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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Zé Mário

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publicado em 03/09/2025 ás 07h00
atualizado em 02/09/2025 ás 17h30

Conheço José Mário da Silva Branco (para mim, Zé Mário), desde os idos de oitenta do século passado. Era tempo dos famosos congressos de Teoria e Crítica Literária, organizado por Elizabeth Marinheiro, em Campina Grande (para mim, sempre a Serra neblinada…).

Zé Mário era um de seus colaboradores na gigantesca tarefa de reunir poetas, escritores, ensaístas, professores, intelectuais daqui e de alhures, no fito de participar de um amplo e frutífero debate em torno das coisas estéticas da escrita e da literatura.

Mais tarde o tive como aluno regular ao lado de Astier Basílio, aluno especial, num curso de mestrado no qual estudamos seis poetas nordestinos, a saber: Vanildo Brito, Alberto da Cunha Melo, Nauro Machado, Francisco Carvalho e Luís Carlos Guimarães. Ambos, Zé Mário e Astier, digo, sem nenhuma ardileza retórica, hoje são meus mestres.

Zé Mário sempre foi dado ao exame exegético das obras de autores locais, sem descurar, contudo, de estender seu olhar crítico e empático a autores de outras regiões do país. Faz aquela leitura jornalística, embora forrada com ingredientes teóricos que soube beber e preservar a partir de suas pesquisas acadêmicas e do seu dedicado ofício didático na sala de aula.

Tive a oportunidade e o privilégio de compor a banca examinadora na defesa de seu mestrado em literatura brasileira. Sua dissertação analisa a poesia de Antônio Morais de Carvalho, poeta campinense, autor de dois livros, Persona (1982) e Jogo de sentidos (1986), também criador, com José Antônio Assunção, da Revista Garatuja, órgão responsável pela revelação de algumas das vozes literárias mais importantes da literatura paraibana.

Zé Mário seguiu os rastros de sua mestra e grande referência, professora Elizabeth Marinheiro, no que concerne ao espectro de seus repertorio crítico, reservando, pois, um compartimento singular para estabelecer o diálogo heurístico com os escritores da terra.

No Correio das Artes, no Jornal da Paraíba e em A União, vem exercitando contínua e sistematicamente a árdua e má compreendida atividade de crítico literário, sempre se debruçando sobre livros e autores com aquela marca da larga e simpática recepção crítica, tão valorizada, por exemplo, por um Alceu Amoroso Lima, no decisivo apostolado posto em prática em torno dos autores modernos e modernistas.

Fiz parte da Comissão Julgadora, quando de seu concurso para professor da Universidade Federal da Paraíba, Camups II, Campina Grande, ocasião em que foi aprovado em primeiro lugar. Desde então, Zé Mário vem desempenhando a função de professor de literatura brasileira, com desvelo e competência, estimulando, decerto, em seus alunos e alunas, a sagrada paixão pela coisa literária.

Com um pé na Academia e com outro no jornalismo cultural, é nome consolidado no campo das letras paraibanas. De sua militância jornalística já poderia ter extraído, se coligidos e selecionados seus artigos de fundo, alguns volumes de indiscutível relevância para a crítica e para a história literária paraibana e brasileira.

Sobre mim mesmo, a minha poesia, a minha crônica, a minha crítica, o meu jornal literário, escreveu uma série de textos apreciativos, que poderiam muito bem resultar numa robusta coletânea. Fez, para os dois volumes da poesia reunida do irrequieto e talentoso maranhense Luís Augusto Cassas, um prefácio longo e denso que dá bem a medida de seu tirocínio de leitor arguto e experiente.

Foi por estas e por outras virtualidades que sufraguei seu nome, quando de sua eleição para a APL, Academia Paraibana de Letras, para ocupar a cadeira número 35, cujo patrono é o poeta e jurista Raul Campelo Machado; o fundador, José Américo de Almeida; seus antecessores, Odilon Ribeiro Coutinho e Ariano Vilar Suassuna.

Zé Mário é presbítero da Igreja Presbiteriana de Campina Grande e sabe ler a Bíblia como ninguém. Sabe, como poucos, operar as conexões semânticas entre o texto literário e o texto religioso, numa leitura por dentro das palavras, fundindo fé e razão numa rigorosa lógica interpretativa que ensina e esclarece. Nesta seara, publicou, em 2006, Ressurreição, opúsculo de meditação teológica que busca orientar os que optam pelo caminho de Cristo.

Mínimas leituras, múltiplos interlúdios, de 2002, com prefácio de Ricardo Soares, é seu primeiro livro de crítica literária. Os abismos do ser, de 2009, é o segundo, por mim prefaciado. Ali, afirmo a certa altura o seguinte:

“O traço pedagógico e corretivo da boa crítica permanece vívido nessas páginas. A curiosidade do leitor inquieto também se entremostra, aqui e ali, no processo de decodificação do poema, da crônica, do ensaio. A força do juízo, mas juízo de reflexão, sedimentado na teoria, como postulava Immauel Kant, se impõe na qualificação das obras, sem adulterar ou danificar a unidade estética”.

Passados tantos anos, assino este parágrafo, sem tirar nem pôr qualquer palavra, pois Zé Mário faz jus à verdade de seus sentidos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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