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Os méritos e os desafios de Cícero e Nilvan

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publicado em 16/11/2020 às 15h00

Em uma das mais acirradas disputas da sua história, a Capital paraibana escolheu o ex-prefeito Cícero Lucena e o comunicador Nilvan Ferreira para a disputa do segundo turno das eleições 2020. Lucena e Ferreira, assim como mais de 57 milhões de brasileiros, votaram em Bolsonaro em 2018, ambos, porém, declinaram de colar a imagem no presidente nas eleições deste ano. E acertaram. Os resultados espalhados pelo país afora demonstram que o eleitor – e aqui em João Pessoa não foi diferente – buscou candidaturas mais autônomas e menos aparelhadas ideologicamente. Daí o porque o lulopetismo e o bolsonarismo se acharem perdidos com os avanços das candidaturas de centro.

Méritos

Cícero, conseguiu se livrar das imputações criminais que contra pairavam contra si no âmbito da Operação Confraria; saiu do PSDB na hora certa e migrou para o PP da família Ribeiro, deixando para trás um indignado Ruy Carneiro a deriva sem o seu apoio. Adepto das peregrinações, o “Caboquin” modulou o discurso com uma narrativa do caminhante que atravessou uma via crucis até chegar aqui. Ao atrair o apoio governador João Azevedo, conseguiu montar uma aliança de partidos que o ajudou a se manter relativamente tranquilo na dianteira da disputa. Estes são seus méritos.

Por seu turno, Nilvan foi o outsider da campanha. Negro, de origem humilde e histórico vencedor, abriu mão do maior salário da comunicação paraibana – onde nos últimos 10 anos desenvolveu ações sociais – para sair sozinho na disputa a prefeitura de João Pessoa. Em 2016, Nilvan já aparecia nas pesquisas de intenção de voto em João Pessoa, soube esperar o momento certo e ver aumentar o seu prestígio com sucessivas vitórias de audiência de seus programas nos levantamentos do IBOPE e, claro, com a derrocada moral do seu principal oponente, o ex-governador Ricardo Coutinho, alcançado pela Operação Calvário. Por fim, acertou ao declinar da filiação ao PSL e ingressar nas fileiras do MDB, foi assim que conseguiu concentrar a estratégia de campanha na própria imagem sua, apresentando um conteúdo consistente diretamente para o eleitor sem intermediários..

Desafios

Para Cícero, o maior desafio será vencer uma rejeição consolidada acima dos 35 pontos. Terá que buscar apoios que consigam se encaixar na já congestionada aliança suprapartidária que montou. Por último, terá que explicar ao eleitor o fato de seu filho – eleito vice-prefeito de Cabedelo – estar na iminência de assumir a prefeitura com uma eventual saída do cargo do prefeito Victor Hugo para disputar as eleições de 2022. De modo que teríamos o pai prefeito da Capital e o filho prefeito do 3º maior PIB do estado. O eleitor pessoense já deu provas que não tolera esse tipo de familismo.

Quanto a Nilvan, seu maior desafio será vencer a desconfiança do eleitor e pôr em prática o próprio discurso. A “cidade boa para todos” requer capacidade de diálogo franco e honesto com os mais diversos segmentos da sociedade. “Derrubar os muros” significa dialogar com todas as matizes e convicções sociais, políticas, religiosas, culturais e ideológicas. Muito embora seu discurso seja de um moderado cristão, sua origem humilde e seu histórico como presidente do PC do B de Cajazeiras lhe consignam experiência para determinados gestos. Ele sabe disso. Por último, precisará fazer alianças estratégicas focadas na cidade e, ao mesmo tempo, preservar a imagem de candidato independente que o fez chegar ao segundo turno.

A eleição 2020 está zerada. E o jogo recomeça agora. Façam suas apostas!

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