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ONGs dos EUA acusam papa de minimizar casos de pedofilia na Igreja

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publicado em 24/09/2015 ás 09h48

Organizações da sociedade civil norte-americanas acusam o papa Francisco de negligenciar casos de abuso sexual de crianças e adolescentes cometidos por religiosos e defendem a abertura dos arquivos do Vaticano com a divulgação de nomes dos acusados em todo o mundo.

“O papa nega o quão sério é o problema e minimiza a situação. Ele nega que crianças continuam sendo violadas”, disse à BBC Brasil Barbara Blaine, fundadora da organização SNAP (sigla de Survivors Network of those Abused by Priests), uma rede que reúne vítimas de abusos cometidos por padres criada no final dos anos 80 nos Estados Unidos e em outros países.

“Na verdade, ele nem deveria se ocupar disso, deveria mandar os casos para que a polícia investigasse”, afirmou ela.

A grande esperança de vítimas nos Estados Unidos é que o papa aborde este tema quando fizer seu discurso nas Nações Unidas na sexta-feira (25) e nas missas que realizará durante sua visita.

Na quarta-feira (23), em pronunciamento feito na Catedral de São Mateus Apóstolo, em Washington, Francisco pediu aos bispos americanos que trabalhem para que os escândalos não se repitam.

“Sei o quanto pesou sobre vocês a ferida dos últimos anos e acompanhei o seu generoso empenho para curar as vítimas e trabalhar para que tais crimes não aconteçam nunca mais”, declarou o pontífice argentino.

Mas, para a ativista Blaine, Francisco deveria ser mais enfático sobre o tema. “Queremos que faça a diferença e tome uma atitude, não mais palavras. As palavras não vão proteger as crianças. Queremos que os arquivos sejam abertos, os padres punidos e os casos levados à polícia”, defendeu.

É a primeira viagem de Francisco aos Estados Unidos – ele é quarto papa a desembarcar em território norte-americano. Espera-se que seu discurso na ONU aborde temas de direitos humanos e meio ambiente.

Muitos guardam com grande expectativa a possibilidade de o papa se encontrar com vítimas de pedofilia. A Missão Permanente de Observação da Santa Sé na ONU não confirmou se esse compromisso está na sua agenda.

Marco zero
Na opinião de Anne Barret Doyle, uma das diretoras da organização Bishop Accountability, que documenta desde 2003 casos de violações sexuais na Igreja Católica, o papa Francisco não poderá fugir do tema.

“Os EUA são o marco zero dos escândalos de abusos sexuais. Ele terá que tocar fundo no tema apesar de o encontro com vítimas não estar no seu programa oficial. Não tem como vir aos EUA e não tratar disso. O que está em questão é se ele realmente fará alguma ação significativa”, disse à BBC Brasil.

Em junho, Francisco anunciou que criará um tribunal para julgar por “abuso de poder” bispos que acobertaram padres denunciados por crimes sexuais contra menores. Os casos serão julgados por uma seção judiciária a cargo da Congregação para a Doutrina da Fé, o braço do Vaticano para doutrinamento.

Esta foi, segundo Doyle, a única medida anunciada por Francisco desde que assumiu o papado em 2013 para amenizar a que considera ser uma “crise epidêmica”.

“Ainda é só uma ideia, não virou realidade. Existe apenas a promessa. Para mim o que existe é uma catástrofe, uma crise epidêmica, pois estamos falando de crimes cometidos e acobertados pela instituição mais poderosa do mundo. A Igreja Católica é uma instituição global que continua a permitir que padres culpados permaneçam trabalhando. É talvez a única no mundo que autorize que pedófilos continuem exercendo suas funções”, criticou.

De acordo com a ONG Bishop Accountability, os dados oficiais da Igreja nos EUA indicam que 6,4 mil padres foram acusados de pedofilia entre 1950 e 2013.

“Pensamos que este número é subestimado e pode chegar a 10 mil. Já no mundo, é impossível saber quantos padres abusaram de crianças. Estimamos que (foram) cerca de 69 mil, entre padres e religiosos, desde a década de 50.”

A Congregação para a Doutrina da Fé reúne, desde 2003, todas as acusações de abuso sexual contra crianças comprovadas verdadeiras. Já são 3,4 mil padres considerados culpados pela Igreja.

“Mas não sabemos quantos religiosos são de fato punidos e que tipo de punição recebem. Sob as leis canônicas, o bispo é quem decide e muitas (punições) são apenas uma advertência por escrito”, ressaltou Doyle ao defender maior transparência por parte do Vaticano.

Na sua opinião, o sigilo sobre quem são os pedófilos pode aumentar o risco de novos casos.

“A Igreja não está alertando os fiéis sobre quem são os criminosos. Deveriam publicar a lista com os nomes de todos os acusados e dos considerados culpados. Da forma como estão fazendo, não estão trabalhando com transparência. O papa Francisco não está sendo mais transparente em relação aos papas anteriores”, diz Doyle.

G1

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