João Pessoa, 19 de junho de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se você aprecia o equilíbrio melódico da terça rima na Divina comédia e tem interesse pela vida conturbada de Dante, seus sonetos líricos, seu ensaísmo político, suas meditações teológicas, fatos, eventos, conflitos, cidades, desgostos e tantos outros ingredientes de sua trajetória, venha falar comigo.
Também me perdi no meio do caminho dessa vida, apesar de crer, como o ilustre florentino, que o amor move o sol e as outras estrelas.
Se você se dá ao prazer de longos passeios solitários, sobretudo à beira mar ou à beira rio, escutando o murmúrio ancestral da natureza, divisando os pássaros entre cantos e nuvens, paisagens isoladas cheias de árvores, sombras e vazios; e se é tarde e se já se desenham as cores do crepúsculo, e, por dentro das cores do crepúsculo, formam-se lentamente os fantasmas da noite sem fronteiras, venha prosear comigo.
Sou dado à fúria e ao calor dos elementos, ao sossego anônimo dessas horas caladas e únicas.
Se você Já leu Baudelaire, Whitman, Pessoa e Borges, isto é, leu e lê, como se se entregasse a um ritual sagrado tocado pelo êxtase de intensas descobertas e convicto de que certas ideias, certos motivos, certas repetições, certas verdades, certas belezas se misturam pela floresta das palavras, pela força das imagens, pelo encanto da música, pelo enigma dos significados, venha compartilhar comigo.
Sou dos que amam certos autores como irmãos de família ou como pais que me abriram as rotas do verso e os portais da poesia.
Se você não se escandaliza com a sorte do vizinho, nem estima o tempo perdido das reuniões, nem gosta de que pronunciem o nome de Deus em vão, não frequenta igrejas, não pertence a clubes, grupos, irmandades ou sociedades secretas, e se nunca se dá ao trabalho da bajulação, do proselitismo, dos atos politicamente corretos, venha conversar comigo.
Também detesto esse lado mesquinho e hipócrita de se conduzir na vida social e com o qual muitos se comprazem.
Se você é leitor de romances e sabe que o romance não é uma novela, assim como a novela não é um conto, assim como um conto não é uma crônica, assim como uma crônica não deve ser confundida com um artigo, o que demonstra, por isto mesmo, que você conhece os segredos das categorias teóricas da crítica literária e não engole gato por lebre, venha discutir comigo.
Certos conceitos acadêmicos possuem a sua utilidade, e, de outa parte, ninguém faz nada sem a didática nem a disciplina.
Se você cultiva os saberes históricos, em particular os acontecimentos e os personagens da Segunda Guerra Mundial, o holocausto, o nazismo, a resistência, os massacres, os campos de concentração e extermínio, e, em plano nacional, a Guerra de Canudos, a Revolução de 30, Getúilo, Lacerda, Prestes, a coluna e tantos outros movimentos revolucionários, venha falar comigo.
Acredito que sem a história não se sabe nada e que certos “heróis” da factualidade me parecem grandes personagens literários.
Se você ama os livros, vai com constância a sebos e livrarias, gasta seu dinheirinho com aquela obra rara ou desejada, possui uma biblioteca que cresce dia a dia e tem um acervo variado, embora com especialização em literatura e arte, filosofia e ciências sociais, venha me visitar vez em quando.
Adoraria trocar figurinhas e ideias, discorrer sobre coleções, edições, epígrafes e dedicatórias.
Finalmente, se você conhece um pouco da literatura feita na Paraíba e sabe que Augusto é tão genial quanto Rimbaud e Baudelaire, Antero e Pessoa, e que seus decassílabos ferem os tímpanos dos medíocres habituais, assim como a fúria de suas imagens representam a substância viva no que parece morto; se você já leu Zé Lins, Zé Américo, Zé Vieira, Ariano, Ascendino, Gonzaga, Assunção, Aldo Lopes, Astier, só para lembrar alguns exemplos, venha falar comigo.
Minhas lições literárias começam pelos os de casa. Amo essa literatura provinciana, assim como sei que a província também é o mundo.
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