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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

A inflação nossa de cada dia no Brasil

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publicado em 14/05/2021 às 18h04

A inflação nossa de cada dia no Brasil, é um inimigo silencioso, que atinge a nossa saúde financeira, reduzindo drasticamente o consumo das famílias, e que tem provocado o empobrecimento da maior parcela da população brasileira, além da perda do poder de compra das cinco classes econômicas, sobretudo, das classes C, D e E nas cinco regiões.

No Plano Real, em 1994, um quilo de frango custava um real. Hoje, a nota de um real não existe mais, porém, no supermercado ou na feira livre, quanto custa um quilo (kg) de frango? Entre R$ 9 e R$ 13, ou seja, 8 ou 12 reais a mais depois de 26 anos. Com uma nota de 200 reais é possível comprar 20 frangos de um kg por dez reais cada um.

A inflação oficial no Brasil é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última projeção do Relatório FOCUS do Banco Central do Brasil (BACEN) aponta para uma inflação de 12 meses de 5,06% em 2021, acima da meta de inflação de 3,75%. O IPCA acumulado de 12 meses em abril de 2021 foi de 6,76%, acima do teto da meta de inflação de 5,25%.

No IPCA, onde são mensurados os preços mensais de uma cesta de produtos e serviços comercializados no varejo em Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória, os pesos atuais dos nove grupos são os seguintes: Alimentação e bebidas (20,99%); Transportes (20,80%); Habitação (15,41%); Saúde e cuidados pessoais (13,00%); Despesas pessoais (10,23%); Educação (5,96%); Comunicação (5,53%); Vestuário (4,27%); e Artigos de residência (3,81%).

Segundo o economista inglês John Maynard Keynes (1983, p. 291), no livro Inflação e Deflação, de 1923, “por um contínuo processo de inflação, (…) o processo empobrece a muitos, de fato enriquece a alguns”. Para Keynes (1983, p. 292), “todos os países experimentaram uma expansão na oferta de dinheiro para gastar, relativamente à oferta de coisas que se podiam comprar – isto é, Inflação”. Em seguida, de acordo com o Prof. Keynes (1983, p. 301), “a Inflação é injusta, e a Deflação é inconveniente”.

A subida de preços dos bens e serviços revelam as pressões inflacionárias na economia brasileira. Uma alta de preços dos alimentos gera uma queda do consumo das famílias. “A inflação é um aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços” (VASCONCELOS; GARCIA, 2008, p. 274), é um fenômeno econômico caracterizado pela perda do valor do dinheiro ao longo do tempo.

As causas internas e externas da inflação no Brasil são: (i) a alta do dólar americano consequente aumento de preços dos bens e serviços importados; (ii) o crescimento do desemprego; (iii) a diminuição dos investimentos no setor produtivo; (iv) a queda da cadeia mundial de suprimentos; (v) o aumento dos preços de commodities; e (vi) um clima econômico desfavorável com o aumento da dívida pública bruta brasileira.

Já deflação é o processo contrário à inflação. Há uma redução do nível de preços dos bens e serviços e o valor do dinheiro é aumentado. É um processo normalmente verificado em períodos de recessão econômica. Uma das causas da inflação é o aumento da emissão de papel-moeda pelo Governo para cobrir os gastos públicos. Quando isso acontece, há um maior volume de dinheiro em circulação na economia, mas não houve criação de riqueza ou aumento de produção. Neste caso, é exigida maior quantidade de dinheiro para adquirir a mesma quantidade de produto, resultando em inflação.

A inflação é muito pior que a deflação, mas a hiperinflação é tão ruim quanto as duas. Hiperinflação é uma inflação alta e fora de controle, que nós brasileiros, precisamos sempre ligar o alerta amarelo e cobrar dos políticos as reformas administrativa e tributária, que não avançam no diálogo em Brasília, claro, que neste momento as agendas sanitárias pautadas na pandemia do novo coronavírus entram como sinal vermelho das urgências. A crise sanitária é cada vez mais complexa e já estamos na segunda onda da COVID-19, com mais de 430 mil mortes (UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS, 2021).

