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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Sete países tão distantes e tão diferentes do Brasil

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publicado em 30/10/2020 às 06h09
atualizado em 30/10/2020 às 05h15

O Brasil é o quinto maior país do mundo, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados (IBGE). Atualmente, o Brasil é a sexta nação mais populosa do planeta, com 212 milhões de habitantes (ONU). O Brasil é a nona maior economia do mundo, com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 1,8 trilhão, segundo os dados de 2019 do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta (FAO). E o Brasil encontra-se na 79ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com 0,761, conforme os dados de 2018 do Relatório do Desenvolvimento Humano 2019 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Em plena Quarta Revolução Industrial, o Brasil precisa aumentar suas relações internacionais com o resto do mundo. Nos dias atuais, pode-se analisar os principais indicadores e índices norteadores de desenvolvimento humano de sete países tão distantes do Brasil: Afeganistão, Cazaquistão, Paquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Os sete países asiáticos juntos somam uma população total de 327 milhões de habitantes, um PIB total de US$ 592,2 bilhões e uma área territorial de 5,3 milhões de quilômetros quadrados. Atualmente, o Brasil é mais rico, mais extenso e menos populoso do que a união dos sete países islâmicos citados.

As breves análises iniciam-se pelas cinco ex-repúblicas soviéticas da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), localizadas na Ásia Central: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Em seguida, a análise de indicadores e índices do Afeganistão, localizado também na Ásia Central e por fim, do Paquistão, situado no Sul da Ásia.

A República do Cazaquistão tem uma população de 18,7 milhões de habitantes, majoritariamente mulçumana, e sua moderna capital é Nur-Sultan. O Cazaquistão produz petróleo, gás natural, urânio (o maior produtor mundial), cromo, ouro e prata, além de trigo. O Cazaquistão é o nono maior país do planeta, com 2.699.700 quilômetros quadrados, a moeda oficial é o tenge cazaquistão e pretende mais cooperação com o continental e tropical Brasil em energia limpa e agricultura. Ressaltamos que, em janeiro de 2019, o emergente Cazaquistão inaugurou a maior usina solar da Ásia Central.

O Quirguistão tem como capital a secular Bishkek. É um país montanhoso de 6,5 milhões de habitantes e predominante agrícola. Produz ouro e sua moeda é o som quirguistão. Recentemente, sofreu uma nova crise política, após denúncias de compra de votos e de fraudes nas eleições legislativas para o Parlamento (DW, 2020). A República do Quirguistão é o segundo país mais pobre da Ásia Central, com um PIB nominal de US$ 8,4 bilhões (FMI).

A capital da República do Tadjiquistão é Dushanbe e a sua moeda oficial é o somoni tadjiquistão. É um país montanhoso, rico em minerais como ouro, prata e alumínio e tem muito gás natural. O Tadjiquistão é o menor país, com 139.600 quilômetros quadrados, o país mais pobre da Ásia Central, com US$ 8,1 bilhões e o terceiro menos populoso da região, com 9,1 milhões de habitantes (ONU).

O Turcomenistão é um país desértico e com muitos recursos energéticos, gás natural (quarta maior reserva do mundo) e petróleo na costa do Mar Cáspio. Os gasodutos atravessam o território turcomeno para escoar a elevada produção de gás natural. A população turcomena é de 6,0 milhões de habitantes e a menos populosa da Ásia Central. Na capital Ashgabat destacam-se os monumentos em mármore branco. A moeda é o manate turcomeno. O IDH do Turcomenistão é 0,710, um IDH alto e igual ao país vizinho, o Uzbequistão.

A República do Uzbequistão fez parte da antiga Rota da Seda, produz algodão (um dos maiores produtores mundiais), trigo, ouro, petróleo e gás natural. Sua populosa capital é Tashkent e sua moeda é som uzbequistão. O Uzbequistão é o primeiro país mais populoso da Ásia Central, com 34,1 milhões de habitantes e a segunda nação mais rica da região, com US$ 57,9 bilhões (FMI).

