João Pessoa, 19 de abril de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Estimado leitor do Portal MaisPB, João Pessoa, a terceira capital mais antiga do Brasil, é um verdadeiro tesouro histórico encravado no litoral nordestino. Fundada em 05 de agosto de 1585, às margens do Rio Sanhauá, a capital paraibana carrega em suas ruas, avenidas, casarões, prédios, praças, igrejas e monumentos, o legado de mais de quatro séculos de História.
No decorrer de sua secular História, a capital paraibana teve cinco nomes. Cidade Real de Nossa Senhora das Neves (1585–1588), nome original dado pelos colonizadores portugueses em homenagem a santa católica e padroeira da cidade. Filipeia de Nossa Senhora das Neves (1588–1634), rebatizada durante a União Ibérica em homenagem ao rei Filipe II da Espanha.
Posteriormente, Frederikstadt (1634–1654), nome adotado durante a ocupação holandesa em homenagem ao príncipe de Orange, Frederico Henrique de Orange-Nassau. Parahyba do Norte (1654–1930), nome usado para identificar a cidade, após a expulsão dos holandeses e a retomada do território pelo domínio português. O nome “Parahyba” foi em referência ao Rio Paraíba (em tupi-guarani significa rio ruim para se navegar) e associada às dificuldades encontradas em seu curso, marcado por trechos com pedras. A inclusão do termo “do Norte“ serviu para diferenciar de outros rios homônimos, como o Rio Paraíba no estado do Paraná.
E finalmente, João Pessoa (desde 4 de setembro de 1930), nome em homenagem a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, assassinado em Recife, em 26 de julho de 1930, presidente do estado da Paraíba, e candidato a vice-presidente pela Aliança Liberal da então República dos Estados Unidos do Brasil, na chapa derrotada e liderada pelo advogado gaúcho Getúlio Vargas, o maior líder da Revolução de 1930 e presidente do Brasil por 19 anos não consecutivos.
O Centro Histórico de João Pessoa encontra-se no abandono há décadas. Casas centenárias, prédios coloniais e estabelecimentos comerciais outrora pujantes, hoje, resistem em ruínas, sufocados pelo descaso e pela omissão do poder público e das famílias proprietárias. Diante desse cenário de deterioração, vozes corajosas se levantam — como a do jornalista paraibano Kubitschek Pinheiro — para denunciar e registrar, com o seu celular, o que muitos se recusam a ver no território pessoense, os escombros, o caos total em inúmeras edificações históricas.
A situação do Centro Histórico de João Pessoa é alarmante. Enquanto outras cidades brasileiras, como Paraty, e internacionais, como Montreal, promovem anualmente ações de revitalização e valorização de seus centros históricos, a capital paraibana parece ter negligenciado o seu próprio berço urbano. A ausência de investimentos consistentes, tanto públicos quanto privados, destinados à preservação deste valioso patrimônio histórico, compromete gravemente a economia pessoense, refletindo um descaso sem precedentes e clamando por ações urgentes.
A paisagem histórica, que deveria ser um verdadeiro cartão postal, atraindo turistas brasileiros e estrangeiros e instigando o orgulho local, está, infelizmente, marcada por sinais de abandono. Imóveis históricos vazios e tomados pelo mato, que apresentam rachaduras, infiltrações e paredes cobertas de pichações, enquanto muitos se transformaram em focos de insegurança e proliferação de doenças, como a dengue. Outros sobrados históricos, ainda, resistem apenas como ruínas melancólicas, testemunhas da decadência econômica, após um passado glorioso.
Os vídeos de Kubi Pinheiro revelam, com indignação, a dura realidade da cidade. Simples em sua execução, porém profundamente emocionantes, registram o contraste entre o rico patrimônio histórico e a negligência que o corrói dia após dia. É desolador testemunhar o abandono do Coreto do Pavilhão do Chá (1917), da Academia de Comércio Epitácio Pessoa (1922) e da balaustrada (1918) da Rua das Trincheiras, em Jaguaribe, entre outros exemplos.
