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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

Escola Superior de Etiqueta Corporativa

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publicado em 05/07/2021 às 08h05

Anthony Seldon, na obra “The fourth education revolution”, relata que a palavra universitas, durante a Idade Média, designava qualquer conjunto de pessoas com interesses de conhecimento comuns. Educatus (ex + ducere), por sua vez, significa conduzir ou levar adiante. Desde os seus albores medievais, a educação universitária encampa a ideia de jornada.

Presentemente, milhões de jovens em todo o mundo apostam na jornada universitária como a melhor forma de se preparar para o mercado de trabalho, para a maturidade e para a vida em sociedade. Contudo, existe um movimento que questiona a necessidade de se ingressar em uma universidade para ter sucesso profissional. Esse movimento cresce, sobretudo, nos Estados Unidos, onde as anuidades universitárias são astronômicas e há boas oportunidades de trabalho que não demandam diploma de nível superior dos candidatos.

No Brasil, uma pesquisa conduzida pela + A Educação e pela Educa Insights revela que 69% dos diretores acadêmicos entendem que os currículos estão conectados ao mundo real. No âmbito das empresas, entretanto, apenas 39% dos empregadores concordaram com a afirmação.

Com a finalidade de averiguar a percepção das empresas cearenses acerca da relevância da formação superior na atividade dos empregados, uma equipe de gestores do CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFAMETRO (foto) conduziu uma série de entrevistas com gestoras de Recursos Humanos de 10 grandes empresas cearenses. As entrevistas foram realizadas individualmente, tiveram caráter qualitativo e foram realizadas no mês de abril. Ao final das entrevistas, as gestoras entrevistadas foram instadas a responder um questionário enviado por email. A equipe da UNIFAMETRO obteve, alfim, uma visão qualitativa e outra quantitativa das percepções das gestoras.

Uma das dificuldades que as gestoras apontaram quase unanimemente na relação com empregados (inclusive aqueles com diploma superior) foi o comportamento dos empregados no ambiente corporativo. A maioria das gestoras relatou que os empregados não têm um desempenho adequado quando se trata, por exemplo, de fazer uma solicitação verbal simples a um diretor da empresa, ou defender suas ideias, utilizando a argumentação lógica.

Além de ter senso de responsabilidade, ser paciente, ter resiliência, buscar aprimoramento permanente etc, as gestoras se ressentem, a meu ver, de uma etiqueta corporativa. A tendência dos gestores acadêmicos (diretores acadêmicos, coordenadores de curso…) é transformar as demandas em conteúdo programático a ser ministrado em preleções ou aulas práticas etc.

No tocante à etiqueta corporativa (ou como se portar em um ambiente profissional), parece-me tratar-se de um conjunto de habilidades sociais que seriam mais eficazmente absorvidos em ambiente profissional e não nos tradicionais ambientes acadêmicos. Assim, a demanda identificada junto às gestoras de recursos humanos dessas empresas traduz-se em mais uma oportunidade de atenuar os limites – inclusive de ordem física – entre a academia e o mundo empresarial. Considero que apenas a constante interação com o setor produtivo, com vistas a atender suas demandas de formação, pode garantir que a educação superior se mantenha social e economicamente relevante.

Em síntese, a educação superior se configura atualmente como jornada ou ritual de passagem do jovem, em busca de sucesso profissional. Muitas pessoas questionam, com razão, a necessidade de se ter um diploma de nível superior para ingressar no mercado de trabalho. Um dos motivos para essa visão está ligado à desconexão de muitos currículos de graduação com as demandas reais do mercado de trabalho. Gestoras de recursos humanos entrevistadas por uma equipe de gestores acadêmicos da UNIFAMETRO apontam deficiências comportamentais como um dos óbices ao progresso de jovens diplomados na carreira das empresas. O desenvolvimento desse conjunto de habilidades sociais deve, a meu ver, desenvolver-se no ambiente corporativo, com o auxílio da universidade. É fundamental que as universidades se abeberem nas demandas do setor produtivo e as problematizem, com a finalidade de debelá-las, sob pena de perderem sua importância.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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