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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O Cenário de Elevada Inadimplência no Brasil em 2025

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publicado em 28/12/2025 ás 07h43
atualizado em 28/12/2025 ás 07h44

1. Considerações Iniciais

Estimado(a) leitor(a) do Portal MaisPB, a elevada inadimplência configura-se como um dos principais desafios econômicos do Brasil às vésperas de 2026. Segundo dados recentes da SERASA, divulgados no Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, referente a novembro de 2025, 80,6 milhões de brasileiros enfrentam sérias dificuldades para manter suas obrigações financeiras em dia.

Esse contingente populacional expressivo reforça a urgência de ampliar o debate público sobre Educação Financeira, bem como de discutir estratégias eficazes que permitam às famílias brasileiras romper o ciclo da inadimplência, recuperar o equilíbrio financeiro e construir uma trajetória de maior estabilidade econômica no próximo ano.

O valor total das dívidas atingiu R$ 511 bilhões em novembro de 2025, segundo a SERASA, e o número de inadimplentes já corresponde a 49,29% da população adulta do país. Observa-se ainda que a maioria dos inadimplentes é composta por mulheres (50,4%), enquanto a faixa etária mais afetada concentra-se entre 41 e 60 anos de idade (35,4%).

O principal objetivo deste artigo é apresentar cinco estratégias essenciais para que qualquer consumidor, com dívida média de R$ 6.345,69, possa sair da inadimplência em 2026 e, mais do que isso, evoluir financeiramente até alcançar a condição de investidor no Brasil.

2. O Cenário de Elevada Inadimplência no Brasil em 2025

O quadro da inadimplência no país agravou-se de forma significativa ao longo de 2025. Em janeiro, o número de inadimplentes somava 74,6 milhões de pessoas, avançando para 80,6 milhões em novembro, o que representa um aumento absoluto de 6,0 milhões de brasileiros com CPF negativado e um crescimento relativo de 8,04% em apenas onze meses.

O mês de novembro destacou-se negativamente, configurando-se como o pior resultado de 2025 e o maior patamar registrado nos últimos três anos. Em comparação com novembro de 2023, quando havia 71,8 milhões de inadimplentes, observa-se um acréscimo expressivo de 8,8 milhões de novos inadimplentes, o que corresponde a um crescimento relativo de 12,26%, conforme dados oficiais da SERASA.

No ranking nacional das Unidades da Federação com maior proporção de população inadimplente, destacam-se o Amapá (65,20%), o Distrito Federal (61,78%) e o Amazonas (58,17%). Em contrapartida, os estados brasileiros com os menores índices de inadimplência são Santa Catarina (38,71%), Piauí (39,97%) e Espírito Santo (42,83%).

Esses números evidenciam a necessidade urgente de mudanças estruturais na forma como os brasileiros lidam com suas finanças pessoais. Diante desse cenário alarmante, impõe-se a seguinte indagação: quais são os fatores determinantes para que uma pessoa consiga sair da inadimplência no Brasil no ano de 2026?

3. Cinco Estratégias para Sair da Inadimplência em 2026

Diante desse contexto econômico preocupante, elencamos cinco pilares fundamentais para garantir uma vida financeira equilibrada e pavimentar o caminho rumo aos investimentos e à prosperidade econômica em um país emergente que já figura como a 11ª maior economia do mundo.

É preciso revelar que as projeções para 2026 indicam uma desaceleração da atividade econômica no Brasil, com a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuando de 2,26% em 2025 para 1,80% em 2026, conforme o Relatório Focus do Banco Central do Brasil (BACEN), divulgado em 19 de dezembro de 2025.

Cabe destacar que o Brasil apresenta a quarta maior taxa de juros nominais do mundo, em 15,00% ao ano, além de registrar a segunda maior taxa de juros reais do planeta, em 9,44%, segundo dados do portal MoneYou (G1 ECONOMIA, 2025). Já as projeções do Relatório Focus indicam a condução de uma política monetária expansionista, com a taxa Selic recuando para 12,25% ao ano em dezembro de 2026.

3.1. Orçamento Doméstico

O primeiro passo para sair da inadimplência consiste em possuir pleno conhecimento da própria realidade financeira. Isso implica registrar todas as receitas e despesas mensais em uma planilha ou aplicativo de controle financeiro, permitindo identificar com precisão para onde o dinheiro está sendo direcionado.

A elaboração de um orçamento doméstico estruturado possibilita a identificação de gastos supérfluos e a priorização do que realmente é essencial. Uma metodologia amplamente recomendada é a regra 50-30-20, que propõe a seguinte divisão da renda: i) 50% para despesas essenciais (alimentação, moradia, educação, saúde e transporte); ii) 30% para lazer; e iii) 20% para investimentos e formação de reserva financeira.

3.2. Uso Consciente do Crédito

O crédito pode atuar tanto como um aliado estratégico quanto como um fator de desequilíbrio financeiro. Para que ele trabalhe a favor do consumidor, é fundamental observar algumas diretrizes básicas: i) Evitar parcelamentos excessivamente longos; ii) Não realizar compras por impulso; iii) Pagar sempre o valor total da fatura do cartão de crédito; iv) Não comprometer mais de 30% da renda mensal com prestações; e v) Monitorar regularmente o score de crédito.

O consumidor financeiramente consciente tende a utilizar o crédito prioritariamente para a aquisição de bens duráveis ou investimentos que agreguem valor ao patrimônio. O uso responsável do crédito reduz riscos e evita que pequenas dívidas se transformem em grandes problemas financeiros.

