João Pessoa, 28 de dezembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

As andorinhas de Chico

Comentários: 0
publicado em 28/12/2025 ás 07h00
atualizado em 28/12/2025 ás 07h39
As andorinhas estão de volta pelas mãos do artista paraibano Chico Ferreira nesse voo que celebramos o retorno dessas aves migratórias, simbolizando o ciclo da vida, a busca por um lar, amor e a saudade, um fenômeno natural de migração, que ocorre com a mudança das estações desse Brasil despedaçado.

A exposição “Migração” inaugurada em dezembro de 2025, está aberta no Espaço Arte Brasil no saguão do Live Mall, Retão de Manaíra, do jornalista Fábio Bernardo e sócios. É o único lugar onde a arte está em toda parte. Um espaço que se multiplica como vitrine dos melhores artistas do Nordeste.

Quando vi a andorinha-azul de Chico Ferreira, lembrei de meu pai, segurando minha mão apontado: “Olhe ali a andorinha que você gosta, na torre da Igreja São José”, – o padroeiro da cidade em que eu nasci.

Eu queria ver de perto, a beleza desse pássaro que, para minha alegria, nunca o vi preso numa gaiola, como fazem com os canários e os galos de Campina. A brasilidade da andorinha é tão delicadamente mais bonita na arte de CF que o artista conseguiu reproduzir, esculpir, como se fosse o Davi de Michelangelo, tão exuberante no seu existir.

Juntas na parede como imaginou Chico Ferreira, elas surgem voando como amantes, respiram feito adolescentes, imaculadas e facilmente fazem nossas cabeças, hoje mergulhadas neste líquido assustador da luz do celular.

Silenciosas, as andorinhas de Chico Ferreira alçam voo. E a ideia, segundo o artista, era esta: mostrar a migração. Não é à toa que o nome da Mostra é Migração. Chico trouxe as andorinhas para perto de nós sertanejos, metidos a seres cosmopolitas, e eu sou um deles.

A civilidade está na obra de Chico Ferreira, nos pratos de comer, nas mulheres nas telas, nas esculturas em frente a prédios e hotéis, sua arte, sob o olhar do artesão. Sim, Chico Ferreira é um artesão, como dizemos por aí – de mão cheia.

A civilidade transgredida em sua obra vem de longe, certamente quando foi parido por Dona Creuza Barreto sob o olhar emocionado do pai, Seu Benjamin Ferreira (ambos in memoriam). Chico nasceu em Catolé do Rocha há 68 anos.

Ele é personagem da obra, da arte espelho da vida e os trabalhos de Deus. Até a fé e seu espaço tutelado.

Todos os caprichos de sua obra, podem ser explicados através do tato e até como diz Caetano Veloso, “sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela, o que é uma coisa bela”

Chico Ferreira é imenso, na sua notável habilidade em explorar temas da fauna e flora em suas obras. Quando converso com ele, aprendo e me inspiro.

Seu trabalho é conhecido no Brasil, mas ele não faz uma mostra atrás da outra, pensa antes de pintar, de fazer as esculturas genuinamente paraibanas. Até os pequenos utensílios de cozinha e de decoração.

Cheguei em casa e lá estava a andorinha-azul, numa caixa de madeira, com um oferecimento singelo. Sou grato a ele, sua mulher Camila, as filhas Capitu e Cairé.

Los extremos

Chico representa suas intervenções intermédias, entre los extremos de lugares, do tiempo. Em abril de 1990 João Pessoa amanheceu com a intervenção dos bonecos em formatos de gente, na avenida Epitácio Pessoa, cena repetida em outubro do mesmo ano, na avenida Paulista, que representavam as pessoas perseguidas e mortas pela ditadura. Uma bofetada histórica.

Kapetadas
1 – Deus é uma dona de casa.
2 – O mais doido de isso tudo é que o AMOR resolveria o problema do mundo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

[ufc-fb-comments]