João Pessoa, 17 de novembro de 2025 | --ºC / --ºC
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Nenhuma virtude sofreu tanto nas mãos da vaidade quanto a humildade. Antes simples, silenciosa e despretensiosa, hoje ela desfila com a mesma desenvoltura de um pavão treinado, pedindo que todos notem o quanto é modesta. A humildade, que um dia caminhou descalça, agora veste sandálias douradas — e, para completar o espetáculo, caminha devagar apenas para que reparem. A humildade de muitos é sim da bopca pra fora.
Dizem que os humildes herdarão a Terra. Talvez seja verdade, mas os que a proclamam são justamente aqueles que disputam a herança como joias antigas de família. Querem ser vistos como pequenos para que os considerem grandes, querem parecer discretos para colher admiração, querem se ajoelhar para subir no pedestal. Assim, fazem do chão palco, da reverência estratégia, da simplicidade artifício.
A falsa humildade tem seu próprio idioma: fala pelos cotovelos um olhar baixo medido, um sorriso tímido ensaiado, uma recusa elegante que já espera ser insistida.
É um teatro tão antigo quanto as cortes e tão moderno quanto os palcos virtuais onde se pede aplauso travestido de gratidão.
E, no entanto, é fácil reconhecê-la.
Se a humildade fosse sincera, não teria pressa de aparecer, nem desejo de ser notada, nem ambição de ser coroada como “a melhor entre as discretas”. Uma humildade que precisa de plateia, de testemunhas, de público,esta não é virtude: é marketing pessoal.
Mas o que esperar de um mundo que, para ser aceito, exige que todos brilhem? A humildade verdadeira se tornou quase inconveniente. Incomoda. Desarma. Não cabe nos discursos, não serve para conquistar adeptos, não enfeita currículos, não produz curtidas. Por isso quase ninguém a carrega e os poucos que carregam, carregam escondido, como quem carrega uma joia que não quer ver roubada.
A humildade corrompida, porém, multiplica-se. Cresce como erva daninha…
A caridade, que nasceu para ser abrigo, virou evento. Não se faz mais por compaixão: faz-se por visibilidade. É impressionante.
E não são poucos os que transformam o sofrimento alheio em escada — basta uma foto, uma postagem, um discurso afinado, e pronto: a virtude é certificada sem que ninguém tenha sido realmente ajudado. Aprendi isso de perto.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
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