João Pessoa, 20 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há dores que não gritam — apenas se instalam.
Vão ficando ali, no canto da alma, como uma ferida que parece cicatrizada, mas que, de vez em quando, volta a arder.
Às vezes, o pior não é o erro que cometemos — é o erro que acham que cometemos.
É ver alguém construir uma história que nunca existiu e, mesmo com todas as explicações, preferir acreditar na própria imaginação.
E, então, o amor se transforma em tribunal, e o lar vira palco de uma penitência silenciosa.
A pessoa diz que perdoou.
Sorri, abraça, até repete que “tudo ficou no passado”, mas o que perdoou, na verdade, não foi um fato — foi uma suposição.
E, nas entrelinhas do gesto, há um tom ácido, uma lembrança jogada ao acaso, uma insinuação disfarçada de conversa pra boi dormir.
O castigo vem — não em gritos, mas em silêncios.
Não em discussões, mas em olhares frios, na falta de ternura, na ausência de um “como foi seu dia?” dito com alma.
É o perdão que pesa mais que a culpa.
Aquele que diz “eu te amo”, mas se vinga devagar, dia após dia, como quem rega o ressentimento com aparente doçura.
Mas, sabe, chega uma hora em que é preciso acordar.
Mesmo que não haja culpa, não é justo carregar a pena de um julgamento alheio.
O amor que se diz amor não deve aprisionar — deve libertar.
E se o outro prefere torturar em vez de curar, é sinal de que o amor virou ego, e o companheirismo virou controle.
Ninguém merece viver na sombra de uma dúvida.
Porque a alma também tem o direito de renascer, de se perdoar, de seguir leve — mesmo quando nunca houve o que perdoar.
Quem é verdadeiro já pagou o preço — o da consciência tranquila, o da dor de ser mal interpretado, o da lágrima que só o travesseiro viu.
Então, se alguém usa o passado pra te ferir, não aceite o papel de ré.
Levante-se.
Reescreva sua própria história.
Quem te ama de verdade não te acusa — te entende.
Não te castiga — te acolhe.
O amor que liberta é o único que vale a pena permanecer.
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