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Em 1956 a 20th Century Fox iniciou a distribuição do filme inglês “The Man Who Never Was” (O homem que nunca existiu), dirigido por Ronald Neame, e estrelado por Clifton Webb e Gloria Grahame.
A película narra suposta operação da espionagem inglesa, a Operação Mincemeat, onde é criado um oficial do exército que nunca existiu. O objetivo era induzir os alemães ao erro. O tal oficial inexistente, seria um tipo de mensageiro, e levaria planos falsos sobre a invasão dos aliados à Grécia dominada pelos nazistas. Para tanto, foi criada uma identidade no Exército Inglês, uma carreira, enfim, todos os passos da vida militar. O requinte da falsificação, foi a utilização de um cadáver, devidamente uniformizado, para incorporar o soldado. Criado o personagem, deu-se um jeito de ser encontrado o corpo pelos alemães, que leram o plano e agradeceram a preciosa informação.
A história ganhou uma nova versão cinematográfica em 2022, produção da Netflix: “O soldado que não existiu”. Direção de John Madden, com Colin Firth, Matthew Macfadyen e Kelly Macdonald no elenco.
Parece que a criação de pessoas que não existiram de verdade, não é incomum. Não precisa ir muito longe para vermos um exemplo. No Bairro do Cabo Branco temos a Avenida Índio Arabutan. Passo por ela há décadas, e nunca descobri quem danado foi esse índio tão importante, ao ponto de merecer nome de rua. Pela relevância, estaria, no mínimo ao lado de Poty, Piragibe, e outros personagens históricos.
Curiosidade aguçada, iniciei a pesquisa. Fui às fontes: Horácio de Almeida, José Octávio de Arruda Mello, Carmem Coelho de Miranda Freire, e nada do índio. Confesso que apelei até para a internet, fonte nada confiável, mas que, algumas vezes, dá um Norte. Nada do índio.
Remotamente, puxando pela memória já um tanto combalida, lembrei do nome ARABUTAN, das aulas de História do Brasil das professoras Lúcia Guerra e Simone Queiroga, na UFPB. Era um dos navios brasileiros afundados pelo U-155, um dos letais U-BOAT , submarino alemão da Segunda Guerra Mundial. O Arabutan foi torpedeado na Costa Atlântica dos Estados Unidos.
Registra a História que mais de 30 navios brasileiros foram postos a pique pelos U-BOAT, fato que contribuiu para a decisão de Getúlio Vargas declarar guerra ao Eixo. Getúlio ficou em cima do muro o quanto pode. Mas, em algum momento, teve que decidir, e preferiu alinhar com os Aliados. Contam que havia até o risco dos EUA invadirem o Nordeste, para assegurar bases estratégicas. Na base do acordo, se instalaram em Natal-RN.
Sim. Mas, e o índio?
Bom, o índio não tem nada a ver com isso. Na verdade não existiu índio algum nessa história.
Com o afundamento dos navios, cidades brasileiras começaram a homenagear as naves, dando seus nomes para ruas e praças. Nesse contexto, alguém deve ter tido a brilhante ideia de nomear uma das ruas da nossa Capital, de Arabutan. Segundo o cronista Marcos Pires, o vereador encarregado, por pura preguiça, não fez qualquer pesquisa.
É fácil deduzir, portanto, que o nome soou aborígene aos ouvidos do edil. Parece que a Árvore do Pau Brasil, no idioma tupi-guarani é assim chamada. Então, deve ter pensado, tratava-se de algum herói indígena. Nada mais justo do que eternizá-lo com um logradouro: Avenida Índio Arabutan, CEP 58045-040.
Acharam pouco o reconhecimento ao herói, afinal deve ter sido alguém muito relevante, e dobraram a homenagem, desta vez no Bairro do Alto do Mateus, décadas depois, e lá está a Rua Índio Arabutan, CEP 58090-820.
O herói merece.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 26/09/2025