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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Ana Cañas provocou maravilhas em mim

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publicado em 06/09/2025 ás 07h00
atualizado em 06/09/2025 ás 11h11

O nome dela é Ana Paula Hipólito Cañas, nasceu em São Paulo, em 1980.  Cantora e compositora, estudou artes cênicas pela Escola de Comunicação de Artes da USP e não tem papa na língua.

No dia 14 deste mês, ela chega aos 46 anos. Só poderia ser de Virgem, virgem nenhuma.

Uma performance escandalosa e maior do que Deus ninguém. Um grão, um embrião e nenhuma nota fora do tom. Dançando com o vento de Caymmi.

Parece que veio das ilíadas clandestinas, da febre que percorre o mundo das moças só pensam em namorar, da canção do Gonzaga. Ana Cañas é foda e o leite mal na cara dos caretas.

No palco do Teatro Paulo Pontes, na noite da última quinta-feira, no Projeto Seis e Meia, ela cantou emocionada, chorou e engoliu as lágrimas,  dura na queda, quase o desgosto de filha, da canção de Djavan.

Minimalista –  fiquei a imaginar Ana de camisa branca manga longa, sem nada por baixo, acima da linha do Equador, sem pecados e longe do circo dos horrores ao anunciar: 1964, nunca mais.

Uma menina que entregava panfletos nos sinais fechados de São Paulo, que perdeu um irmão, perdeu o pai para o alcoolismo e tempos depois, reencontrou a mãe e tudo isso é dito por ela no palco.

Ana Cañas provocou em mim maravilhas, ao pulsar o mundo é um moinho de Cartola na metamorfose ambulante de Raul Seixas;  as canções mais belas de Belchior e Rita Lee  Ana Cañas ali, aos meus pés, aos pés da santa cruz e ainda falou meu nome durante o show e não foi a primeira vez. Já entrevistei ela várias vezes.

Era o céu sobre nós, a mulher mais bonita da música brasileira, fogo e brasa, cedo e tarde, e não tinha calor melhor em nenhum lugar. Nem Nero ousaria imginar.

Cantou melhor que o galo, quando era noite e nem  o dia já raiou, outro dia já morreu e o menina das profundezas da pauliceia desvairada, discipula de Oswald de Andrade, criou sozinha seu manifesto.

Parecia guardar a festa para a noite seguinte. Não, não existe amor em SP, não existe amor em São Paulo, um  labirinto místico, onde os grafites gritam e Criolo está certo, não existe amor em SP.

Solando as canções na presença exata de existir, uma aurora indecisa, precisa, boreal.

Do disco novo cantou ´Vida Real´, nos levando intimidades,  mais que isso, a poesia, que é a resposta das crianças da canção de Gonzaguinha

“Eu vi a bondade nos olhos
Do homem na rua
Que não tinha casa

Senti o amor das pessoas
Que muito têm
Porque não possuem nada

Eu vi a mulher
Da vida vivida
Sozinha me estender a mão

Na esquina da noite escura
Foi aquela mulher
Que me deu o pão”

Ana Canas conquistou seu lugar e a vida lhe deu a melhor resposta, o palco.

Salve, salve!

Kapetadas

1 – A janta vai virar café da manhã – tô acordado até hoje.

2 – Se falar meia dúzia de idiomas fosse sinal de sabedoria, papagaio viveria de palestras sobre Nietzsche.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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