João Pessoa, 11 de julho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Morre um pouco, de mansinho, quem se esconde atrás da rotina como quem veste um luto antes da hora.
Quem acorda todos os dias com o mesmo suspiro cansado, tomando o mesmo café morno, olhando a vida passar pela janela sem nunca abrir a porta.
Morre quem tem medo do novo, medo do riso solto, medo do abraço longo.
Quem não ousa mudar o trajeto, trocar de caminho, mudar a cor da parede ou o corte do cabelo.
Quem acha que já viveu o bastante pra não se surpreender mais com nada.
Morre aos poucos quem cala a própria voz pra caber na expectativa alheia.
Quem se esvazia tentando preencher os outros.
Quem vive na pressa e nunca tem tempo de ver o pôr do sol, de escrever uma carta, de ouvir uma canção até o fim.
Vai morrendo também quem não perdoa, quem carrega mágoas como pedras nos bolsos, quem não dança por medo do ridículo, quem não diz “eu te amo” por orgulho.
Quem só olha pra baixo, contando os passos, sem perceber que o céu ainda está ali, azul por cima da cabeça.
De mansinho, se morre todos os dias quando se esquece que viver é um verbo que exige coragem.
É verbo de salto no escuro, de gargalhada alta, de coração que se entrega mesmo sabendo que pode doer.
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“De mansinho se morre” é um ditado popular português que significa que a morte pode chegar de forma gradual e inesperada, mesmo que não haja sinais evidentes de doença ou sofrimento. A expressão sugere que a vida pode ser interrompida a qualquer momento, sem que haja um aviso prévio.
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OPINIÃO - 10/07/2025