A omissão diante do Centro Histórico de João Pessoa não é apenas um atentado contra o patrimônio histórico; é uma forma de apagar a identidade de um povo. Logo, valorizar a História é valorizar a si mesmo, é reconhecer as raízes que nos formam a cada nascer do sol. A luta do escritor Kubi Pinheiro, feita com coragem, persistência e resistência cultural, deve ser aplaudida e acolhida por todos que moram na terra onde o sol nasce primeiro nas Américas.
Desde o século XVI, João Pessoa foi palco de encontros históricos entre diversos povos, como índios potiguaras e tabajaras, portugueses de diferentes classes sociais, negros escravos — que conquistaram a liberdade a partir de 13 de maio de 1888 —, além de espanhóis, franceses e holandeses, coexistiram e moldaram a História da cidade ao longo de 439 anos.
A Crise de 1929 foi o início da Grande Depressão de 1930, que impactou a economia mundial e trouxe reflexos negativos também na economia da Parahyba do Norte (atual João Pessoa). Como grande parte da economia da cidade estava ligada à exportação de produtos agrícolas, especialmente algodão e açúcar, a drástica redução na demanda internacional e a queda dos preços dessas commodities afetaram o lucro dos empresários e a renda dos trabalhadores.
Embora a produção de açúcar na Paraíba estivesse mais voltada para o mercado interno, devido às mudanças econômicas causadas pela Crise de 1929, como a falência das empresas e o aumento do desemprego, esses fatores dificultaram os investimentos em melhorias urbanas e contribuíram significativamente para a precarização do Centro Histórico de João Pessoa.
A pandemia da COVID-19 intensificou o abandono dos casarões históricos. Os efeitos socioeconômicos da crise sanitária de 11 de março de 2020 até 5 de maio de 2023 resultaram em uma desaceleração das iniciativas de preservação, deixando imóveis históricos ainda mais vulneráveis ao desgaste do tempo, a falta de manutenção, a ausência de conservação e as mudanças climáticas, como temperaturas elevadas ou chuvas fortes.
Paralelamente, as paredes marcadas por inúmeras pichações se tornaram um reflexo visível da insegurança pública nas ruas e avenidas do Centro Histórico de João Pessoa e o descaso com belas edificações com estilos arquitetônicos, como o barroco, o rococó, o colonial e o art déco.
Logo, é inadmissível permanecer em silêncio diante do abandono do Centro Histórico de João Pessoa, que clama por atenção e ação. É urgente que sejam encontradas soluções eficazes para a sua revitalização, garantindo uma melhor qualidade de vida para a população pessoense, que, em breve, alcançará a marca de um milhão de habitantes, assim, promover a prosperidade econômica da cidade, que, em breve, atingirá pela primeira vez, a dois milhões de turistas.
O Centro Histórico de João Pessoa oferece uma rica experiência cultural e histórica. Entre os principais pontos turísticos, destacam-se, o Hotel Globo (1929), que oferece uma vista deslumbrante do pôr-do-sol e do Rio Sanhauá. A Praça Anthenor Navarro (1933), um dos líderes civis da Revolução de 1930 e o primeiro interventor federal da Paraíba entre 1930 e 1932, com casarões coloridos do século XIX. A Casa da Pólvora (1710), no alto da Ladeira de São Francisco, com uma vista privilegiada para o Porto do Capim. A Igreja de São Francisco (1589), um marco arquitetônico do estilo barroco brasileiro que encantam os turistas nacionais e internacionais. E a Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves (1586), com duas torres.
Finalizando, o abandono do Centro Histórico de João Pessoa tem sido denunciado por Kubi Pinheiro no Instagram @joaopessoaantigamente. As sérias denúncias revelam a urgência de uma mobilização da sociedade pessoense para mudar esta triste realidade. É urgente que ações concretas sejam realizadas para combater o descaso e o total desprezo que têm ameaçado esse patrimônio histórico. Mais do que denunciar, é necessário cuidar e preservar o belíssimo Centro Histórico de João Pessoa, garantindo sua revitalização para as atuais e futuras gerações, como os casarões coloridos da Villa Sanhauá e o Conventinho, que são bons exemplos a serem seguidos.
(*) Economista pessoense e membro da família Monteiro Galvão, que mantém uma residência no Centro Histórico de João Pessoa desde 1930, habitada, reformada e funcionando como um espaço familiar na Avenida Dom Pedro I, 604, no Centro.
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QUALIDADE DE VIDA - 24/04/2025