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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Os 70 anos de Schumpeter em plena Quarta Revolução Industrial

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publicado em 06/11/2020 às 09h47

A recessão econômica retornou forte ao Brasil no segundo trimestre de 2020. A taxa de desemprego no País já alcançou 14,4% da PEA no terceiro trimestre de 2020 (IBGE). Um novo ciclo econômico começou no Brasil, mas, sabemos que a fase recessiva tem início, auge e fim. Hoje, basicamente, podemos entender os ciclos econômicos e os pensamentos econômicos contemporâneos do grande economista austríaco Joseph Alois Schumpeter.

Schumpeter (foto) nasceu em 8 de fevereiro de 1883 na cidade de Triesch, na Morávia, no extinto Império Austro-Húngaro, hoje, uma cidade secular da República Tcheca (antiga Tchecoslováquia), localizada na Europa Oriental. Schumpeter morreu em 8 de janeiro de 1950 na cidade de Taconic, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos. Schumpeter formou-se em Direito na Universidade de Viena, capital da Áustria. Nos 70 anos de morte de Schumpeter, em plena Quarta Revolução Industrial, é importante revelar as suas principais obras e contribuições ao pensamento econômico mundial.

Antes de tratar especialmente do Professor Schumpeter, um dos mais importantes economistas do século XX, destacamos os nomes dos três maiores economistas do mundo de todos os tempos. O economista escocês Adam Smith (1723-1790) é o pai da economia moderna e do liberalismo econômico, além do maior economista do século XVIII. O economista alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883) é o pai do socialismo científico e o maior economista do século XIX. E o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) é o pai da macroeconomia moderna e o maior economista do século XX.

Schumpeter conquistou seu doutorado em Direito Romano na secular Universidade de Viena em 1906. Foi professor de Antropologia da Universidade de Czernowitz, uma cidade do antigo Império Austro-Húngaro (hoje, Ucrânia), em seguida, professor de Economia da Universidade de Graz, na Áustria, posteriormente, da Universidade de Bonn, na Alemanha, e por fim, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. O Professor Schumpeter abordou as obras-primas de Smith, Marx e Keynes em suas aulas de Economia no Velho Mundo e no Novo Mundo. O Professor Schumpeter foi muito querido por seus alunos dentro e fora de sala de aula e muitos dos seus alunos mais estudiosos foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia (GONÇALVES, 2008), destacamos o economista americano Robert Solow, Prêmio Nobel de Economia de 1987.

Em 1911, Schumpeter escreveu em alemão uma obra denominada Theorie der wirtschaftlichen Entwicklung (Teoria do Desenvolvimento Econômico). Este livro tem prefácio e seis capítulos, e na tradução para a língua portuguesa destacamos o comentário na Introdução do economista Rubens Vaz da Costa (1997, p. 8) que “Ao completar 50 anos, Schumpeter já havia escrito dezessete livros”. No Capítulo II sobre o fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico, o Professor Schumpeter (1997, p.76) tratou da importância do empresário inovador em cinco tipos de inovação: “1) Introdução de um novo bem (…). 2) Introdução de um novo método de produção, (…). 3) Abertura de um novo mercado, (…). 4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas (…). 5) Estabelecimento de uma nova organização em qualquer indústria (…)”.

Schumpeter leu muito as obras-primas dos economistas Bohm-Bawerk (1815-1914), Walras (1834-1910), Marshall (1842-1924), Fisher (1867-1947) e Kondratiev (1892-1938) para entender a evolução econômica e social da sociedade capitalista. Ressaltamos o Capítulo VI que trata sobre o ciclo econômico e o Professor Schumpeter (1997, p. 202) destacou que, “(…) o boom termina e a depressão começa após a passagem do tempo que deve transcorrer antes que os produtos dos novos empreendimentos possam aparecem no mercado. E um novo boom se sucede à depressão, quando o processo de reabsorção das inovações estiver terminado”. Em seguida, Schumpeter (1997, p. 204) destacou também que, “(…) o boom se materializa antes de tudo na produção de plantas industriais (fábricas, minas, navios, ferrovias etc.)”.

