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Turismo de Aventura: Emoção que Exige Respeito à Vida
O turismo de aventura tem ganhado espaço entre os brasileiros que buscam experiências intensas, contato com a natureza e uma boa dose de adrenalina. Trilhas, rapel, escaladas, mergulhos e saltos de paraquedas transformaram-se em verdadeiros atrativos turísticos, movimentando a economia em diversas regiões do país, inclusive no Nordeste. No entanto, por trás da beleza dos cenários e da emoção das práticas, há um tema que precisa ser debatido com seriedade: o risco real de morte nos esportes radicais.
Não se trata de alarmismo, mas de responsabilidade. A busca por superação pessoal, muitas vezes alimentada pelas redes sociais e pelo desejo de registrar momentos épicos, pode levar algumas pessoas a ignorar os cuidados mínimos com segurança. A prática de esportes de alto risco exige preparo técnico, equipamentos adequados, suporte de profissionais qualificados e, acima de tudo, respeito aos próprios limites. O que deveria ser uma experiência transformadora pode, sem esses cuidados, terminar em tragédia.
Recentemente, casos de acidentes fatais durante atividades de aventura têm ganhado destaque na imprensa, como o da brasileira Juliana Marins que caiu durante uma trilha no vulcão do Monte Rinjani na Indonésia, reacendendo o debate sobre regulamentação, fiscalização e conscientização. Embora a prática desses esportes seja legal e até incentivada em muitos destinos turísticos, nem sempre há estrutura suficiente para garantir que as experiências aconteçam dentro dos padrões de segurança necessários. Muitas vezes, a informalidade impera, e o barato pode sair caro ou mesmo fatal.
Na Paraíba, temos cenários exuberantes que atraem praticantes de voo livre, trilheiros, escaladores e mergulhadores. O Lajedo de Pai Mateus, o litoral de águas profundas e as serras do Brejo se tornaram pontos de encontro para quem busca natureza e emoção. Mas é preciso lembrar que cada atrativo precisa estar preparado para receber turistas com diferentes níveis de experiência, o que exige sinalização, orientação e presença de equipes treinadas para lidar com emergências.
A emoção não precisa ser inimiga da cautela. Ao contrário, é o preparo que torna a aventura ainda mais prazerosa. Saber que o equipamento foi revisado, que o instrutor tem certificações válidas e que há um plano de evacuação em caso de acidente proporciona uma segurança mental que potencializa o aproveitamento da experiência. Não há nada de fraco ou medroso em perguntar, investigar e se certificar antes de se lançar ao desconhecido.
Outro ponto importante é a autorresponsabilidade. A aventura não deve ser encarada como desafio contra a morte, mas como encontro com a vida em sua forma mais vibrante. Para isso, é fundamental que o praticante conheça seus próprios limites físicos e emocionais. Pressões externas, como expectativas de amigos ou curtidas virtuais, não devem guiar decisões que envolvem riscos reais. A coragem verdadeira está em respeitar-se.
As empresas e operadores de turismo de aventura também têm papel essencial nessa equação. Elas devem seguir normas da ABNT, exigir exames médicos quando necessário, manter protocolos de primeiros socorros atualizados e garantir que todos os profissionais estejam capacitados. A profissionalização do setor é o caminho para oferecer experiências intensas e seguras, transformando o turismo de aventura em uma atividade sustentável e de credibilidade.
O poder público, por sua vez, precisa fortalecer a fiscalização e apoiar a capacitação técnica de guias, monitores e empresários do setor. Programas de certificação e campanhas educativas podem salvar vidas. Assim como em outros segmentos turísticos, o cuidado com o visitante é parte da reputação do destino. Um acidente grave, além de impactar famílias, pode comprometer toda uma cadeia produtiva.
Ao escolher viver uma experiência de aventura, o turista está dizendo sim à vida, à natureza e à própria superação. Mas esse sim precisa vir acompanhado de consciência. Emoção, beleza e risco coexistem nesses cenários, e a linha entre o êxtase e a tragédia pode ser tênue quando o cuidado é negligenciado. Valorizar a vida é também preparar-se para vivê-la intensamente e com responsabilidade.
Que cada trilha, salto ou mergulho seja uma celebração da nossa conexão com o mundo, não um ponto final prematuro. A aventura deve nos transformar, e não nos apagar. Que o desejo de viver momentos únicos nunca nos faça esquecer o valor do que temos de mais precioso: a própria vida.
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OPINIÃO - 10/07/2025