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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Não acenda o fogo da cozinha apenas no Natal

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publicado em 15/12/2025 ás 20h42

Nos dias atuais, com a correria desenfreada na busca do “ter”, pois é isto que o modelo social consumista vigente prega, está mais difícil reunir os membros do grupo familiar. E esta falta de encontros rotineiros, de preferência em volta da mesa da cozinha, como acontecia em tempos passados, torna mais complexa esta importante missão, fundamental para a construção da interação e união familiar.

Com o advento do Natal tais encontros são mais fáceis, haja vista que, neste período, tradicionalmente as famílias se juntam para a ceia natalina. Mas, que bom seria que estas reuniões fossem mais frequentes e não pontuais como ultimamente é a praxe.

Recentemente li nas redes sociais um belo texto intitulado: “quando a cozinha se apaga em casa”, de autoria de Ruy Torres, e achei muito pertinente a quem peço licença para usar alguns trechos da sua referida crônica.

Para nós que habitamos o mundo ocidental, culturalmente a cozinha é frequentemente referenciada como o “coração da casa”, e assim sendo, deve ser o ponto de referência para as reuniões familiares, ou pelo menos deveria ser. Sentar à mesa com a família ajuda a melhorar a comunicação e a fortalecer vínculos familiares além de promover hábitos alimentares saudáveis.

A própria Bíblia Sagrada em várias passagens narra a importância da comunhão à mesa.  Uma delas está em Mateus 9:10-11, de onde podemos tirar a mensagem de que Jesus sentava a mesa com pecadores para mostrar misericórdia, o que reforça a importância das reuniões familiares e de amigos em volta da mesa.

As refeições em família, como já citado, estimulam o diálogo, promovendo um tempo de qualidade essencial para o bom relacionamento familiar. Também são importantes para a criação de memórias afetivas e para a manutenção de tradições gastronômicas que podem ser passadas de geração a geração.

Segundo narra Ruy Torres, na década de 1980, quando o hábito de cozinhar em casa diminuiu nos Estados Unidos da América e a tendência de pedir comida de fora aumentou, alguns economistas alertaram: “Se o governo assumir o cuidado das crianças e dos idosos, e as empresas privadas também passarem a cuidar da preparação das refeições, a estrutura familiar vai enfraquecer.”

Naquele tempo poucas pessoas deram atenção a este alerta. Em 1971, 71% dos lares americanos tinham marido, esposa e filhos vivendo juntos. Hoje, restam apenas 20% desse tipo de família.

Em relação à taxa de divórcio: 50% no primeiro casamento, 7% no segundo e 74% no terceiro. Isso não é acaso – é o custo social de fechar a cozinha e, consequentemente, apagar o fogão, segundo afirma Torres.

Cozinhar não é apenas uma tarefa doméstica, mas sim o elo que ajuda a manter o sistema familiar unido. O ato de cozinhar para outra(s) pessoa(s), é um gesto de carinho e cuidado, e alimentar quem amamos vai além da necessidade biológica, é uma demonstração de amor que fortalece o sentimento de pertencimento na família.

A comida caseira não é apenas nutrição – é amor, conexão e conforto. Quando as famílias se sentam juntas para comer, os corações se aproximam, as crianças aprendem hábitos familiares e sociais com os mais velhos e os relacionamentos se tornam mais suaves e calorosos. Mas, quando cada um come sozinho, as casas viram pousadas, e as famílias se tornam tão formais e distantes quanto os amigos de redes sociais.

Hoje, a mídia patrocinada pelas empresas, nos diz o que comer, e onde comer, e a indústria farmacêutica nos convence a consumir medicamentos, vitaminas e suplementos alimentares sem estarmos necessitados destes produtos. Fazem negócios e se locupletam com a promessa de “nos manter saudáveis”. A verdade é que a indústria farmacológica não quer que o indivíduo morra, mas não tem nenhum interesse que este fique bom e pare de consumir medicamentos.

Nossos avós levavam comida feita em casa para o trabalho e até mesmo quando viajavam. Hoje achamos mais fácil pedir de fora, mesmo quando estamos em casa e com a geladeira abastecida de comidas.

Portanto, sugiro que aproveitemos o período natalino, ocasião em que as pessoas estão mais sensíveis e fraternas para retomarmos antigos e saudáveis costumes, dentre estes, as reuniões familiares em volta da mesa da cozinha. Como bem disse o escritor Francisco de Azevedo: “Família é um prato que quando se acaba nunca mais se repete”. Assim sendo, ainda há tempo – acenda a cozinha, não apenas o fogão, reavive não apenas os relacionamentos e relações familiares, também a sua saúde física e emocional.

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* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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