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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Lembram do disco “Sera”, o primeiro álbum da Legião Urbana, lançado há 40 anos? Pois o jornalista José Emílio Rondeau, produtor do disco, acaba de lançar o livro Será!. A nova obra do autor conta os bastidores do álbum de estreia da banda brasiliense e revela qual foi a música mais difícil de ser gravada. O selo é Editora Máquina de Livros.
Está tudo lá – as brigas com produtores, tensão no estúdio e a entrada de um novo integrante alguns dias antes do início das gravações. Em meio ao caos instalado na EMI-Odeon, o jornalista, crítico musical e diretor de videoclipes José Emílio Rondeau assumiu a produção do que viria a ser o álbum de estreia da maior banda brasileira de todos os tempos, a Legião Urbana. Este foi o disco que trouxe clássicos como “Ainda é cedo”, “Geração Coca-Cola”, “Será”, “Por enquanto” e outros sucessos que apresentaram a Legião ao Brasil.
Os legionários Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá trazem mais histórias que se intercalam com as do produtor Zé Emílio, do diretor de produção Mayrton Bahia, do técnico de gravação do disco, Amaro Moço, e de Fernanda Villa-Lobos, mulher do Dado e empresária do grupo no início da banda.
“Quando ouvi a primeira fita cassete da Legião sabia que a história do rock brasileiro iria mudar. Ali estavam as sementes para uma potencial revolução. E eu precisava fazer parte daquele momento”, relembra José Emilio Rondeau.
Capa do disco
A capa do disco “Legião Urbana”, apresenta uma foto de Mauricio Malladares em preto e branco da banda, com os membros sentados em frente a um muro. A imagem é simples e marcante, foi concebida pelo designer Ricardo Leite designer.
O álbum, lançado em 1985, foi um marco na história do rock brasileiro e a capa contribuiu para a identidade visual da banda. A foto da capa é de Mauricio Malladares e o designer da capa é de Ricardo Leite
O MaisPB conversou com o autor, José Emilio Rondeau que revela
MaisPB – Só o fato de ter sido o produtor do disco de estreia do Legião Urbana, já é motivo para comemorar – vamos começar por aqui?
José Emílio Rondeau – Foi um privilégio passar com a Legião aqueles meses no estúdio, ajudando a trazer à luz tudo de melhor da banda, e testemunhando, de camarote, a história do rock brasileiro sendo escrita ali, na minha frente.
MaisPB – Esse disco/livro “Será!”, trás eternas canções “Ainda é cedo”, “Geração Coca-Cola”, “Por enquanto” e outros sucessos que mexeu com a cabeça dos jovens dos anos 80. Está tudo relacionado, né?
José Emílio Rondeau – O livro funciona como uma história oral a seis vozes – Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Fernanda Villa-Lobos (então empresária do grupo), Mayrton Bahia (diretor de produção da gravadora EMI-Odeon), Amaro Moço (o técnico de som da gravação e da mixagem do álbum) e eu –reconstruindo o período da gênese e da feitura do primeiro disco da Legião. E traz uma linha do tempo que ajuda a contextualizar aqueles meses de trabalho, com acontecimentos culturais, políticos e econômicos que situam aquela época.
José Emílio Rondeau, escritor
MaisPB – Conseguiu levar para o livro a conversa com os dois caras da banda, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que estão aí para contar a história…
José Emílio Rondeau – Há muitos anos não via Dado, Bonfá e Fernanda. Mayrton e Amaro, então, há bem mais tempo ainda. Foram conversas muito interessantes, porque acabavam sendo complementares. Nem sempre um lembrava igual ou por completo de uma mesma coisa ocorrida durante a gravação. Às vezes, havia até divergências. Mas, no fim das contas, o livro traz as experiências da gravação de acordo com a ótica – e a lembrança – de cada um.
MaisPB – As brigas da época do disco inicial, também estão lá, né?
José Emilio Rondeau – Está lá tudo que conseguimos lembrar e resgatar, inclusive as desavenças. Que foram, vistas com a distância de tanto tempo, naturais, até. Eles estavam com a guarda alta, depois de duas tentativas em vão de trabalhar com outros produtores, tinham convicções fortes, eu tinha as minhas, e, óbvio, quando você tranca num estúdio todas essas pessoas, durante meses a fio, é impossível que em algum momento os ânimos não se exaltem. Mas o mais importante é que de todo aquele tempo de trabalho resultou um disco marcante, que se tornou o cartão de visitas da Legião para o mundo.
MaisPB – Você diz que quando ouviu a fita cassete da Legião sabia que o Rock estava ali. Vamos falar sobre isso?
José Emílio Rondeau – Aquela fita mostrava um rock como não se fazia no Brasil. Lembre-se que estávamos no auge de bandas que faziam um rock super pop, leve, e de repente vem a Legião falando de temas sérios, que diziam respeito ao que se passava no país, às vésperas da redemocratização, e que tinham tudo a ver como o que estava na cabeça e no coração de sua geração.
MaisPB – Até hoje temos a sensação que o Renato Russo está por aí – tipo seu livro traz ele de volta, estou certo?
José Emílio Rondeau – O trabalho e a força artística de Renato vão sempre estar presentes e o livro, ao documentar um período de transformação da Legião – de grupo punk raiz a afiado artista de disco –, sublinha todas as qualidades dele.
MaisPB – O prefácio é do João Barone, boa sacada, viu?
José Emílio Rondeau – Eu tinha escrito o prefácio do livro dele – o excelente ‘1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso’ – e ele gentilmente aceitou o convite para fazer o meu. E a história da Legião estará sempre ligada à do Paralamas, porque foi graças a eles que a gravadora EMI-Odeon soube da existência do grupo de Brasília.
MaisPB – Vai lançar esse livro pelo país afora?
José Emílio Rondeau – Fiz o lançamento no Rio de Janeiro, inclusive na Bienal do Livro, mas no momento não há planos para outras cidades.
MaisPB – Será! Já está nas livrarias no formato livreco e-book em mais de 20 plataformas digitais. Isso facilita muito, né?
José Emílio Rondeau – Decerto. Quanto mais acessível o livro, melhor.
centenário - 27/06/2025