A República Islâmica do Afeganistão é um país montanhoso com 32,2 milhões de habitantes. A sua capital é Cabul e a moeda oficial é o afegane afegão. O Afeganistão é palco de quatro décadas de guerras e conflitos armados e já foi invadido por tropas da URSS (1979) e dos EUA (2001), mas venceram as duas superpotências da antiga Guerra Fria. O Taliban mudou os rumos do Afeganistão com repressivas leis islâmicas em 1996 até os dias de hoje. É gritante a pobreza extrema no Afeganistão, como também, no país vizinho, o Paquistão.

A República Islâmica do Paquistão é o quinto país mais populoso do mundo, com 220,8 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 2,8% da população mundial. A capital paquistanês é Islamabad, o PIB foi de US$ 278 bilhões no ano de 2019, a moeda é a rúpia paquistanês e o Corredor Econômico China-Paquistão (CECP) escoará uma parte significativa da produção industrial da segunda maior economia do mundo pelo porto de Gwadar, no Mar da Arábia, na Nova Rota da Seda, além das commodities paquistanesas como algodão e trigo. O IDH atual do Paquistão é de 0,560 (PNUD), sendo classificado como um IDH médio na terra de um dos economistas idealizadores do IDH, Mahbub ul Haq (1934-1998).

Sete países tão diferentes do Brasil lutam diuturnamente para melhorar a qualidade de vida de sua população. O melhor IDH é do Cazaquistão com 0,817 e o pior IDH é do Afeganistão com 0,496 no ano de 2018 (PNUD). O Cazaquistão é o país mais rico da Ásia Central com US$ 180 bilhões e tem IDH muito alto, devido à elevada média de escolaridade dos cazaques, com 11,8 anos (PNUD). O Afeganistão é o segundo mais populoso país da Ásia Central e tem um IDH baixo, devido à baixa esperança de vida ao nascer dos afegãos, com 64,5 anos (PNUD).

Evidencia-se que já são mais de 44,5 milhões de casos de COVID-19 no planeta, no qual foram mais de 5,4 milhões de pessoas infectadas no Brasil, mais de 330 mil no Paquistão, mais de 110 mil no Cazaquistão, mais de 66 mil no Uzbequistão, mais de 57 mil no Quirguistão, mais de 41 mil no Afeganistão e mais de 10 mil infectados no Tadjiquistão (UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS). Nenhuma pessoa infectada pelo novo coronavírus denominado SARS-CoV-2 no Turcomenistão, um dos países mais fechados do mundo, no qual o Governo autoritário prende quem falar em público a palavra coronavírus (DW, 2020).

O novo coronavírus provocou uma recessão econômica em diversas nações. Segundo o economista americano Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008, em parceria com a economista americana Robin Wells, no best-seller Introdução à Economia: “O efeito mais importante da recessão é seu efeito sobre a capacidade dos trabalhadores de encontrarem e manterem empregos. (…) As recessões levam muitas pessoas a perderem seus empregos e também tornam difícil encontrar novos empregos, e dessa forma prejudicam o padrão de vida de muitas famílias” (2015, pp.510-511).

De acordo com o World Economic Outlook do FMI, o PIB do Brasil deverá retrair em 5,8% no ano de 2020 e com projeções de recessão econômica de 12% no Quirguistão, de 5% no Afeganistão, de 2,7% no Cazaquistão e de 0,4% no Paquistão. Com exceções em cinco países asiáticos, com projeções de crescimento econômico na China (1,9%), no Turcomenistão (1,8%), no Vietnã (1,6%), no Tadjiquistão (1,0%) e no Uzbequistão (0,7%), além de seis países africanos, liderados pelo Egito que crescerá 3,5% em 2020.

Concluímos o presente artigo destacando que após a dissolução da URSS em 26 de dezembro de 1991, os cinco países independentes não almejaram retornar a economia planificada nos últimos 29 anos. O multiétnico Cazaquistão é um bom exemplo de sucesso na transição de economia socialista para uma economia de mercado, aproveitando o boom do petróleo, sendo possível encontrar raras belezas em praças, parques, prédios, museus, mausoléus, estátuas, palácios, mesquitas, catedrais, monumentos históricos ou modernos, sem qualquer pichação, nenhum papel no chão.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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