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Em tempos de incerteza, mudanças aceleradas e pressões crescentes no mundo do trabalho, uma pergunta cada vez mais necessária se impõe a quem ocupa cargos de gestão: sou apenas chefe ou sou, de fato, alguém que inspira e mobiliza?
Essa pergunta pode parecer simples, mas carrega consigo o peso do impacto que a liderança exerce no cotidiano das organizações. Quando a resposta ainda não está clara, talvez seja o momento de voltar o olhar para um dos modelos mais respeitados internacionalmente: o Modelo da Liderança Exemplar, desenvolvido por James Kouzes e Barry Posner. Com base em décadas de pesquisa em diferentes setores e culturas, os autores identificaram cinco práticas que distinguem líderes memoráveis daqueles que apenas ocupam uma posição hierárquica. O mais interessante é que essas práticas não exigem grandes investimentos nem estruturas complexas. Elas dependem, acima de tudo, de atitude, consciência e coerência.
Tive meu primeiro contato com esse modelo durante o mestrado em Administração, quando o escolhi como referencial teórico para minha dissertação. Na ocasião, investiguei as práticas de liderança de Gilvandro Guedes, proprietário da Execut, e pude observar na prática como essas cinco dimensões se manifestam no cotidiano de um líder que inspira, engaja e transforma o ambiente à sua volta.
A primeira delas é viver aquilo que se prega. Pessoas seguem exemplos, não discursos. Um líder que cobra pontualidade, mas se atrasa, perde credibilidade. Um gestor que exige ética, mas corta caminho quando lhe convém, mina a confiança. Liderar é ser espelho. Os valores que você defende precisam estar visíveis nas suas atitudes. A congruência entre o que se diz e o que se faz é o primeiro alicerce da confiança.
Outra prática essencial é a capacidade de inspirar um propósito comum. Equipes engajadas não se movem apenas por metas ou salários. Elas se movem por significado. O líder que consegue traduzir números em impacto, que conecta objetivos à transformação, que mostra onde o trabalho da equipe toca a vida das pessoas, cria um senso de missão que atravessa as dificuldades. Já perguntou à sua equipe se ela enxerga sentido no que faz? Já falou sobre o futuro que vocês estão construindo juntos?
A terceira prática envolve a coragem de desafiar o processo. Líderes exemplares não se acomodam no “sempre foi assim”. Eles questionam métodos ultrapassados, testam novas abordagens, escutam ideias diferentes, mesmo que envolva riscos. Sabem que errar tentando inovar é bem diferente de errar por omissão. Criam um ambiente onde experimentar é possível, onde aprender com os erros é valorizado, e onde a inovação não é uma palavra bonita no plano estratégico, mas uma atitude cotidiana.
Capacitar os outros a agirem é outra marca da liderança exemplar. Um líder que centraliza tudo transmite insegurança. Já aquele que confia, que delega com clareza, que reconhece os pontos fortes de sua equipe e promove colaboração em vez de competição, cria um ambiente onde as pessoas florescem. Quando as pessoas sentem que têm voz, que podem contribuir de verdade, elas se comprometem. E quando isso acontece, o desempenho coletivo se transforma.
Por fim, liderar também é encorajar o coração. Não basta comandar processos, é preciso cuidar de pessoas. Reconhecer um esforço, celebrar uma conquista, escutar com atenção nos momentos difíceis. Pequenos gestos têm um poder imenso. Um elogio sincero, uma palavra de apoio, um agradecimento que vem do coração podem mudar não só o dia de alguém, mas o seu vínculo com o trabalho. O reconhecimento é um dos combustíveis mais potentes da motivação.
Kouzes e Posner mostram que liderança não é um cargo, é um comportamento. Não depende de títulos, mas de atitude. Qualquer pessoa, em qualquer posição, pode exercer uma liderança que faz diferença. E em um mundo tão carente de referências humanas, talvez o maior legado de um líder seja exatamente esse: ser alguém que inspira pelo exemplo, que escuta com empatia, que guia com coerência e que transforma o ambiente ao seu redor com presença e propósito.
Então eu volto à pergunta: você é o tipo de líder que as pessoas querem seguir?
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OPINIÃO - 20/05/2025