Exemplos de grandes problemas financeiros, como endividamento excessivo, especialmente com cartão de crédito e cheque especial, que possuem juros elevados; perda ou redução de renda, decorrente de desemprego ou informalidade; falta de reserva de emergência, que obriga o uso de crédito em situações inesperadas; comprometimento elevado da renda com parcelamentos de longo prazo; e aumento do custo de vida, sobretudo com alimentos, energia elétrica, combustíveis e aluguel; e juros elevados.

3.3. Construção de uma Reserva de Emergência

A existência de uma reserva financeira é fundamental para evitar que imprevistos resultem em inadimplência. O ideal é acumular o equivalente a 6 a 12 meses, sendo recomendável, sempre que possível, atingir o patamar de 12 meses, garantindo maior segurança financeira diante do desemprego ou despesas inesperadas.

Essa reserva financeira deve ser aplicada em produtos de baixo risco e alta liquidez, como investimentos de renda fixa com liquidez diária, preferencialmente oferecidos por instituições com bom rating de crédito.

3.4. Renegociação de Dívidas

Para aqueles que já se encontram em situação de inadimplência, a renegociação das dívidas representa um passo essencial para a retomada do controle financeiro. Bancos, cooperativas de crédito e instituições financeiras frequentemente disponibilizam condições diferenciadas, com redução de juros e ampliação de prazos.

Os quase 90 milhões de brasileiros inadimplentes concentram suas dívidas, majoritariamente, no segmento de bancos e cartões de crédito (26,9%), seguidos por contas básicas, como água, energia elétrica e gás (21,9%), financeiras (19,4%) e serviços (11,9%), conforme dados de novembro de 2025 da SERASA.

Entre as principais recomendações para uma renegociação eficiente de dívidas atrasadas por três meses ou mais, destacam-se: i) Priorizar dívidas com juros elevados, como cartão de crédito e cheque especial; ii) Evitar a contratação de novas dívidas durante o processo de renegociação; e iii) Participar de feirões, como o Feirão Serasa Limpa Nome, e de programas especiais de renegociação, que facilitam o pagamento e a quitação de dívidas.

3.5. Educação Financeira

Mais do que pagar contas em dia, é indispensável desenvolver um comportamento financeiro responsável e orientado para o futuro. A Educação Financeira permite decisões mais conscientes e estratégicas, ampliando a capacidade de planejamento de curto, médio e longo prazo.

A Educação Financeira ensina a planejar, investir e gastar o dinheiro de acordo com objetivos e necessidades individuais. Pessoas financeiramente educadas apresentam melhores condições de compreender informações, avaliar riscos e tomar decisões que impactam seus patrimônios, tanto no curto quanto no longo prazo. Nesse contexto, a máxima “não devemos gastar mais do que ganhamos” mostra-se especialmente atual e necessária diante da realidade dos 80,6 milhões de brasileiros inadimplentes.

Entre as práticas recomendadas destacam-se: i) Buscar conhecimento por meio de livros e cursos especializados; ii) Definir metas financeiras claras; iii) Iniciar investimentos em renda fixa e renda variável; iv) Alinhar objetivos financeiros com a família mensalmente; e v) Elaborar e acompanhar um orçamento mensal, com controle sistemático de receitas, despesas e nível de endividamento.

4. Considerações Finais

Finalizando, ser uma pessoa adimplente exige não apenas emprego e renda, mas, sobretudo, disciplina, organização e comprometimento com boas práticas financeiras. Hábitos aparentemente simples, como controlar gastos, utilizar o crédito de forma consciente e investir regularmente, produzem impactos positivos ao longo do tempo.

Mais do que evitar a inadimplência, a Educação Financeira possui o potencial de transformar realidades, permitindo a realização de sonhos e a conquista da tão almejada liberdade financeira. O primeiro passo é, de fato, o mais desafiador; contudo, com informação, planejamento e perseverança, qualquer pessoa física pode sair da inadimplência e tornar-se investidor no Brasil.

Com planejamento e conhecimento, é plenamente possível que qualquer brasileiro deixe a inadimplência em 2026 e alcance a condição de investidor, seja de perfil conservador, moderado ou arrojado. É fundamental compreender que toda crise econômica possui início, meio e fim; assim, sair do vermelho da inadimplência e avançar rumo ao equilíbrio financeiro, simbolizado pelo azul da adimplência nas contas mensais, é um objetivo plenamente factível.

Por fim, os dados de novembro de 2025 do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da SERASA revelam o avanço consistente do número de inadimplentes no Brasil, reforçando a urgência de ações de Educação Financeira e iniciativas individuais e coletivas voltadas à sustentabilidade econômica das famílias o mais rápido possível.

Referências

BACEN. Relatório Focus. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/focus/focus/R20251219.pdf. Acesso em: 27 dez. 2025.

G1 ECONOMIA. Brasil segue em 2º no ranking de maiores juros reais do mundo após decisão do Copom; veja lista. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/12/10/brasil-ranking-juros-reais-dezembro.ghtml. Acesso em: 27 dez. 2025.

SERASA. Mapa da inadimplência e renegociação de dívidas: Novembro/2025. Disponível em: https://cdn.builder.io/o/assets%2Fb212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc%2Fa42655247dd044aaab2741b677f30020?alt=media&token=4b413c1d-02c8-4cc5-8624-b4f859df50f1&apiKey=b212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc. Acesso em: 27 dez. 2025.

(*) Paulo Galvão Júnior é economista paraibano, conselheiro efetivo do CORECON-PB, diretor-secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba e apresentador do programa Economia em Alta, na Rádio Web Alta Potência, na capital paraibana. WhatsApp para entrevistas e palestras: +55 (83) 98122-7221.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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