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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Recuperando dias e paixões etc

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publicado em 22/02/2022 às 07h48
atualizado em 22/02/2022 às 05h02

(para Jória Guerreiro)

A cidade respira e eu vou junto. A cidade ama e eu sou amoroso. Eu faço parte dela.  A cidade me acolheu e eu retribuo.

Eu não me canso da cidade, talvez das pessoas. A cidade reage aos afetos, às hostilidades e as demolições. Ela nasce, cresce, e se estica pelos bairros e pelos arranha-céus, apesar do cenário em ruínas.

É um ser vivo em transformação. As árvores batem umas nas outras, numa beleza sem igual – cajueiros, mangueiras, jambeiros, castanholas e coqueiros.

A cidade me transforma. Quando eu digo a cidade, não estou mais no centro. Toda ela.

Tal como as pessoas e os animais, as crianças, cada dia há outra cidade, outros interesses, as questões mudam, a política nos assola, viver na cidade deserta também me assusta.

 (parênteses) Outro dia vi um deputado dizendo que está recebendo ameaças de morte.  Não sei se morreu, mas ele não parecia em pânico.   Doutor, quando querem matar, não avisam, chegam e matam. A cidade fede. A ganância mata. Nunca vi um pobre dizer que recebeu ameaças de morte.

No vai e vem da cidade, as pessoas podem não ter essa percepção, porque se vê apenas a materialidade urbana. Mas ela é feita de carne e osso, não apenas de cimento e mágoa, mas da interação entre os habitantes e das cenas das esquinas, seus logradouros e atalhos.

Em Tambaú, no Largo, residem muitos mendigos. No Cabo Branco, aumenta o número dos que dormem nas marquises. Eles estão na paisagem, e há quem diga que enfeiam os lugares, mas não interagem. O sol nasceu para todos. Até para os ratos.

Essa relação de vida e morte mexe com a cidade.

A cidade não é apenas a cidade, seus edifícios velhos,  as torres imensas do Altiplano e suas ruas; ela é o que acontece nos edifícios e nas ruas, nas favelas, nos botecos, nos barracos, nos motéis, nas camas,  – na imagem das últimas casas que ainda restam, além da memória coletiva.

 A cidade assiste ao desespero no rosto de seus habitantes.

A tendência da vida urbana é aumentar a solidão.

Sim, a vida urbana proporciona interação, e o que faz a cidade existir é o desejo das pessoas interagirem umas com as outras, com pessoas diferentes, nunca iguais, mas perdemos essa conexão.

A cidade respira e vou junto, à cidade cambaleia, a cidade, o bêbado e os escafandristas, a cidade alheia a tudo.

Ei! Onde está aquela casa, que tinha aqui?  Cadê  o banco da praça, seu Zé? Onde está o jardim do amor? Onde está você, meu bem? Você esteve com meu bem?

Nunca mais fui a Rua das Trincheiras (foto)

Ah! O futuro não dará razão às minhas indagações. Talvez, porque me importo tanto com a cidade…

Kapetadas

1  – Não tenha medo de ser generoso. Você nunca saíra perdendo. Nunca perdi em dividir, muito pelo contrário. A vida devolve em dobro e de uma forma que sempre te surpreenderá positivamente.

2  – Um jogo que divide as pessoas e tenta extrair o pior delas. Poderia até se chamar Politica.

3   – Som na caixa: “A cor dessa cidade sou eu, O canto dessa cidade é meu”, Tote Gira / Daniela Mercury

4 – Foto Ernani Neves.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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