João Pessoa, 27 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Todos nós, em algum momento, já fechamos os olhos e nos vimos em futuros ideais, cenários onde as coisas finalmente dão certo, onde somos mais fortes, mais felizes ou, quem sabe, simplesmente mais em paz. Existe uma beleza muito grande nessa capacidade humana de criar possibilidades além do presente, de transformar o amanhã em um espaço aberto, onde cabem esperança, mudança e um pouco de ousadia. O futuro fascina justamente por isso: ele ainda não aconteceu e, por isso, está cheio de caminhos que podemos escolher seguir.
Desde muito cedo, aprendemos a olhar adiante. As histórias que ouvimos quando crianças, as expectativas da família, os modelos de sucesso, tudo nos convida a acreditar que a vida de verdade começa mais na frente. Como se o presente fosse sempre um ensaio e o futuro, a grande estreia. E então seguimos, cada um do seu jeito, acumulando compromissos, sonhos e até frustrações, acreditando que, lá na frente, haverá tempo suficiente, espaço suficiente, oportunidades suficientes.
Mas o tempo, esse recurso invisível e que nunca para, nem sempre corresponde à nossa fantasia. Muitos de nós acreditam que terão mais disponibilidade daqui a uma semana, um mês, um ano… como se o futuro fosse uma terra tranquila, sem obstáculos, pronta para receber todas as demandas que hoje não conseguimos resolver. E assim, quase sem perceber, seguimos nesse ciclo de lotar agendas, marcar compromissos e acreditar que, no futuro, será mais fácil dizer sim.
Talvez por isso, o discurso da produtividade tenha se tornado um padrão de valor. Vivemos em uma cultura que valoriza quem está sempre ocupado, quem consegue fazer mil coisas ao mesmo tempo, quem nunca para. Mas será que, nesse excesso de ocupação, não estamos esquecendo justamente daquilo que nos faria sentir, de verdade, realizados? Será que não estamos apenas enchendo o tempo, em vez de vivê-lo com presença e sentido?
Se olharmos mais fundo, percebemos que essa relação com o futuro está muito ligada a ideias como acreditar em si mesmo, ter uma visão positiva e manter a esperança. Acreditar em si nos faz perceber que somos capazes de agir e provocar mudanças. Ter uma visão positiva nos convida a esperar que coisas boas vão acontecer. E a esperança é a chama que nos mantém em movimento, mesmo quando a realidade parece difícil e incerta. São esses elementos que, de maneira silenciosa, moldam a forma como escolhemos construir nossa vida.
No entanto, existe uma diferença importante entre sonhar com o futuro e jogar toda a nossa felicidade para ele. Quando acreditamos que só seremos felizes quando determinada condição for alcançada, corremos o risco de transformar nossa vida em uma eterna espera. E, nessa espera, vamos nos sobrecarregando, enchendo de tarefas e compromissos, criando uma ansiedade que nos rouba o agora, esse instante único onde, na verdade, todas as mudanças começam.
É curioso perceber como, ao pensar no futuro, costumamos ser mais generosos com o nosso tempo. Aceitamos convites para semanas ou meses à frente, certos de que teremos mais tempo, mais energia, mais clareza. Mas, quando o dia chega, percebemos que a vida continua tão cheia quanto antes, e a sensação de falta de tempo continua, como uma sombra que nos persegue, silenciosa e incansável.
Talvez seja hora de refletirmos sobre como administramos não só o nosso tempo, mas também nossas expectativas sobre a vida. O futuro sempre será uma promessa, mas nunca uma garantia. A grande sabedoria talvez seja encontrar equilíbrio: manter a esperança, sem perder a presença; sonhar, sem esquecer o valor do agora; querer mais, mas também saber parar, respirar e contemplar.
Em meio a tudo isso, o que permanece é a nossa capacidade de imaginar, de sonhar, de acreditar que podemos, sim, fazer as coisas acontecerem, e que o futuro pode ser melhor. Mas isso não precisa ser um peso ou um acúmulo de tarefas e compromissos. Que possamos construir um futuro mais consciente, menos ansioso, mais alinhado com os nossos valores e com aquilo que, de verdade, nos faz bem.
No fim das contas, não basta estarmos ocupados. Até as formigas estão sempre ocupadas. A questão mais importante é: com o que estamos ocupando o nosso tempo e a nossa vida? Talvez o convite mais sincero e necessário seja este: que possamos parar, de vez em quando, e nos perguntar não só para onde estamos indo, mas se esse caminho, essa pressa e esse acúmulo realmente nos aproximam de quem queremos ser.
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