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Francisco Leite Duarte é advogado tributarista, auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, doutor em direitos humanos e desenvolvimento. Na Literatura, publicou os romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias (“Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas.

A evolução do mentiroso

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publicado em 15/08/2025 ás 09h47
atualizado em 15/08/2025 ás 09h48

Sou de uma época em que o mentiroso, embora não controlasse sua compulsão pela mentira, apesar do contragosto manifesto, se envergonhava quando desmascarado.

Essa constatação se expunha de vários modos no farsante: o baixar a vista, o sorriso fino e nervoso, o rubor facial, o mexido frenético das mãos, o encolhimento dos ombros, a voz que tremulava, uma arrogância contida que nele crescia para disfarçar suas investidas mal sucedidas. O aldrabão ainda tinha certa vergonha nas fuças.

O mentiroso não conhecia o disparate que, adiante, um tipo de gente escrota implantou no país. Ainda que armasse e muito amasse suas mentiras, guardava, no recôndito da alma, alguma dignidade, uma época em que a esperança ainda sonhava em bater as asas em busca da salvação.

Era como o pobre de outrora. Embora, muitos deles, tenham sido abduzidos pelo canto de sereias anticomunistas, ainda assim, eram pobres civilizados, pobres maria-vai-com-as-outras, mesmo que, no auge da lavagem cerebral promovida pela doutrina da segurança nacional, tenham desfilado nas fileiras da Família, Tradição e Propriedade (FTP).

Ah, os mentirosos de outrora eram de outro naipe, meio atrapalhados. Se, vez ou outra, como as galinhas, punham raposas nos seus galinheiros, eram, quase sempre, por ignorância, ingenuidade, analfabetismo.

O pobre de hoje, não. Um mentiroso convicto, autêntico, pedante, arrogante, prepotente, venal, asqueroso, inimigo da nação. De seus celulares e outros raios de atuação, exponencia suas inverdades, proclamando-as diante de um pneu, o Messias deles. A elite predadora do país adora. A classe média, como o pobre de direita, apenas ajusta seu discurso com um verniz intelectualizado, mas continua sendo um pobre de marré, marré.

Orgulha-se da estupidez e, mentindo à beça, defende suas propensões fascistas com mugido e tudo. Se necessário, fica do lado dos Estados Unidos e apoia, incondicionalmente, traidores da Nação, nem que lasque o próprio fiofó numa dessas investidas da cacatua americana.

A coisa está feia mesmo. Produto de exportação, muitas vezes a prática mentirosa descamba para a prática criminosa. Descarados!

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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