João Pessoa, 23 de outubro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Da crise de 1929 até a crise da Covid-19

Comentários: 0
publicado em 23/10/2020 às 09h02

A maior crise do sistema capitalista começou exatamente no dia 24 de outubro de 1929. Numa Quinta-feira Negra ocorreu a grande queda da Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos da América (EUA), era o início da Grande Depressão dos anos 30. Amanhã, em 24 de outubro de 2020, os exatos 91 anos da Crise de 1929, quando desapareceram US$ 14 bilhões do mercado de ações no país mais rico do mundo, no único pregão, com a venda de mais de 12 milhões de ações de baixíssima cotação. A especulação financeira, uma das principais causas da Crise de 1929, provocou cinco dias depois a grande quebra da bolsa do centro financeiro do planeta, em 29 de outubro, numa Terça-feira Negra. O Índice Dow Jones caiu de 380 pontos em setembro de 1929 para 40 pontos em julho de 1932, um colapso financeiro de 85% ao longo de três anos.

A superprodução foi uma das principais causas da Crise de 1929. O aumento da oferta de produtos em relação a fraca demanda de consumidores ocasionou a superprodução agrícola (estoque de trigo, milho, algodão, etc.) como também a superprodução industrial (estoque de automóveis, tratores, fogões, geladeiras, rádios, etc.) nos EUA. A Grande Depressão nos EUA (foto) provocou a falência de mais de 9 mil bancos. Mais de 85 mil empresas encerram suas atividades econômicas. Foram vários os suicídios. Os pobres foram morar em favelas. Além de longas filas à espera de receber café com rosca ou sopa com pão nas ruas de Nova York, Chicago ou Detroit. Era o verdadeiro caos econômico.

Os EUA sofreram muito com o desemprego em massa nas zonas urbanas e rurais. A taxa de desemprego subiu de 3,2% da população economicamente ativa (PEA) em 1929 para 24,9% da PEA em 1933. De acordo com o economista Jeremy Rifkin (1995, p.26), no livro O Fim dos Empregos: “Em outubro de 1929, um pouco menos de um milhão de pessoas estavam desempregadas. Em dezembro de 1931, eram mais de dez milhões de americanos sem trabalho. Seis meses depois, em junho de 1932, o número de desempregados havia crescido para 13 milhões. O desemprego atingiu seu ponto máximo, com mais de 15 milhões de desempregados, no auge da depressão, em março de 1933”.

Como foi possível tirar os EUA do caos econômico? Da segunda metade do século XVIII até o ano de 1933, o liberalismo econômico dominava nos países capitalistas. Mas em 04 de março de 1933, com New Deal, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt não adotou o liberalismo econômico, idealizado pelo economista escocês Adam Smith. No New Deal ocorreram grandes investimentos em obras públicas como a construção de represas, aeroportos, portos, pontes, viadutos, casas populares, hospitais, escolas, etc.

A crise estrutural de 1929 fragilizou o capitalismo liberal e provocou um pânico em Wall Street. O economista inglês John Maynard Keynes, o maior economista do século XX, pensou nos ciclos econômicos no Capítulo 22 do revolucionário livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936. Keynes apontou uma solução a curto prazo contra a depressão econômica, uma política fiscal expansionista, ou seja, aumentar os gastos governamentais e reduzir os impostos. Era o fim do laissez-faire, da Lei de Say, da mão invisível, com a intervenção do Estado na economia para gerar empregos.

Entre as principais lições da superação da Crise de 1929, quase 91 anos depois, além da Crise de 2008, é entender o papel do Estado na Crise da COVID-19. O novo coronavírus começou na China, a segunda maior economia do planeta, que já contaminou mais de 41 milhões de pessoas no mundo, com mais de 1 milhão de mortos (UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS), agora diante da segunda onda da COVID-19 na Europa e da terceira onda no Irã. O Governo Federal elevou os gastos públicos com o Auxílio Emergencial de mais de 67 milhões de pessoas (CEF) para amenizar o sofrimento decorrente da primeira onda da COVID-19 no Brasil, o 2° lugar no ranking mundial de mortes, com mais de 155 mil pessoas (UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS). A intervenção do Estado na economia brasileira provocou o aumento do poder aquisitivo sem precedentes de milhões de pessoas mais vulneráveis, que estão consumindo mais alimentos, remédios, serviços por delivery e materiais de construção, com cinco parcelas de R$ 600 de abril a agosto e quatro de R$ 300 até dezembro. Ressalta-se que a mãe solteira e chefe de família recebeu cinco parcelas de R$ 1.200 de abril a agosto e receberá quatro de R$ 600 até dezembro.

É alarmante a situação das contas públicas no País, são sucessivos déficits públicos desde 2014 e a dívida pública bruta já ultrapassou os R$ 6 trilhões em abril de 2020 (BACEN). Os governos federal, estaduais e municipais não reduziram os 92 tributos (13 impostos, 34 taxas e 45 contribuições) vigentes no País. Os economistas britânicos Smith e Keynes eram contra os elevados impostos em séculos distintos. Com menos tributos, as empresas com menor custo de produção tendem a reduzir os preços dos bens e serviços e a baixa vertiginosa dos preços possibilitará um boom de consumo das famílias a curto prazo.

A recessão econômica no secular e emergente Brasil começou no segundo trimestre de 2020, com uma retração de 9,7% (IBGE) e já provocou 14 milhões de desempregados (IBGE). Continuamos em home office, empurrando o carrinho de compra no supermercado com menos mercadorias (IPCA em 3,14%), de máscara no rosto e com álcool 70% nas mãos, e aguardando a vacina em plena pandemia da COVID-19.

O Grande Confinamento de 2020 causou um impacto na economia global tão avassalador quanto o da Grande Depressão de 1930. De acordo com o historiador Erick Hobsbawm (1995, p.105) no livro Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991, “Mesmo a pior depressão cíclica mais cedo ou mais tarde tem de acabar”. Resumindo, a Crise de 1929 começou nos EUA, atravessou o Oceano Atlântico, e chegou na Inglaterra, França e Alemanha, e contagiou países capitalistas como Canadá e Brasil, em seguida, provocou a primeira grande crise do capitalismo. No período entreguerras, a Crise de 1929 abalou a economia mundial, com exceção a União Soviética (atual Rússia). Em suma, a Crise de 1929 provocou o aumento assustador da falência de bancos e de empresas, do desemprego, da pobreza e da fome nas nações capitalistas. Mas, chegou a recuperação econômica com o New Deal em 1933 que aumentou a demanda agregada nos EUA.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também