Quando os preços sobem muito, os trabalhadores gastam menos ou não compram bens e serviços ofertados pelas empresas, logo, vendem menos e cortam gastos, ocorrendo a demissão de funcionários. O contingente de desempregados é de 14,4 milhões de pessoas no Brasil, conforme o IBGE. Esses trabalhadores desempregados não podem comprar bens e serviços, logo, a retração piora. Agora que sabemos um pouco mais sobre a inflação, precisamos entender quem pode controlar e quais as ações para minimizar os seus impactos na economia. O controle da inflação é feito pelo BACEN, com aumento da taxa Selic para 3,50% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), em outras palavras, uma política monetária contracionista.

É importante destacar que convivemos com questões inflacionárias desde a Velha República até os planos econômicos implantados durante a Nova República. Quem não lembra do Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor, Plano Collor II e por fim, o Plano Real, quando o Brasil passou a atuar com taxas de inflação mais controladas. Podemos descrever cada medida dos sete planos econômicos, rememorar as fases críticas de construção e desconstrução de políticas econômicas adotadas no País, um tema para um novo artigo, afinal, os erros do passado precisam servir de exemplo para que não cometamos os mesmos novamente.

No início do Plano Real em julho de 1994, um botijão de gás de 13 kg custava R$ 5,73. Hoje, na capital paraibana, já em torno de 85 reais. Infelizmente, muitas famílias estão recorrendo a lenha ou ao carvão para cozinhar no Brasil. Na busca pelo cenário econômico ideal, o regime de metas de inflação foi institucionalizado em 1999, passando a ser um do tripé macroeconômico do Governo Federal, outros dois foram o regime de câmbio flutuante e o regime de superávit primário.

A teoria econômica consagrou que a inflação de demanda é provocada pelo excesso de demanda agregada em relação a oferta agregada de bens e serviços. Para o combate mais eficiente da inflação de demanda, os principais instrumentos são: (i) keynesianos com política fiscal contracionista, com a diminuição dos gastos públicos e a elevação da carga tributária; (ii) monetaristas com política monetária contracionista, com o aumento da taxa de juros.

A inflação de custos é causada por elevações dos custos de produção, como aumento da conta de energia elétrica ou do preço do combustível. Os principais caminhos para o combate à inflação de oferta são: (i) keynesianos com política fiscal expansionista, com o aumento dos gastos públicos e a redução da carga tributária; (ii) monetaristas com política monetária expansionista, com a redução da taxa de juros.

A inflação alta é péssima, causa sérios estragos ao país e ao bolso do consumidor, retira a tranquilidade das famílias e bagunça as contas mensais. É um detrator econômico e social, tirando o sono, a paz do consumidor ao ver o preço do quilo da carne de frango ou do botijão de gás de 13 kg, é angustiante, causando até depressão psicológica.

O consumidor brasileiro gasta sua renda mensal para satisfazer suas necessidades básicas. Uma alta do preço da carne de frango levará necessariamente o consumidor a uma queda na quantidade demandada deste produto. No Brasil são mais de dez índices de inflação como o INCC, IGP-DI, IGP-M, IGP-10, IPC-RJ, IPC-FIPE, IPC-IEPE, ICV-DIEESE, INPC, IPCA, IPCA-15, IPA, IPC-S, outros índices. Na cabeça do brasileiro comum, entender todos estes índices de inflação é um monstruoso desafio. A população mais pobre é mais afetada com a alta nos preços de alimentos como arroz, feijão, carnes, leite, óleo de soja e ovos.

Finalizando, para o Prof. Paulo Sandroni (2014, p. 416), a inflação significa “Aumento persistente dos preços em geral, de que resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda. É um fenômeno monetário”. Os brasileiros conviveram por 15 anos com a hiperinflação, a mais longa da história da economia mundial, então, o que é importante destacar, o quão é necessário o aumento do consumo das famílias, uma vez que é o grande motor da economia e representa 65% na composição do PIB brasileiro.

Nota: Artigo foi elaborado pelo economista Paulo Galvão Júnior em parceria com a economista Angélica Costa, palestrante, gestora financeira, mentora do Programa Potência Feminina com apoio da Google e empreendedora social na ARC Ações Solidárias.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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