Em 1939, Schumpeter escreveu um livro de dois volumes, agora em inglês, intitulado Business Cycles (Ciclos Econômicos), já como renomado professor de Economia da conceituada Universidade de Harvard, localizada em Cambridge, no estado de Massachusetts. O Professor Schumpeter foi pioneiro ao enfocar o papel histórico da inovação na explicação dos ciclos econômicos e que os ciclos de negócios vivem ondas de inovação, que surgem e desaparecem cada vez mais rápido. Apontou as muitas ondas simultâneas de ciclos longos, ciclos intermediários e ciclos curtos. Cada vez mais curto a onda de inovação nas visões schumpeterianas e neoschumpeterianas desde a Era Industrial até a Era do Conhecimento. As famosas Ondas de Schumpeter (Schumpeter’s Waves) foram classificadas conforme o ritmo de inovação. Na primeira onda (1785-1845) surgiram com destaque a energia hidráulica e os produtos têxteis. Na segunda onda (1845-1900) apareceram com ênfase a energia a vapor e as ferrovias. Na terceira onda (1900-1950) surgiram com distinção a energia elétrica e o petróleo. Já na quarta onda (1950-1990) apareceram com relevância a petroquímica e a computação. E a atual e quinta onda (1990-2020) surgiram com destaque a Internet e as novas mídias como o Facebook.

O Professor Schumpeter estudou muito as distintas fases do ciclo econômico: boom, recessão, depressão e recuperação. Conforme Schumpeter (1939, p. 182), “As três mais profundas e as mais longas “depressões” dentro da época coberta por nosso matrial – 1825-1830, 1873-1878, e 1929-1934 – todas exibem essa característica”. Para Schumpeter a economia capitalista sairá de uma depressão econômica e entrará numa recuperação econômica com o surgimento de uma inovação tecnológica. Conforme o economista Paulo Sandroni (2008, p. 758) no best-seller Dicionário de economia do século XXI, “O estímulo para o início de um novo ciclo econômico viria principalmente das inovações tecnológicas introduzidas por empresários empreendedores”.

As inovações tecnológicas promovem o crescimento econômico de uma nação capitalista. Além disso, a inovação tecnológica é uma variável endógena do sistema capitalista. O empreendedor em busca de lucro pode fundar empresas de tecnologia e introduzir novos produtos e novos serviços na Quarta Revolução Industrial. Por exemplos, o empresário empreendedor pode iniciar uma startup para divulgação virtual de restaurante ou criar uma empresa de painéis solares.

A obra-prima de Joseph Schumpeter foi intitulada Capitalism, Socialism and Democracy (Capitalismo, Socialismo e Democracia) e publicada em 1942. O livro tem prefácios, cinco partes distintas e 28 capítulos, além de um apêndice, na versão em português. O Professor Schumpeter foi o idealizador da destruição criativa (creative destruction) e popularizou o termo econômico na economia capitalista. De acordo com Schumpeter (1961, p. 54) “De fato, a economia capitalista não é e não pode ser estacionária. Nem se está simplesmente expandindo de maneira uniforme. É incessantemente revolucionada, de dentro, por novos empreendimentos, isto é, pela introdução de novas mercadorias ou novos métodos de produção ou ainda novas oportunidades comerciais (…)”.

Para Schumpeter (1961, p. 110), “Esse processo de destruição criativa é básico para se entender o capitalismo. É dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a empresa capitalista para sobreviver”. Podemos na prática explicar a destruição criativa nos exemplos do processo de inovação tecnológica no mercado: Walkman em 1979; MP3 Player em 1993; iPod em 2001; e iPhone em 2004. O Walkman da empresa japonesa Sony e a fita cassete da empresa alemã Basf são produtos obsoletos para os atuais empreendedores, ou seja, os agentes de mudança na economia (SCHUMPETER, 1961).

Um mês antes de completar 67 anos, durante o sono em sua própria casa, Schumpeter morreu de excesso de trabalho, “ele trabalhava 84 horas semanais” (GONÇALVES, 2008, p. 3), em 8 de janeiro de 1950, na região Nordeste dos Estados Unidos. Passados, no entanto, 70 anos após a morte de Schumpeter, estamos agora na Crise de 2020. De acordo com o bilionário e fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio (2020), “A Crise de 2020 será maior do que a que tivemos em 2008 e será similar a Grande Depressão de 1930”. Infelizmente, o desemprego e a pobreza estão crescendo nas ruas de diversos países, todavia, iremos triunfar na visão schumpeteriana, porque a atual recessão econômica cessará com o novo processo de inovação. Logo, a vacina contra a COVID-19 será o divisor de águas no rumo da economia mundial e início da recuperação econômica. O FMI projeta uma taxa de crescimento do PIB do Brasil em 2,8% em 2021.

A incerteza, a volatilidade, a desconfiança, o aquecimento global, o terrorismo e a segunda onda da pandemia da COVID-19 prejudicam muito uma recuperação econômica robusta no mundo. Sintetizando, Schumpeter foi o professor da inovação, “o motor do desenvolvimento econômico” ou “a mola mestra da dinâmica capitalista” (POSSA, 1999), e após a sua morte, em 1954, foi publicado um livro póstumo denominado História da Análise Econômica em três volumes. Em suma, as boas ideias schumpeterianas ainda vivem ao redor do mundo pelos neoschumpeterianos em plena Indústria 4.0.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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