João Pessoa, 21 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Tem gente que não morre!
Me dizia o meu amigo, Bebé de Natércio, numa elástica, íntima e saborosa prosa no Bar de Baiano.
Claro, tem gente que não morre!
Decerto não é o meu vizinho do lado direito, que já morreu, faz tempo, e cuja morte me deu o prazer de comemorar, soltando fogos de artifício no meio da rua. Como Graciliano Ramos, não sou chegado a vizinhos, reunião, música cacete e muito menos a mau caráter.
Não é aquela primeira professora que me dava bolos de palmatória e tinha uma crespa verruga no nariz. A maldade e o castigo juntos, numa didática doentia que muitas sequelas me deixou.
Não é aquele tio que nos surripiou a todos. Mentiroso, cafajeste, perdulário. Nem aquela velha tia, desarvorada, caquética, um poço de amargura e ressentimento. Tia que padeceu o mofo do caritó. Velha branca e seca, parecia uma anja às avessas, despudorada, revoltada com o mundo e com as criaturas, pessoa tóxica, pura peçonha, lacraia pura, puro escorpião, pura inveja, paranoia pura!
Ainda bem que tem gente que não morre!
Camões, por exemplo, nunca morreu nem nunca morrerá. Ontem mesmo, declamei seus sonetos numa mesa de bar. Quem me ouvia sabia da existência do poeta, de sua presença real nessa república da mentira, nesse país de gente simples e de elites perversas. Afinal, quem é que não sabe que o amor é fogo que arde sem doer, ferida que dói e não se sente? Como Camões está vivo!
Essa gente não morre!
Fernando Pessoa morreu? Claro que não. Fernando se multiplica na biografia de seus heterônimos e sempre reparte, comigo, o sabor do vinho, seu desassossego, a teosofia, o sal e a lágrima de Portugal.
Tenho absoluta certeza de que Augusto dos Anjos, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Eulajose Dias de Araújo, Lúcio Lins, Magno Meira, Marcos Tavares nunca morreram.
Essas pessoas não morrem!
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OPINIÃO - 20/05/2025