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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Maria Bethânia, um ser apaixonante

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publicado em 21/06/2022 às 07h00
atualizado em 21/06/2022 às 10h50

(Fotos Thereza Eugênia)

Entrou no palco do VivoRio cantando “Um índio”, do irmão Caetano Veloso. A plateia foi ao delírio. Maria Bethânia canta em celebração ao documentário “Fevereiros”, de Marcio Debellian e começa a rodar um filme em nossa cabeça.

2022. Uma histórica retomada da artista aos palcos para cantar o repertório de sucessos da carreira e canções do seu disco mais recente, “Noturno” e os clássicos Reconvexo, Olhos nos olhos, Negue, Estado de Poesia, Volta por Cima e muitos mais – além de canções inéditas em sua voz como “Galos Noites e Quintais” de Belchior e “Está escrito”, de Xande de Pilares, Carlinhos Madureira e Gilson Bernini.

Canções sobre a passagem do tempo, um tempo em que nos incomodava longe de tudo e todos, de como nos sentíamos: desaparecidos também.

Com todo o proveito que há nisso, sua presença cantando uma canção emendando noutra, a sua floração incisiva, sua voz maior e não existe igual e que de há muito aprendemos a gostar dela, de seu canto, a performance sobre as luzes e daí a alegria de aplaudirmos uma artista que sabe puxar o coração do público para a superfície. Lindo ela cantando “você cortou um barato do meu amor”, de Benito de Paula.

Ela, aniversariante do dia, (18) 76 anos, mas MB não tem idade, ainda que só possamos vê-la cantando, como se estivesse vestida com as armas de Jorge. Um Vesúvio!

No meio do show, o público aproveita quando ela dá uma folga minúscula e começa a cantar “parabéns pra você” e todo o alcance que nos deixou feliz de cantar para quem canta pra gente.

Bethânia cantou tudo, Cálice, Cálice, Cálice, uma sacada inteligente de si mesma, ao interpretar uma canção mil vezes, de Chico Buarque e Gilberto Gil. E logo cantou “levanta, sacode a poeira e dá volta por cima”, os versos eternos de Paulo Vanzollini.

Quando cantou “Estado de Poesia”, de Chico César, emendou noutra dele, “Onde estará o meu amor” e no meio do show cantou “a ponta que você deixou fumei. Bateu saudade quando dei por mim/Tava a fim, desejo dos beijinhos seus. Do lance de dançar sem som tão bom, bateu”  do catoliaco paraibano.

Bethânia muito além, a presença no palco, sua juventude esticada, ao vislumbrarmos a sensação com algo feito para entender mais da gente, ao ouvir seu canto.

De volta pra meu aconchego, sublime forma de vida, de saber como ninguém cantar: “garçom, apague essa luz, que eu quero ficar sozinha”, de Haroldo Barbosa e  Edila Luiza Reis.

A cantora baiana está cheia de raios luminosos. Só assim posso pensar do show “Fevereiros”, da nova Maria Bethânia, sem medir esforços para mostrar que sua voz dá vida às canções, na medida exata dos deuses.

Chovia na cidade do Rio de Janeiro e as águas rolando feito pedras preciosas, para uma cantora sem pressa, (uma plateia sedenta) ao olhar de perto sua gente e de como seu show nunca pode parar no modo como as coisas se multiplicam, mudam de forma, e no final do show era só neblina.

Não sei como uma artista consegue cantar mais de trinta canções, “savoir par coeur”.

Betânia iluminando obscuridades, os breus, o fim do mundo, as canções do recôncavo baiano, Dona Edith do Prato, tantas vezes cantada e louvada, por ela ou pelo irmão, Caetano Veloso.

Bethânia demasiada doce, feroz, glamourizada, latin lover e o amanhecer, o sonhar, as ruas de Santo Amaro nas imagens do telão, o filme “Fevereiros” sobrando imagens sobre os sobrados, as baianas dançando e os orixás em cena.

O documentário “Fevereiros” transita entre as festas da terra natal da cantora, Santo Amaro da Purificação, e o carnaval carioca e registrou de perto a vitória da Mangueira no carnaval 2016, quando Bethânia foi homenageada. “Fevereiros” foi lançado em circuito em 2019 e foi o documentário brasileiro mais assistido nos cinemas naquele ano. Atualmente, está disponível em diversas plataformas como GloboPlay, GooglePlay e Itunes.

A ideia do show é antiga, marcaria o lançamento do DVD do filme pela gravadora Biscoito Fino em 2020, mas foi adiada por conta da pandemia. Agora se concretiza e Bethânia faz um show de pista.

A musa da memória, com sons vibrando em ecos, onde mergulhamos no conhecimento que traz a cura e bebemos em muitos cântaros, cânticos – flanando e sorvendo a cantora mais fundamental do Brasil.

 Confere aqui o Setlist

1.     Um índio

2.     Pantanal

3.     Rosa dos ventos

4.     Yáyá Massemba

5.     De onde eu vim

6.     A felicidade

7.     Brisa

8.     Marcha da quarta-feira

9.     Galos, noites e quintais

10.        O ciúme

11.        Na primeira manhã

12.        Balada de Gisberta

13.        Maria vai com as outras

14.        Canção Da Manhã Feliz

15.        Alegria

16.        Mulheres do Brasil

17.        Bar da noite

18.        Prudência

19.        Negue

20.        Lama

21.        De Volta pro meu aconchego

22.        Meu nome é ninguém

23.        Começaria tudo outra vez

24.        Volta por cima

25.        Meu amor é marinheiro

26.        Purificar o subaé

27.        Louvação À Oxum

28.        Vento de lá

29.        Santo amaro ê ê / Quixabeira /Reconvexo / Minha Senhora / Viola , meu bem

30.        Tá escrito

31.        Angenor, José e Laurindo

32.        Ala-la-ô

33.        A filha de Chiquinha Bacana

34.        Chuva, suor e cerveja

35.        A água lava tudo

36.        Frevo Molhado

 Bis

37.        O que é o que é?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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