José Nunes
Tenho dois amigos que em ensinaram a olhar a arte como alimento e agente transformador da vida, mostrando o livro como suporte e luz para expor as maravilhas do universo. Mostraram-me que depois dos extravios humanos, é possível reconstruir novos horizontes. A arte como possibilidade de discutir a pobreza, fome, conflitos, e apontar caminhos para uma sociedade livre.
O destino me aproximou de dois amigos. Assim como o poeta E.E. Cammings exaltou na canção, dizendo “carrego seu coração comigo”, Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves, eu os carrego no meu coração. Para onde eu vou, eles estão em minha lembrança.
O amigo carrega o outro no coração, como cantou o poeta de nacionalidade norte-americana, sem nunca magoar ou tratar com desdém esse que vive próximo ou na sua memória.
Nathanael passou a viver na eternidade, deixando-me acometido de profunda saudade, mesmo revivendo suas palavras afetuosas e seus gestos angélicos para comigo. Mas o outro, Gonzaga, igualmente caro para mim, dele recolho benfazejas lições.
Eu preparo uma canção em forma de livro para homenagear os dois.
Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves, iniciaram suas atividades profissionais nas redações na década de 1950, cada um em órgão diferente da Imprensa, formando invejável conhecimento da arte de fazer jornal depois que passaram a atuar juntos nas mesmas redações, dividindo sonhos e aspirações.
Ambos já eram leitores de obras universais e sentiam a força transformadora da poesia de profundo sentido social e espiritual.
Ao tempo em que começaram a atuar nas redações de jornais, ambos conquistaram inúmeros leitores.
Na década de 1960 se transformaram em animadores de novos talentos que despontavam nas redações.
Escrevendo poesia, ainda jovens, anteciparam o triunfo literário que seria consolidado nas crônicas e nos artigos que começaram a publicar.
Conquistaram leitores que os seguiam para onde se deslocasse com suas crônicas e artigos. Onde estes atuavam, aliciavam leitores a ponto de alguns colecionarem seus textos.
Os dois foram, essencialmente, jornalistas sóbrios e inteligentes. Sempre preocupados em expor ideias que constroem e revitalizam o terreno onde é possível plantar sementes de boa germinação.
Nunca perderam a serenidade nos declives da vida. Homens sem malquerença com ninguém, mesmo quando os algozes no período do governo militar tentaram impor silêncio e imputar mordaça à suas ideias. Pouco cultivaram o individualismo que cria artifícios gananciosos que desunem. Sempre estiveram prevenidos contra as estruturas danosas que mofam o relacionamento das pessoas.
Nathanael era silencioso, falando somente o necessário para a boa comunicação, ouvindo mais do que opinando, mas transmitia mensagens de otimismo e de confiança nos sonhos e projetos idealizados. Gonzaga sempre foi mais extrovertido e igualmente propenso a recolher a dor do semelhante.
Figuras humanas inconfundíveis e fecundas em ensinamentos, durante décadas orientaram quem deles se aproximaram, principalmente levando a conhecer a arte de escrever nas suas mais amplas significações. Enfim, estes dois cronistas souberam cativar.
Nos perfis singelos que preparamos, encontram-se inconfundíveis intensões de reverência a ambos. A intensão de reverenciá-los acalentada décadas seguidas e não extrapola a admiração.
Ambos nasceram camponeses e guardaram lembranças das eras passadas de familiares que constam na fotografia da memória. Construíram suas vidas no silêncio que trouxeram da terra, revelado nas estrofes escritas das crônicas que os acompanham.
Sempre lembro que estes dois amigos e confidentes, súmulas de virtudes literárias, moldados do barro que suporta todas as temperaturas, trouxeram para a crônica a beleza estética.
Se destacaram em suas atividades sem sufocar ninguém, mas usando o manto da solidariedade. Guardam a temperança, a paciência, a solidariedade, a maturidade, a ironia mansa, a sabedoria que herdaram dos seus pais.
Em cinco décadas de amizade, mais tempo com Gonzaga do que com Nathanael, nunca presenciei opróbrio no trabalho destes dois brilhantes cronistas que souberam vencer as intempéries e a monotonia dos lugares que negaram as oportunidades de estudos. Sempre lutaram pelas liberdades.
Os tenho como modelo de homens que devemos seguir.
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