No entanto, entre a utopia da mudança e os desafios concretos do mercado, existe um caminho que precisa ser trilhado com estratégia, preparo e, principalmente, planejamento de carreira.
Nesta semana, conversei com a professora Doutora Tereza Evany de Lima Renor Ferreira, docente do departamento de Gestão Pública da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pesquisadora do GIACO/CNPq, para refletir sobre como esse planejamento pode e deve começar logo nos primeiros semestres da graduação. A conversa trouxe luz a um ponto que, muitas vezes, é negligenciado: não basta querer mudar o mundo, é preciso saber como se preparar para isso.
Tereza foi direta: a área de Gestão Pública é vital para o desenvolvimento da sociedade. Saúde, educação, segurança, meio ambiente, todos esses temas, que impactam nossa vida coletiva, passam pelas mãos dos gestores públicos. Planejar a carreira, segundo ela, é enxergar com clareza o próprio caminho, estabelecer metas realistas, desenvolver competências e se posicionar diante das múltiplas possibilidades de atuação, seja no setor público, privado ou no terceiro setor.
Mas como construir essa trajetória? A resposta, segundo Tereza, está em ir além da formação técnica. “A tríade ensino, pesquisa e extensão precisa estar viva na formação do gestor. A extensão, principalmente, aproxima o estudante da realidade concreta e o ensina a aplicar o conhecimento de forma transformadora”, destacou. Iniciativas como convênios com órgãos públicos, laboratórios de políticas públicas e oficinas práticas são, na visão dela, fundamentais para transformar a sala de aula em um verdadeiro laboratório de cidadania e gestão.
Outro ponto que a professora ressaltou, e que eu sempre faço questão de reforçar em sala de aula, é a importância do autoconhecimento. Planejar a carreira passa, obrigatoriamente, por conhecer a si mesmo: entender suas potencialidades, seus valores e seus objetivos. “O estudante precisa descobrir onde se sente mais útil e mais realizado. Isso facilita não só a escolha de caminhos, mas também a construção de uma trajetória com propósito”, observou Tereza. Metodologias ativas, como jogos de simulação e atividades imersivas, têm sido cada vez mais usadas para estimular esse processo.
Apesar dos avanços, ainda existem duas grandes lacunas que dificultam o planejamento de carreira na Gestão Pública. A primeira é anterior à própria entrada na universidade: “muitos alunos escolhem o curso sem conhecer a fundo as possibilidades e as exigências do mercado, o que gera desalinhamento entre expectativa e realidade. A segunda lacuna é a falta de estudo estratégico sobre o mercado de atuação durante a graduação, algo que deveria ser parte natural da formação”.
Mesmo diante dessas dificuldades, Tereza se mantém otimista. Ela lembra que, desde a criação do primeiro curso de Administração Pública no Brasil, em 1954, a formação de gestores evoluiu muito. Hoje, mais do que nunca, é essencial que os estudantes estejam próximos das comunidades, conhecendo de perto as necessidades da população e desenvolvendo soluções inovadoras e eficazes para os problemas coletivos.
Para quem está começando a construir sua trajetória, o conselho é claro: pratique o aprendizado contínuo. Atualize-se. Busque cursos, participe de seminários, faça estágios, crie redes de contato. E lembre-se: a Gestão Pública vai muito além dos concursos tradicionais. O terceiro setor, as consultorias especializadas e até as startups de inovação pública são espaços férteis para quem deseja fazer a diferença.
Planejar a carreira, hoje, não é um luxo, é uma exigência. E como bem lembrou a professora Tereza Renôr, tudo começa com perguntas fundamentais: quem sou eu, o que me move e de que forma posso contribuir? Refletir sobre isso, com os pés na prática e o olhar voltado para o impacto social, é o primeiro passo para construir uma carreira pública com propósito, relevância e significado.
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