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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Procurando Rocha Pombo

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publicado em 24/05/2025 ás 07h00
atualizado em 24/05/2025 ás 07h50

Alguém me disse que não existe mais sanatórios no Brasil. Ora, o Brazil é o maior sanatório.

Pensei num palimpsesto, aquilo que se raspa para escrever de novo, não seria arranhar ou raspar o tacho, mas é quase um (pre)texto que  foi eliminado para permitir a reutilização. Então, dá no mesmo.

O fato ou fack de não existir mais hospício por aqui, é outro patamar, como diz o querido Marquinhos de Dona Leônia. Patamar, é o máximo, né?

Depois pensei, talvez seja por isso que tem tanta gente doida pelas calçadas da cidade e muito mais na beira mar entre Tambaú e Cabo Branco. De 064 a Raimundo Lull

Resolvi consultar o jornalista, poeta e historiador, Rocha Pombo (foto), que deve ser o único escritor do mundo, digo brasileiro, que tem esse sobrenome. Na Paraíba, nos anos 70 conheci Dona Pompom, uma figura adorável.

No livro ´No Hospício´ publicado em 1905,  Pombo mexe com o juízo da gente que trabalha –  é uma obra única no cenário da literatura brasileira finissecular, uma joia do simbolismo em prosa. Delirantíssimo.

R Pombo desafia as fronteiras entre a loucura e a lucidez, realidade e ideal, ciência e misticismo,  o diabo a quatro, uma grande confussão Lá, o Fileto, personagem central, é internado por sua família não por insânia genuína, mas por recusar os valores burgueses. Poxa, como foi bacana te encontrar de novo, Rocha Pombo!

Tal atitude jamais seria de uma família italiana franciscana, talvez brasileira, mas Fileto vai para o confinamento, cria uma “estufa espiritual” onde pode florescer longe da mediocridade do mundo. Tá vendo, não era doido, mas tinha passagem livre.

No romance de Pombo convivemos com Goethe, Swedenborg, Tolstói, Carlyle e Dostoiévski. Imagine aí – só tem doido, mas com juízo.

O delírio é meu e de Fileto, mas lúcido, de um homem que decide permanecer na clausura para salvar sua integridade.  Tai  uma crítica feroz à sociedade positivista e racionalista da virada do século. ´No Hospício´ antecipa utopias socialistas regida pelo trabalho criativo. Pow!

Rocha Pombo tece com lirismo e precisão a vida de todos nós que somos invisíveis e caretas.

Kapetadas

1 – Mataram o bobo, mas a corte, que é bom, necas

2 – Quem procura a essência da vida perde o sono, os amigos e o juízo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB