João Pessoa, 06 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O nome dela é Ana Paula Hipólito Cañas, nasceu em São Paulo, em 1980. Cantora e compositora, estudou artes cênicas pela Escola de Comunicação de Artes da USP e não tem papa na língua.
No dia 14 deste mês, ela chega aos 46 anos. Só poderia ser de Virgem, virgem nenhuma.
Uma performance escandalosa e maior do que Deus ninguém. Um grão, um embrião e nenhuma nota fora do tom. Dançando com o vento de Caymmi.
Parece que veio das ilíadas clandestinas, da febre que percorre o mundo das moças só pensam em namorar, da canção do Gonzaga. Ana Cañas é foda e o leite mal na cara dos caretas.
No palco do Teatro Paulo Pontes, na noite da última quinta-feira, no Projeto Seis e Meia, ela cantou emocionada, chorou e engoliu as lágrimas, dura na queda, quase o desgosto de filha, da canção de Djavan.
Minimalista – fiquei a imaginar Ana de camisa branca manga longa, sem nada por baixo, acima da linha do Equador, sem pecados e longe do circo dos horrores ao anunciar: 1964, nunca mais.
Uma menina que entregava panfletos nos sinais fechados de São Paulo, que perdeu um irmão, perdeu o pai para o alcoolismo e tempos depois, reencontrou a mãe e tudo isso é dito por ela no palco.
Ana Cañas provocou em mim maravilhas, ao pulsar o mundo é um moinho de Cartola na metamorfose ambulante de Raul Seixas; as canções mais belas de Belchior e Rita Lee Ana Cañas ali, aos meus pés, aos pés da santa cruz e ainda falou meu nome durante o show e não foi a primeira vez. Já entrevistei ela várias vezes.
Era o céu sobre nós, a mulher mais bonita da música brasileira, fogo e brasa, cedo e tarde, e não tinha calor melhor em nenhum lugar. Nem Nero ousaria imginar.
Cantou melhor que o galo, quando era noite e nem o dia já raiou, outro dia já morreu e o menina das profundezas da pauliceia desvairada, discipula de Oswald de Andrade, criou sozinha seu manifesto.
Parecia guardar a festa para a noite seguinte. Não, não existe amor em SP, não existe amor em São Paulo, um labirinto místico, onde os grafites gritam e Criolo está certo, não existe amor em SP.
Solando as canções na presença exata de existir, uma aurora indecisa, precisa, boreal.
Do disco novo cantou ´Vida Real´, nos levando intimidades, mais que isso, a poesia, que é a resposta das crianças da canção de Gonzaguinha
“Eu vi a bondade nos olhos
Do homem na rua
Que não tinha casa
Senti o amor das pessoas
Que muito têm
Porque não possuem nada
Eu vi a mulher
Da vida vivida
Sozinha me estender a mão
Na esquina da noite escura
Foi aquela mulher
Que me deu o pão”
Ana Canas conquistou seu lugar e a vida lhe deu a melhor resposta, o palco.
Salve, salve!
Kapetadas
1 – A janta vai virar café da manhã – tô acordado até hoje.
2 – Se falar meia dúzia de idiomas fosse sinal de sabedoria, papagaio viveria de palestras sobre Nietzsche.
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PARA 2026 - 05/09/2025