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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Quando o ambiente fala mais alto que o discurso

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publicado em 07/05/2025 ás 18h21

Às vezes, o que está ao redor diz mais do que as palavras. A sala do chefe, os corredores da empresa, os espaços onde as pessoas trabalham, tudo isso comunica. Mesmo sem falar, o ambiente ensina. Mostra quem tem poder, quem pode participar, quem está perto ou longe das decisões. A cultura de uma empresa não vive apenas nos murais ou nas frases bonitas da recepção. Ela se revela no dia a dia, nos detalhes.

Em uma empresa de distribuição em Cabedelo, os novos funcionários sempre eram levados para conhecer o andar da diretoria. Era tudo muito silencioso, com carpete grosso no chão, portas sempre fechadas e café servido por um copeiro. “Aqui é onde as decisões são tomadas”, diziam. Mas, na prática, as boas ideias surgiam no galpão, entre os operadores que enfrentavam os problemas reais. Poucas dessas ideias chegavam até o alto da escada.

Já em Campina Grande, uma empresa de tecnologia dizia ter um modelo moderno, com escritórios abertos. Mas os diretores ficavam em salas isoladas, com vidros escuros. Só apareciam em reuniões. Isso criava distância. O ambiente mostrava, sem palavras: lá dentro é a chefia; aqui fora é o resto. Apesar dos discursos sobre inovação e agilidade, o clima era de separação e pouca confiança.

Por outro lado, em um ateliê de design em João Pessoa, os donos trabalhavam na mesma mesa que a equipe. Tudo era leve, com plantas, música e uma cozinha integrada que incentivava as conversas. Não havia portas fechadas. Mesmo sem regras escritas sobre a cultura da empresa, era visível que todos se sentiam parte do time.

O especialista Edgar Schein ensina que o espaço físico (móveis, decoração, salas) é a parte mais visível da cultura de uma organização. Mas é também a mais difícil de entender fora do contexto. Ainda assim, o ambiente transmite mensagens poderosas. Um quadro de avisos sem uso, uma sala escura, ou uma copa malcuidada dizem muito mais até que os e-mails da empresa.

Em Patos, uma escola técnica criou o “Espaço das Ideias”: uma sala com puffs, livros, quadros e café, aberta a alunos e professores. O resultado? Mais projetos, mais diálogo, mais participação. Um pequeno ajuste no espaço gerou uma grande mudança no comportamento das pessoas.

Já em uma clínica privada em Sousa, a direção fica trancada no fim do corredor. Os funcionários só entram com permissão. Dentro, cadeiras de couro e um ar frio. Não há convivência. Quando uma técnica sugeriu uma sala de descanso para os colegas, a proposta foi ignorada. O lugar já deixava claro: bem-estar não é prioridade.

É comum ver frases nas paredes como “o que temos de melhor são as pessoas”, mas sem um espaço digno para pausas, descanso ou troca de ideias. Quando o espaço contradiz o discurso, a confiança vai embora. As pessoas percebem. Sentem. E se adaptam ao que realmente está sendo mostrado.

Se uma empresa quer transformar sua cultura, o primeiro passo é simples: caminhe por ela com olhos atentos. Veja quem está em destaque e quem está escondido. Note quem tem direito à luz do sol. Veja onde existem encontros e onde há barreiras. O espaço ensina. Ele influencia. Ele molda comportamentos.

Antes mesmo que alguém diga uma palavra, o ambiente já contou a história inteira. E talvez o que mais revele a cultura de um lugar não esteja no que se fala, mas no que se vive.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB