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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

Missa do Galo e os beneditinos

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publicado em 23/12/2025 ás 19h40
         José Nunes
Desde quando participei da Missa do Galo no Mosteiro de São Bento de Olinda, em comemoração do nascimento de Jesus, os cânticos gregorianos, o incenso perfumando o ambiente e todo o rito complementar da celebração fez com que a liturgia ganhasse sublimidade naquela noite.
         Tinha ido ao Recife para os ajustes do meu casamento com a minha noiva. Monge beneditino, seu irmão Bernardo nos levou para participar da missa no Mosteiro. Foi momento que recordo com intensa emoção.
         Naquela noite, a partir das 10 horas até depois da meia noite, ao repique de sinos e cânticos, presenciei uma das mais belas liturgias em que pude participar ou concelebrar.
         Os cânticos gregorianos, o uso do incenso e os gestos dos monges celebrantes, acompanhados pelo abade, ficaram na minha retina porque muito emocionaram.
Tantos anos depois, volto meu pensamento àquela noite mística. É como se estivéssemos vivendo no espaço mítico das antigas catedrais, onde se revela o misterioso ato de veneração a Deus.
A música sacra ganhou dimensão solene na noite das grandes revelações. Era a revelação de Deus e santificação dos fiéis. Momento de brilho e universalidade da presença Divina, em santidade e na delicadeza dos gestos e atos litúrgicos.
No Templo, tudo era realizado com sobriedade, os ofícios monásticos ganhavam uma dimensão na paisagem solene, numa sintonia entre o Divino e o humano. O cenário se completava no badalar dos sinos e no incenso pela nave, elevando nossas súplicas para os altares mais altos.
Sem desviar dos ritos patrocinados pela Igreja Ocidental, em 1.500 anos de caminhada, os Beneditinos trazem alimento espiritual à alma, sobriedade e beleza às celebrações litúrgicas, sobretudo em momentos solenes, ainda mais no nascimento de Jesus.
Ao longo de sua história, a música ganhou sublime dimensão nas celebrações litúrgicas beneditinas, porque pode “possuir a santidade” e nos consagrar a Deus, porque Deus é poesia. A poesia de Deus é a música da natureza.
Depois daquela noite de oração no Mosteiro de São Bento, jamais convivi com o estágio de letargia espiritual.  A música me conduziu até Deus, o Deus revelado na Natureza, nas Artes e no abraço fraterno.
Meu pai dizia, apesar da simplicidade camponesa, que na necessidade de falar com Deus, devemos andar pelo campo, contemplar a barra do horizonte ao amanhecer ou no entardecer, e sempre escutar o vento.
Após a noite de Natal no Mosteiro, fui me descobrindo na mística de São Bento, lentamente conhecendo sua espiritualidade e sua regra do bem viver, a partir do “orar e trabalhar”.
Alguns estudiosos da vida e da obra de Santo Agostinho confirmam que este chorava ao ouvir os cantos gregorianos, que muito penetrava em sua alma. Certamente no decorrer dos séculos, como este convertido que se tornou um grande pensador católico que deu novos rumos para a Igreja, sentiram a presença Divina através da música sacra. Hoje não choramos, mas somos acometidos de calma, de serenidade, de paz ao ouvir esse tipo de música, porque é como uma oração que nos leva em direção a Deus, dando repouso no nome do Senhor.
Desde o Natal de 1980, o primeiro que passei com minha mulher, neste período do ano lembro o que aconteceu em Belém, e recordo a noite na Capela do Mosteiro de São Bento de Olinda.
A partir de então, meus caminhos levaram aos ensinamentos de São Bento e de sua mística. Mística e ensinamentos sendo a base do roteiro que adotei de “orar e trabalhar”.
Todas as vezes que observo as cenas do nascimento do menino Jesus, lembro da missa com os beneditinos. Afinal, aquela celebração me tocou profundamente, abriu minha mente e meu coração para chegar mais perto de Deus, tentando ser um homem de oração e do trabalho.
Quando Dom Marcelo Carvalheira estimulou a vinda dos monges beneditinos para a Arquidiocese, foi criada uma expectativa de presença mais constante destes em nossa cidade. Tanto é que, à época, estabelecida celebração de Missas com a presença de monges do Mosteiro de Olinda, contava com grande participação de fiéis. Logo teve início a preparação do primeiro grupo de oblatos seculares. Era visível o interesse de fieis pela presença dos beneditinos na Paraíba.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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