João Pessoa, 15 de setembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. A menina mais linda do mundo, não porque tenha 18 ou menos anos, mas porque suas rugas desenham em seu rosto a face do seu tempo no templo de uma alma mansa e perspicaz por mais de oito décadas.
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, a mulher mais serena do mundo, não porque o cotidiano da vida tenha lhe subtraído as revoluções das dores, mas porque ela é a madrinha da resistência e da gravidez de todas as esperas e esperanças;
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, a mãe segunda, não porque não pudesse ser a primeira, mas porque o empate do amor é a coisa mais comum na vida e, nessas coisas das bondades, não há ordem nem grandeza.
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, uma rosa ou margarida, um botão estrangulado pelo amor de querer ser flor, não porque lhe faltou agruras, mas porque é cacto benfazejo, daqueles de dobradiças abertas mostrando a fruta mais adocicada do mandacaru resistente;
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, colo e carinho, cafuné e paciência, não que não fale a língua de ramagens das canafístulas e dos mulungus, mas porque a divindade pousa em seu canto, o seu encanto de existência.
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Tem poucas letras e muitas fantasias; tem pouca instrução e muitas intuições; tem um bordado de amor em cada possibilidade de viver, a compreensão, um disfarce poderoso para manter a disposição de entender os outros;
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Parece uma passarinha , dessas de canto mavioso, andar apressadinho, como se quisesse bicar o tempo e dominar todas as revoadas do viver.
Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Seu café e seu cachimbo, seu cheiro e suas mãos. Ela não sabe ainda, mas eu aprendi a escrever admirando-a burilando os seus bordados e a sua resistência.
Dedé hoje completa muitos anos, mas como é apenas o meu amor, nem idade tem. É espírito superior, guardiã da vida. Ah, Dedé, eu te amo! Parabéns, minha querida.
@professorchicoleite
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