João Pessoa, 08 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Hoje é oito de outubro, e o sol parece nascer mais quente só pra lembrar que aqui é Nordeste, terra de boa gente.
Terra de gente que acorda cedo, bota o pé no chão, ajeita o chapéu e vai pra luta com fé e coragem no olhar.
Ser nordestino é carregar dentro da alma uma cantoria antiga que o vento não leva.
Nordestino é bicho teimoso cai, levanta e ainda agradece. Bom dia, boa tarde, já vou dormir.
É quem vive a dor da seca e do pouco, faz uma festa.
É aquele que não perde o humor nem quando o chão racha, nem quando o destino aperta.
É um povo que aprendeu com o sol a resistir de cabeça erguida, o sol na moleira, com um sorriso que desafia o tempo.
Sou nordestina e sertaneja, nascida entre mandacarus e esperanças, filha desse chão que ensina mais do que qualquer escola: ensinou-me a viver.
Aqui a gente mede o tempo pelo cheiro da chuva, pelo canto do galo, pela conversa na calçada.
E aprende, desde cedo, que fé não se explica, é luz.
Porque aqui, desistir é verbo que a língua não conjuga.
O sertanejo tem uma alma sagrada.
Carrega na pele o sol e, no coração, uma ternura que o tempo não consegue endurecer.
É uma raça forte, honesta e digna, que enfrenta a vida sem perder o brilho do olhar.
Mesmo cansado, o sertanejo não se dobra ele reza, suspira, respira fundo e segue.
Sabe que tudo passa, até a dor que lateja.
E se o dia amanhece difícil, ele faz uma prece.
É gente que honra a palavra, que reparte o pouco que tem, que planta esperança até nas terras mais secas.
O sertanejo é assim: se o chão nega, ele insiste; se o céu cala, ele canta.
Quando penso nesse dia, lembro dos amigos que carregam o Nordeste dentro da alma tantos e tantos que formam um exército de fé, cultura e ternura.
Irismar, homem de palavra firme e coração grande, que vive o sertão com o respeito de quem conhece suas dores e seus encantos.
Kubitschek Pinheiro, cronista danado de bom, que escreve a vida como quem conversa sob o alpendre.
Bira Delgado, cantador de alma bonita, que não apenas canta — ele traduz o Nordeste em voz e sentimento, como se cada verso fosse retirado do coração do povo.
E tantos outros e outras, espalhados por esse Brasil, levando o som e o sotaque do Nordeste pra todo canto.
O Nordeste é isso: um só coração batendo em nove ritmos diferentes.
Tem o frevo que balança o corpo, o forró que esquenta a alma, o baião que é reza dançada.
Tem o cheiro do café coado, o gosto do milho assado, o riso fácil e a coragem que não arreda o pé.
Ser nordestino é viver entre a dureza da terra e a doçura da alma.
É saber que o sol castiga, mas também aquece.
Que o chão é seco, mas fértil de fé.
Que a vida é dura, mas, ô vida bonita de se contar!
E hoje, nesse 8 de outubro, eu ergo meu olhar pro céu do sertão e digo com orgulho:
sou filha do Nordeste, sou feita de coragem, reza e poesia.
Coração Arretado
Sou filha desse sertão,
de chão rachado e poeira,
onde o sol nasce mandando,
e a fé chega na beira.
Sou da terra do aboio,
do forró e do repente,
sou do povo que trabalha
com o coração valente.
Trago o canto da esperança
no peito e na lembrança,
sou mulher de luta e fé,
nascida em meio à bonança.
Tenho a lua por parceira,
e o vento por confidente,
sei sorrir mesmo cansada,
sei seguir, mesmo descrente.
Sou do tipo que não nega
a raiz nem a bravura,
que planta sonho em pedreira
e colhe amor na secura.
Sou cabocla, sou guerreira,
sou verso e devoção.
Hoje é oito de outubro —
Dia do Nordestino —
e esse sertão de minha vida
bate dentro do coração.
Antônia Claudino
João Pessoa, 8 de outubro de 2025
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
DIZ MP - 06/10/2025