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Chris Fuscaldo detalha obra sobre a trajetória de Zé Ramalho

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publicado em 10/07/2020 ás 09h01
atualizado em 10/07/2020 ás 12h08
Jornalista Chris Fuscaldo

Formada em Jornalismo e em Letras, com mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, Chris Fuscaldo é a biografa do cantor paraibano. Ela já trabalhou nos jornais Extra e O Globo, colaborou para diversas revistas brasileiras, entre elas MTV, Rolling Stone e UBC (União Brasileira dos Compositores). Além de editar o blog GarotaFM em seu site, produz releases para gravadoras, festivais e músicos independentes e atua como mediadora de debates em eventos ligados à música (Mimo Festival, por exemplo). Em 2015, foi responsável pela pesquisa do livro “Rock in Rio 30 Anos” (Ed. 5W).

No ano seguinte, estreou como escritora em “Discobiografia Legionária” (Ed. LeYa), em que conta a história da Legião Urbana através de seus álbuns. Em 2017, estreou como cantora e compositora no álbum “Mundo Ficção”. Em 2018 lançou o livro “Discobiografia Mutante: Álbuns que Revolucionaram a Música Brasileira” (troféu Prêmio Profissionais da Música). No mesmo ano, além do livro sobre Mutantes, que marcou o lançamento de sua própria editora, a Garota FM Books, assinou o conteúdo do livro “La Mole: O importante é acreditar” (Ed. Organograma), sobre a rede de restaurantes do Rio de Janeiro. Em 2020, ela se prepara para finalizar seu doutorado no mesmo programa da Puc-Rio. Em entrevista ao MaisPB, ela fala da biografia de Zé Ramalho e de sua vasta produção cultural.

MaisPB – Vamos começar pela biografia de Zé Ramalho. Por que ainda não saiu?

R – Em fevereiro de 2020, fez dez anos que embarquei para a Paraíba pela primeira vez para conhecer o universo de Zé Ramalho. Zé Ramalho me deu autorização em 2007, mesmo ano em que Roberto Carlos proibiu a própria biografia, escrita pelo Paulo César de Araújo. Eu vinha conversando com um editor que queria investir no livro, mas aquele escândalo protagonizado pelo Rei fez com que as editoras dessem passos para trás e ficassem com medo de investir em biografias. Tentei começar sozinha, mas a conta foi ficando muito cara. Já gastei mais de R$ 50 mil (suados, pois sou jornalista, né?) e estou com pouco mais da metade do livro escrito. Mesmo com a liberação das biografias pelo STF, em 2015, as editoras pedem para ler o livro pronto para “avaliarem”. Acho que ainda com medo do biografado poder mover alguma ação. Então, eu segui trabalhando no ritmo que é possível para mim: junto um dinheirinho, invisto em um trecho, escrevo e paro; consigo mais um pouquinho de dinheiro, escrevo mais um pouco. E assim vai. Os livros que lancei só saíram porque partiram de pesquisas que fiz para outros trabalhos. Ou seja, o investimento veio de outro lugar. Esse sofrimento – não pense que é fácil resistir a um mercado tão complicado – me fez entender que tudo tem sua hora e não temos controle sobre nada. Uma hora, esse livro do Zé Ramalho vai sair e pode ser que esse caminho tortuoso tenha sido necessário para que ele esteja na prateleira que acho que merece estar. Espero só que não demore mais dez anos.

MaisPB – E o livro “Discobiografia Mutante: Álbuns que Revolucionaram a Música Brasileira”? Via sair a segunda edição?

R – O “Discobiografia Mutante: Álbuns que Revolucionaram a Música Brasileira”, meu segundo livro, lançado em 2018 pela minha própria editora, a Garota FM Books, e que terá segunda edição ainda este ano. Estou preparando essa segunda edição porque saiu um álbum novo dos Mutantes em janeiro e a primeira tiragem esgotou, sendo que muita gente procura pelo livro. Adorei esse mundo das “discobiografias” e quero poder fazer outras, no futuro.

MaisPB – O que você tem feito nessa pandemia, aí no Rio de Janeiro?

R – Estou focada em terminar meu doutorado. Estou escrevendo uma tese sobre a história e experiência de cantoras e compositoras veteranas em ritmos brasileiros como samba (Leci Brandão), forró (Anastácia), MPB (Joyce), rock (Martinha), sertanejo ( a paraibana Roberta Miranda), música baiana (Margareth Menezes) e black music (Sandra de Sá). É um trabalho que visa ressaltar a importância da voz feminina, não só a voz que canta, mas a que tem algo a falar em suas composições, em um mercado tão difícil para as mulheres. Você sabia que, segundo o Ecad, as cantoras/compositoras mulheres são apenas 7% dos cantores/compositores que arrecadam direitos autorais no Brasil? E que, na lista dos 100 maiores arrecadadores do Brasil (músicos em geral), há 93 homens e 5 mulheres (dois de gênero não declarado)? Pois é… Esses números absurdos me moveram a ir atrás de compreender porque foi tudo tão difícil para elas (e é para mim e a maioria das mulheres que conheço).

MaisPB – Como foi o sucesso do livro sobre Legião Urbana?

R – O Discobiografia Legionária, meu primeiro livro, lançado em 2016, foi um sucesso, mas não foi trabalho acadêmico. Minha dissertação de mestrado me ajudou a aprofundar a pesquisa sobre Zé Ramalho. A tese de doutorado – que termino este ano – foi a que eu contei acima. E teve o livro sobre Mutantes do qual falei mais acima, no meio disso tudo, em 2018. Em 2017, eu ainda lancei um álbum como cantora e compositora, o “Mundo Ficção”. Foi minha primeira aventura autoral.

MaisPB – Você nos contou que o fato de ter começado a escrever a biografia de Zé Ramalho, tinha chegado perto do povo nordestino e sertanejo. Vamos voltar no tempo e falar desse elo?

R – Antes de ir para a Paraíba em 2010, minha relação com o Nordeste era uma amizade profunda com a jornalista e cineasta baiana Ceci Alves, com direito a algumas visitas à Bahia entre 2006 e 2009, e uma amizade profunda com a jornalista pernambucana Erika Azevedo, com direito a uma visita a Olinda em 2009. A viagem à Paraíba em 2010 só confirmou minha paixão pela cultura nordestina. Ceci sempre brinca que devo ter sido cangaceira em outra encarnação porque não tem explicação o sentimento que tenho de pertencimento quando piso em algum desses lugares. E, antes disso tudo, esse sentimento já percorria minha alma quando eu ouvia as músicas dos nordestinos – primeiro Caetano e Gil, depois Zé Ramalho, Alceu, Geraldo e Elba, e em seguida Belchior, Amelinha, Fagner, Ednardo. Minhas origens são Portugal e Itália. Então, eu realmente acredito que deve ser coisa de outra vida.

7 – O que mais lhe apaixonou na Paraíba?

R – Primeiro, o povo. Que gente boa tem aí! Boa e hospitaleira. Depois, o mar quentinho da capital e as tantas pedras incríveis que estão no caminho para o sertão (a do Ingá, por exemplo, e as de Lajedo de Pai Mateus). Também amo a comida, claro.

Kubitschek Pinheiro – MaisPB