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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Primeira comunhão

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publicado em 16/06/2023 às 07h00
atualizado em 15/06/2023 às 15h58

O que mais me interessava era a preparação da festa e a roupa bacana que mãe havia comprado. A primeira comunhão em si mesma, de verdade, para aquele menino de 9 ou 10 anos, só interessava, porque, agradados todos os santos, decerto que eu estaria livre das almas penadas.

Naquele dia, todos dormimos na casa de Dedé, minha irmã mais velha, e de lá, ao amanhecer, por volta das oito da manhã, fomos a Areias, o povoado vizinho. Em Areias, ficamos hospedados na casa da madrinha Liá.

Às dez horas, a missa; em seguida, a primeira comunhão. Eu era o orgulho em si mesmo, menos pelo ritual, mais pela roupa e pelo almoço que já se antecipava na casa da minha madrinha. Iniciada a missa, eu me sentia um príncipe e me colocara nas cadeiras da frente da igrejinha. Na hora da confissão, confesso que não havia o que confessar.

Contei ao padre que matara uma rolinha com uma baleadeira (mentira: eu nunca acertava uma), que, às vezes, desobedecia à mãe (mentira: mãe era ferro e fogo, e seus filhos, cordeirinhos), mas eu precisava de uns pecadozinhos, para poder comungar, arrependido…

Perguntado pelo padre se fazia enxerimento, respondi que não, afinal, eu não sabia se o autoconhecimento da sexualidade que se impunha a um menino de 10 anos poderia ser considerado como tal.

A pena foi pequena. O padre me recomendou um padre-nosso e duas ave-marias. A hóstia teve um gosto de pão seco, mas era deliciosa, porque precisava ser. Terminado o ritual, fomos, eufóricos, comer rodelas de abacaxi e chupar pirulito na festa da padroeira.

O almoço que veio mais tarde foi o melhor do mundo. Só voltamos para minha casa por volta das dezesseis horas. A felicidade era tremenda. Nesse mesmo dia, excitados pela felicidade, meus hormônios me ferveram ardentemente, e eu, dominado, “pequei” novamente!

Do meu livro de memórias “Os longos olhos da espera” (Disponível na amazon)

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