João Pessoa, 02 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Felicidade: a fruta que inventei e comi

Comentários: 0
publicado em 02/06/2023 ás 07h00
atualizado em 01/06/2023 ás 20h11

 

Depois da cartilha “O vovô viu a uva”, caiu me às mãos, no segundo ano, um livro esquisito, cheio de nomes diferentes e muito colorido.

Eu já vinha ofegante da surpresa com as uvas, parecidas com os brincos de ouro falso que minha mãe possuía, só que roxas. Uvas… somente vovô as tinha visto. Eu nunca vira um avô e muito menos uvas, coisa nunca nascida nem pensada na aridez do alto sertão da Paraíba.

Ali, na minha frente, o novo instrumento do saber. Uma cartilha mais encorpada e cheia de novidades, imagens e palavras, cada uma mais estranha do que a outra. E cheirosas. Sim, as páginas do livro tinham o cheiro da imaginação e dos sonhos.

Uva era de somenos. Maçãs, caquis, pêssegos, peras, tangerinas, quiuís, todas diferentes das frutas do meu sertão: goiaba, melão, pinha, manga, cajá, banana, laranja e macaúba. Jiló, abacate, groselha, pitaia e framboesa eram coisa de um mundo distante, talvez da cidade ou do Japão.

Pomar. Foi a palavra mais linda que conheci no livro e nele, as delícias pensadas em detalhes minuciosos porque eu atribuía sabor a cada uma delas, afinal minhas papilas gustativas de nove anos estavam em avançado estado de excitação, como se estivessem na adolescência dos desejos mais desenfreados.

Quando cheguei em Sousa, aos 18 anos, vi, no Supermercado de Joaquim Pinto, uma daquelas frutas. Demorou três anos para cair no bornal das minhas possibilidades, mas quando isso aconteceu, a maçã era como todas as uvas e framboesas, pêssegos, caquis e groselhas. Perdera-se no sonho de um menino matuto cheio de fome-gula e de fantasia.

Foi aí que descobri que o meu pomar era seco, mas avaro não. Quando ele queria parir as suas bonanças, fazia de sorriso largo, não havendo pomar da cidade que o vencesse: Umbu, abacaxi, graviola, maracujá, melão, pinha, limão, umbu, graviola, melão de são caetano, coco catolé, pitomba, melancia e felicidade, um nome de uma fruta sertaneja que eu inventei e comi.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB