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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Flora Negri
O projeto audiovisual e álbum ´Tudo Que Cantei Sou´, que celebra os 20 anos de carreira de Roberta Sá está disparado nas plataformas. O repertório foi gravado na Casa de Francisca em São Paulo – sem plateia, revisitando clássicos e músicas inéditas, acompanhada pelo bandolinista Alaan Monteiro e Gabriel de Aquino, no violão. Roberta surge sensual, um deslumbramento. Os shows vão acontecer em 2026.
O registro reúne 14 canções escolhidas a dedo, em um recorte sensível do show, e revisita canções fundamentais de sua discografia, como “Eu Sambo Mesmo” (Janet de Almeida), “Cocada” (Roque Ferreira), “Pavilhão de Espelhos” (Lula Queiroga), “Casa Pré-Fabricada” (Marcelo Camelo), “Fogo de Palha” (Roberta Sá e Gilberto Gil), “O Lenço e o Lençol” (Gilberto Gil), entre outras. Também integra o setlist “Olho de Boi” (Rodrigo Maranhão), faixa que inspirou o título do projeto, a partir do verso: “O que não falei, sim / Tudo o que cantei sou”
Mais que um álbum comemorativo, “Tudo Que Cantei Sou” direciona o olhar artístico de Roberta Sá para a importância da narrativa feminina em sua obra e marca o início de uma nova fase da cantora, que volta aos palcos com um espetáculo que une repertório escolhido a dedo, arranjos inéditos e uma leitura contemporânea das duas décadas de carreira.
A capa do foi disco criada por Phillipe Leon a partir de foto de Flora Negri,.

Essa é a segunda vez que Roberta Sá conversou com o MaisPB. Salve ela, nordestina potiguar. Leiam a entrevista e divirtam-se nesse som em que ela tudo que cantou. Ela é.
MaisPB – Linda, parecendo uma cantora dos anos 50, voz límpida, sofisticada. Roberta multiplicada. Bora começar por aqui?
Roberta Sá – Agradeço o elogio. As cantoras dos anos 50 são referências muito importantes pra mim. Linda Batista, Dolores Duran e Elizeth Cardoso sempre estiveram no meu horizonte estético e musical. Acho que toda mulher é múltipla. A gente tem muitas camadas, muitas facetas, o que também aparece no trabalho artístico. Isso ficou ainda mais claro para mim depois da maternidade. Esse disco revela uma cantora com 20 anos de trajetória, marcada por um amor profundo pela música brasileira. As “Robertas” que aparecem nele nascem desse conjunto de referências que passa pela bossa nova, pelo samba de roda, pelo samba, pela música nordestina e pela cena contemporânea carioca. É dessa soma que vem a identidade da cantora que eu busco ser.
MaisPB – Rsgate bonito: “Eu sambo mesmo”, de Janet de Almeida, que João Gilberto gravou. Vamos falar dessa?
Roberta Sá – “Eu sambo mesmo” abre o meu primeiro disco, “Braseiro”. Trazer essa canção de volta agora é reafirmar meu compromisso com o samba, que é algo muito central na minha formação e na minha sensibilidade artística. É uma música que traduz a minha relação afetiva com o gênero e a forma como eu gosto de cantá-lo.
MaisPB – A terceira faixa, “Casa Pré-Fabricada”, de Marcelo Camelo, é uma canção linda…
Roberta Sá – Essa canção também está no meu primeiro disco e, na época, tocou muito no rádio. Então, não tinha como falar de 20 anos de carreira sem passar por ela. Foi uma música que ampliou meu encontro com o público, especialmente com quem me escutava pelas rádios. É uma canção que eu adoro cantar e que fazia muito tempo que eu não cantava. Estava com muita saudade. Além disso, é uma bossa nova lindíssima do Marcelo, que segue muito atual.
MaisPB “Virada”, de Manu da Cuíca e Marina Iris, é uma canção que acorda a gente, mesmo quando a página é virada, né?
Roberta Sá – “Virada” fala de amor, de luta e de transformação. É uma canção sobre amar em liberdade e sobre renascer depois de um amor que não deu certo. Pra mim, ela fala muito desse lugar de recomeço.
MaisPB – Já “Lavoura” é uma surpresa, uma canção muito bonita. É outra pancada no amor, né?
Roberta Sá – “Lavoura” fala muito do processo de criação. É uma música sobre o gesto de compor, de transformar experiências e sentimentos em canção. Ela é da Teresa Cristina com o Pedro Amorim e eu gravei no meu primeiro disco. Tenho muito orgulho dessa gravação. A escrita da Teresa é muito singular e ela também não poderia faltar nessa celebração de 20 anos de carreira.
MaisPB “Eu juro que não juro nunca mais”… Que canção é “Juras” (Saudade Louca), de Fernando de Oliveira e Rosa Passos. Vamos falar sobre ela?
Roberta Sá – A Rosa Passos é uma artista que me inspira profundamente. Ela tem uma trajetória muito consistente faz shows arrebatadores. “Juras” é uma canção que eu adoro e que faz parte da minha coleção de afetos. Gravá-la é uma homenagem singela a essa mulher que eu admiro tanto e que me forma como cantora, como artista e como mulher.

MaisPB – A capa do disco, assinada pelo designer Philippe Leon, com foto da Flora Negri, lembra capas clássicas de Nina Simone e Ella Fitzgerald…
Roberta Sá – A ideia era ter um disco com essa carinha de clássico mesmo. Um trabalho que dialoga com a tradição, com a ideia de permanência. É um disco regional nesse sentido, um disco clássico, sim.
MaisPB – Duas canções lindas: “O Lenço e o Lençol”, do Gil, e “Fogo de Palha”, dele com você. Conta mais pra gente?
Roberta Sá – “Fogo de Palha” é uma parceria minha com o Gil e fala desse lugar afetivo que eu tenho com o Nordeste. Eu sou de Natal, no Rio Grande do Norte, e minhas memórias musicais mais fortes estão ligadas a esse universo do São João, das festas populares, da fogueira. “O Lenço e o Lençol” é uma canção em que o Gil faz uma observação muito bonita sobre a figura feminina. Eu acho que é uma canção feminista, fala de empoderamento, e me sinto muito empoderada quando canto essa música.
MaisPB – Muito boa a equipe desse projeto, né? Pedro Seiler, Guta Tolhuizen, Alaan Monteiro, Gabriel de Aquino, Fernanda David…
Roberta Sá – É uma equipe que trouxe muito talento, dedicação e escuta. A Fernanda David é uma parceira fundamental, tanto na gestão quanto na construção desse trabalho. O Pedro, o Guta, o Alaan e o Gabriel são homens que escutam mulheres, que respeitam mulheres. Hoje, pra mim, é essencial trabalhar com mulheres ou com homens que tenham essa escuta e esse respeito.
MaisPB . Vinte anos na estrada… Que venham muito mais, né?
Roberta Sá – Eu desejo seguir cantando muito, porque cada vez gosto mais de cantar e de estar no palco. Isso tem ficado mais leve pra mim, o que é muito precioso. Quero continuar tendo a oportunidade de encontrar o meu público, de cantar com liberdade e constância. Estou muito satisfeita. Sou uma cantora satisfeita e quero seguir fazendo meu trabalho e fortalecendo esse encontro com quem me acompanha.
BOLETIM DA REDAÇÃO - 16/12/2025