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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Ainda bem que agora encontrei você

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publicado em 04/08/2023 às 07h00
atualizado em 03/08/2023 às 17h39

Coisas que a gente não esquece, daquelas em que a emoção gruda nas paredes das nossas veias e entorta a razoabilidade, ao ponto de sairmos por aí em estado de leseira, cantarolando Mariza Monte:

“Ainda bem
Que agora encontrei você
Eu realmente não sei
O que eu fiz pra merecer
Você

(…)”

Foi isso que aconteceu comigo. Uma máquina se lembrou de mim. E me chamou pelo nome. Li três vezes para certificar se era eu mesmo o destinatário da simpática missiva.

Era: mensagem do “Sou Gov”. E havia o desenho de um lacinho rosa enfeitando a mensagem, tudo cheio de alegria, uma delicadeza. Se eu estivesse no auge das maledicências da minha juventude, sei não…

“Porque ninguém

Dava nada por mim

Quem dava, eu não tava a fim

Até desacreditei de mim”

De verdade, nunca vi tamanha sensibilidade em uma máquina, mas a vida está tão coisificada que a gente fica lerdo com esse tipo de lembrança. Quer um exemplo? Se você é servidor do Ministério da Fazenda e, depois de 39 anos de serviço, requerer sua aposentadoria, o órgão gestor, um tal de decipex, tem demorado até onze messes para analisar o requerimento. Sim, de vera!

Diga-me se isto não é uma coisa afrontosa?! Às vezes fico pensando que deve ser alguma máquina do mal quem abocanhou para si, desde o governo Bolsonaro, a análise desses pedidos e que os raros colegas servidores ali lotados, não têm condições de se contrapor a essa Inteligência Artificial com sua bocarra de matrix sem coração.

Que loucura! Dia primeiro, passados quatro meses em que requeri minha aposentadoria, a tela do meu computador estampou a graciosa mensagem que me parabenizou pelos 39 anos de serviço público. Pois é, não analisaram o meu requerimento de aposentadoria, mas me sacaneiam fazendo cócegas nas minhas fuças:

“O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão
Tinha sido maltratado
Tudo se transformou

(…)

Na, na, na, na
Na, na, na, na, na, na
Na, e

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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