João Pessoa, 19 de janeiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Nos tempos dos faroestes

Comentários: 0
publicado em 19/01/2024 às 07h00
atualizado em 18/01/2024 às 18h46

O primeiro filme que eu quase vi foi um faroeste, pelo buraco da porta do cinema, em Uiraúna. Eu fiquei estatelado na madeira, com os olhos e ouvidos crescidos para ver as imagens e ouvir o som que, para mim, se projetavam retorcidos. Não lembro o nome do cinema. Ficava na mesma rua da matriz, ao lado da Igreja Jesus, Maria e José, instalado em um prédio dela, acho. Da última vez que fui à cidade, enxerguei o prédio, ainda que não cinema, mas resistente ao tempo e às novidades.

Uiraúna ainda não estava integrada ao mundo. Nela, eu mal cabia, afinal não é somente o gigantismo quem ultrapassa a razoabilidade das medidas,  as coisas pequenas também são muito mal cabidas dentro das coisas gigantescas. E miudinha, Uiraúna era enorme para mim, um garoto mequetrefe que morava na zona rural, aos pés da Serra do Desterro.

Que diversão, que graça eu achava vendo pedaços de cenas entrecortados pelas reentrâncias das frestas da porta ou pelo buraco da fechadura. O porteiro era do bem, facilitava as coisas, muito embora alguns dias ficasse espoletado do juízo e era chato pra valer.

Um dia o milagre aconteceu. Eu tinha 12 anos. Terezinha, uma moça bonita e de bom coração, me convidou para o filme. De segunda a sexta feira eu morava na casa de Macena, o irmão dela com quem ela, para estudar, como eu, morava também.

Eu disse mil vezes que não iria, mas como ela sabia que a minha negativa era por falta de dinheiro, insistiu  mais uma vez e eu fui por conta dela. Nesse dia, a tarde foi longa e ansiosa. Procurei a melhor roupa. Não lembro qual foi a calça, mas a camisa era branca com umas rajadas de verde, o bolso estava machado de tinta  azul e faltava o botão do meio.

Tirando o meu riacho Pé de Serra, foi a coisa mais bonita do mundo que vi. O problema foi que o filme demorou muito para acabar e Uiraúna já dormia quando isso aconteceu. Terezinha arrumou um namorado e desapareceu. Sozinho, na volta, eu quase não chego em casa. Era matuto de doer.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também

MaisTV

Na PB, Camilo Santana detalha Pé-de-Meia: “Medida para o futuro”

"PÉ DE MEIA" - 03/05/2024

Opinião

Paraíba

Brasil

Fama

mais lidas