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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Como o Brasil escapará da armadilha da renda média?

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publicado em 11/12/2020 às 06h24

Atualmente, nós não podemos esquecer que o Brasil é o quinto maior país da Terra (ONU). Que o Brasil é a sexta nação mais populosa do mundo (ONU). Que o Brasil é a nona maior economia do planeta, com o PIB nominal de US$ 1,84 trilhão no ano de 2019 (Banco Mundial). E que nos dias de hoje, o Brasil é a décima quinta nação que mais tributa a sua população (OCDE). E, ao mesmo tempo, é a trigésima nação no índice de retorno ao bem-estar à sociedade (IBPT).

A dimensão territorial, populacional e econômica do Brasil, a elevada carga tributária brasileira, de 35,7% do PIB em 2019 (ME), além do alto IDH, de 0,761 em 2018 (PNUD), fazem com que os conceitos e as informações sobre a armadilha da renda média (middle-income trap – foto) sejam de extrema relevância para o continental e emergente Brasil.

O conceito de armadilha de renda média começou no Banco Mundial, em 2007, com os economistas Kharas e Gill. A armadilha da renda média significa que uma economia de um país emergente entrou no nível de renda média e ficou presa entre a renda baixa e a renda alta, sem condições de acelerar o ritmo de crescimento econômico. O Brasil é considerado um país de renda média alta (high middle-income), com uma renda per capita na faixa de US$ 11.611, em 2019, conforme o Banco Mundial. Os países são divididos em quatro grupos econômicos e estes são classificados mediante a renda per capita em dólares americanos, que define na faixa até US$ 1.035 como renda baixa, entre US$ 1.036 e US$ 4.085 como renda média baixa, entre R$ 4.086 e US$ 12.615 como renda média alta, e acima de US$ 12.616 como faixa da renda alta (BANCO MUNDIAL).

A armadilha da renda média significa a estagnação econômica de um país emergente depois da primeira fase de um forte crescimento econômico baseado em acumulação de capital e da imitação tecnológica (MUELLER, 2013). Embora seja um país membro do BRICS, G20, CPLP e MERCOSUL, o Brasil ainda não alcançou a renda alta. Este fato é devido, dentre outros fatores, a baixa produtividade do trabalhador. “O trabalhador brasileiro leva uma hora para o mesmo produto ou serviço que um norte-americano consegue realizar em 15 minutos” (FECOMÉRCIO-SP, 2019). A baixa produtividade, em especial, no setor industrial, é o principal entrave para atingir um nível de renda alta. São observados outros obstáculos importantes como o analfabetismo, chegarmos a 11 milhões de analfabetos (IBGE), além do pagamento de impostos, amargamos a 184a posição no ranking anual do relatório Doing Business (BANCO MUNDIAL).

O Brasil, a maior economia da América Latina, entrou em semi-estagnação econômica desde 1980 e apresenta dificuldades em dar continuidade ao crescimento econômico para escapar da armadilha da renda média. Em 1979, o Brasil enfrentava a Segunda Crise do Petróleo e era a oitava economia do mundo. Quarenta anos depois, em 2019, o Brasil encarava a recuperação econômica muito lenta e sendo a nona economia do planeta. Entre 1930 e 1980, o Brasil foi o país com o maior taxa de crescimento econômico do mundo, de 6,2% ao ano, em média (IBGE). Entre 1980 e 2010, a taxa média de crescimento do PIB brasileiro foi de 2,2% ao ano (IBGE). Já entre 2010 e 2019, a taxa média de crescimento do PIB foi de apenas 1,3% ao ano (IBGE).

No último Relatório FOCUS a previsão é uma recessão econômica de 4,4% em 2020 (BACEN). Dentre os principais desafios do Brasil para ingressar no seleto grupo dos países de renda alta, destacam-se: aumentar o consumo das famílias; aumentar os investimentos privados; aumentar os gastos públicos; e crescer as exportações. A taxa de crescimento do PIB do Brasil no terceiro trimestre de 2020 foi de 7,7% e ficou em vigésimo quinto lugar no ranking de 51 países, liderados pela Tunísia com 19,8% (INFOMONEY).

Infelizmente, no Brasil, com mais de 6,7 milhões de casos e mais de 178 mil mortes pelo novo coronavírus (UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS), a pandemia da COVID-19 agravou a desigualdade e a extrema pobreza. No País, a renda caiu, o contingente de desempregados cresceu, a dívida pública bruta aumentou e milhares de empresas foram à falência e outras milhares precisaram recorrer à recuperação judicial.

O presente artigo busca responder uma séria indagação: Como o Brasil escapará da armadilha da renda média? O Brasil, em especial, deveria investir cada vez mais em capital humano, via educação, treinamento e assistência médica, como também, investir mais em energias renováveis como energias solar e eólica. É um país rico em fontes de energia limpa e renovável como o etanol oriundo da cana-de-açúcar. Estes dois investimentos, atrelados com outros investimentos em inovações tecnológicas e em infraestrutura logística, são o melhor caminho para sair da armadilha da renda média.

O Brasil é um país lusófono com enormes recursos naturais, tem a maior biodiversidade do planeta, têm alguns setores industriais avançados e um forte agronegócio. O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de café, açúcar, soja, milho, carne bovina, carne de frango, suco de laranja concentrado e congelado e etanol do mundo. Necessitamos de mais empresas ligadas à economia verde para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e promover mais exportações de produtos e serviços verdes.

Com a alta dos preços do botijão de gás, gasolina, energia elétrica, arroz, óleo de soja e carne bovina, é preciso economizar. Com a taxa SELIC de 2% ao ano (BACEN), é hora de investir no mercado de renda variável. Em suma, os grandes investimentos públicos e privados em capital humano, energias renováveis e infraestrutura logística são fundamentais ao Brasil, um dos dez países mais ricos, mais desiguais do planeta, para escapar da armadilha da renda média nas próximas décadas.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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