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Musico Mauro Senise homenageia Johnny Alf

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publicado em 14/11/2020 ás 13h06
atualizado em 14/11/2020 ás 18h49
Mauro Senise

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

O MaisPB conversou essa semana com o multi-instrumentista Mauro Senise sobre seu novo álbum “Ilusão à toa – Mauro Senise toca Johnny Alf”, um tributo ao grande pianista, cantor e compositor, considerado um dos pais da Bossa Nova, falecido há dez anos. Lançado pela Biscoito Físico em formato físico e disponível nas plataformas digitais.

Ao comentar o recém-lançado Ilusão à toa – Mauro Senise toca Johnny Alf, o crítico João Marcos Coelho lembra que o compositor carioca foi um dos gênios mais esquecidos da música brasileira. “Um gênio incompreendido”, afirma, “que não tinha paciência nem jeito para abrir portas. Só queria fazer sua música altamente original”. Um dos arquitetos da construção da Bossa Nova, Alf acabou ficando totalmente à margem quando o movimento explodiu: “logo ele, que tinha tudo a ver com aquele tipo de música refinada de Tom, Luiz Eça e Eumir Deodato, pra nomear só três”, comentou o crítico.

Agora, ao prestar tributo a Johnny Alf, Senise presta justa homenagem ao artista e fecha o repertório com Melodia sentimental, de Heitor Villa-Lobos, em que Alf canta e toca piano, (retirada de fonograma original)
com o acréscimo — póstumo — do sopro do flautista. Neste trabalho, ele é acompanhado por instrumentistas do primeiro time, como Gilson Peranzzetta, Cristovão Bastos, Jota Moraes e Jaime Álem.

Com 70 anos, Mauro Senise construiu uma obra exemplar com dezenas de discos. Nas últimas quatro décadas, com os destacados álbuns dedicados a Noel Rosa, Edu Lobo, Sueli Costa, Dolores Duran, Gilberto Gil e, agora, Johnny Alf. Mauro escolheu a dedo doze canções, todas compostas por Johnny Alf (excetuando as parcerias com Maurício Einhorn em Disa e Ronaldo Bastos em Olhos negros). Mauro Alceu Amoroso Lima Senise é um grande artista brasileiro

Confira a entrevista

MaisPB – Depois de lançar discos com obras de Edu Lobo, Sueli Costa, Dolores Duran, Noel Rosa e Gilberto Gil, agora chega aos nossos ouvidos o álbum Ilusão à Toa – Mauro Senise toca Johnny Alf, um tributo mais que merecido. Como veio essa iniciativa brilhante?

Mauro Senise – Sempre fui fã do Johnny. As melodias e harmonias riquíssimas, o jeito tão original dele cantar. Depois de homenagear alguns dos grandes compositores brasileiros, eu senti que estava faltando Johnny Alf na minha lista. As melodias dele são lindas e podem ser ouvidas mesmo sem suas respectivas letras. Esta foi a minha intensão.

MaisPB – A obra de Johnny Alf é tão singela, só isso já vale a homenagem, não é?

Mauro Senise – Singela não, discordo. São melodias e harmonias altamente sofisticadas. Tom Jobim o chamava de Gênio Alf! Tinha toda razão!

MaisPB – Como se deu a seleção das canções?

Mauro Senise – Muitas foram escolhidas por mim, outras foram sugeridas pelos arranjadores convidados por mim para participarem deste projeto. Gilson Peranzzetta, por exemplo, sugeriu “Plenilúnio”. Cristóvão Bastos escolheu “O que é amar”, Adriano Souza trouxe a idéia de gravar “Olhos Negros”, Jota Moraes escolheu “Ilusão à toa”, um clássico do Johnny, Roberto Araújo queria “Céu e Mar” e “Rapaz de bem” pra ele. O repertório foi montado com muita democracia.

MaisPB – Muita gente pensa que “Ilusão à toa”, que dá nome ao seu disco, é a grande obra de Johnny Alf. Mas temos muitas coisas, não é?

Mauro Senise – Nossa! Johnny tem verdadeiras joias menos conhecidas… “Olhos negros”, “Plenilúnio”, por exemplo. A obra dele daria pra gravar um CD duplo ou até triplo!

MaisPB – “Eu e Brisa” é um clássico que enche nossos ouvidos de prazer. Vamos falar dessa canção?

Mauro Senise – Linda melodia, um clássico da música brasileira de qualidade. E meu filho, João Senise, deu a ela uma interpretação perfeita e cheia de sentimento.

MaisPB – Você já tocava Johnny Alf em shows?

Mauro Senise – Não propriamente. Bem no comecinho da minha carreira, eu tocava com outro grande intérprete, Lucio Alves, na boate Le Bateau, em Copacabana. Na mesma noite, Johnny se apresentava com o grupo dele. E eu às vezes dava canja com ele. E ficava admirado com o imenso talento do Johnny.

Johnny Alf

MaisPB – Você conheceu Johnny Alf, conversava com ele?

Mauro Senise – A gente conversava informalmente no camarim da boate. Eu ainda começando na música e tímido diante dos meus ídolos.

MaisPB – Voltando à canção “Ilusão à toa”, dizem que é uma canção que ele fez para um amor, que trata-se de uma canção homossexual. Você tem conhecimento disso?

Mauro Senise – Claro, todo mundo sabe que Johnny era homossexual, negro e pobre. Imagine quanto preconceito ele deve ter sofrido…

MaisPB – Como Mauro Senise se sente em plena pandemia saiu um discão físico, com um encarte e tudo?

Mauro Senise – Pois é, nós músicos parados, sem shows, tendo que nos virar. O lançamento do ”Ilusão à toa” serviu pra me dar um alento, uma esperança de que dias melhores virão. A Biscoito Fino foi fundamental neste processo, apoiando a minha decisão de lançar um CD neste momento tão difícil. E que alegria receber o novo CD fresquinho, chegando da fábrica. Não podemos deixar a roda parar de rodar…
Quanto a arte da capa e do encarte do CD, com aquarelas feitos pela minha mulher, Ana Luisa, que também é a produtora do CD, não é propriamente singela, mas delicada como são as melodias e harmonias de Johnny Alf.

MaisPB – Ruy Castro diz que Johnny Alf foi o “verdadeiro pai da bossa nova”, você concorda?

Mauro Senise – Concordo 1000% com o mestre Ruy Castro!

MaisPB –“Melodia Sentimental”, de Villa-Lobos, essa gravação é antiga, como você conseguiu colocar a flauta?

Mauro Senise – Gabriel Pinheiro, engenheiro de som de todos os meus CDs, “limpou” a gravação original de mais de 25 anos do Johnny ao piano e depois improvisei no estúdio uns contracantos com a flauta em sol em playback, parecendo que estávamos gravando juntos. Adorei o resultado.

MaisPB – Será que em 2021 Mauro Senise vai homenagear quem? Quem sabe Sivuca?

Mauro Senise – Vamos esperar o “Ilusão à toa” percorrer todo o seu caminho, e explorar todo o seu potencial. Depois vou pensar como será o meu próximo projeto.

MaisPB – Como você analisa o belo trabalho de João Senise, seu filho?

Mausro Senise – João, que tem um timbre lindo e ótima afinação, vem amadurecendo muito profissionalmente. Vai pegando cancha, como se diz. E lançando seus próprios CDs, onde demonstra ter também muito bom gosto musical. Tem uma bela carreira até aqui e um bonito caminho pela frente.

MaisPB – Qual a importância desse timaço em seu disco? – Adriano Souza (piano), Bruno Aguilar (baixo) e Ricardo Costa (bateria) – atua em Seu Chopin, desculpe, Olhos Negros (arranjos de Adriano), Rapaz de bem e Céu e Mar (arranjos de Roberto Araújo). Em O que é amar, Bruno e Ricardo acompanham Cristóvão Bastos, piano e arranjo. Outro time entra em campo em Disa, Ilusão à toa e Podem falar: Jota Moraes (piano, vibrafone e arranjo), Jefferson Lescowich (baixo), Danilo Amuedo (bateria), Jaime Alem (violão), os percussionistas Fábio Luna e Mingo Araújo tirando de sua cartola de mágico truques geniais (ou genialfs). Irmão de três décadas de música com Mauro, Gilson Peranzzetta comparece em duo (Plenilúnio) e trio (Nós, com o astral Villa-Lobos do seu arranjo reforçado pelo violoncelo de David Chew). Uma última colaboração providencial se deveu à volta ao Rio do saxofonista Raul Mascarenhas)

Mauro Senise – Todo bom músico precisa de bons músicos por perto. É como num time de futebol. A jogada que resulta em gol começa antes do jogador chegar à pequena área. Ela começa com os passes de outros jogadores para o artilheiro finalizar. Me sinto o artilheiro que recebe boas “jogadas” dos músicos que participam dos meus projetos. Sejam com os arranjos, com a interpretação dos respectivos instrumentos, seja no clima perfeito para os meus improvisos. E eu costumo reunir grandes músicos, que também são grandes amigos. Eles têm total liberdade para brilharem junto comigo. Uma maravilhosa Seleção Olímpica!

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