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O homem, dentro do contexto social onde vive, há de submeter-se a várias regras disciplinares que fazem parte do mundo civilizatório que organiza e estabelece as normas de convivência na sociedade. São elas que o tornam diferente. Exemplo: a sociedade nordestina difere da sociedade do sul do Brasil. Em que consiste? Isto acontece no relacionamento social. A depender dele a pessoa mantém a ordem, os hábitos, os costumes, as crenças etc. Embora possam diferenciar as pessoas, os preceitos seguidos são os mesmos adotados nas religiões, etc. A sua presença na sociedade não estabelece conflitos, mas a coexistência harmônica, sem infringir e nem causar dissonância. Digo isto porque vou abordar uma linda história que está vivendo um casal amigo, que comoveu a todos.
Gostaria de falar sobre religião e o que a caracteriza, porque cada uma inclui valores éticos e morais dentro da sociedade, crenças que interpretam a visão do mundo, da vida e da morte, identifica-se na própria linguagem e símbolo, como: cristianismo, islamismo, hinduísmo, budismo, judaísmo etc. Implicam em fé, em seres superiores, rituais, liturgia, doutrinas, livros sagrados e práticas que podem ser coletivas ou individuais. No Brasil, como o estado é laico, a Constituição prevê a liberdade de religião e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo assim, não há uma religião oficial. Dados do Censo 2022 do IBGE indicam que a maioria da população se declara como católica romana (56,7%). O catolicismo foi a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Seguida por evangélicos (26,9%) e pessoas sem religião (9,3%). No Brasil há grande diversidade religiosa, com aproximadamente 80 denominações presentes no país e a legislação garante a liberdade da prática para todas.
Reportando-me à religião católica consta-se que possui sete sacramentos, que são: Batismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Penitência (ou Confissão/Reconciliação), Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Eles são divididos em três categorias: iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e serviço (Ordem e Matrimônio). É através dos sacramentos que a Igreja exerce sua função santificadora. Eles nos ligam a Deus e são meios deixados pelo próprio Cristo, para chegarmos um dia à Sua presença na glória celeste. Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em torno dos sacramentos. É por meio deles que Deus transmite sua graça e nos fortalece para viver de acordo com sua vontade. Tem um propósito central: nossa salvação. Os sacramentos, ou seja, a matéria e a forma, atuam como um elo entre o mundo visível e a graça invisível. Em breves palavras fiz uma síntese sobre os sacramentos sem analisar a especificidade de cada um, até porque aqui não existe esta intenção.
Conheci a amiga Lívia, em um curso sobre a problemática que envolve a sociedade atual. Continuamos a nos ver nas aulas de hidroginástica, três vezes por semana. Esses encontros frequentes oportunizaram a nos aproximar e conhecer mais de perto. Tivemos oportunidade de fazer um passeio para um lugar do interior, foi quando conversamos bastante. Lívia ficou mais solta e contou sua história.
Lívia é filha de Carminha, paraibana que com 20 anos teve a esperança de arranjar emprego e viver dias melhores no Rio de Janeiro. Em lá chegando arranjou trabalho em casa de família. Foi quando conheceu Pedro. Apaixonaram-se perdidamente e foram morar juntos. Casaram-se e tiveram três filhas e Lívia é a caçula. Ao completar seis anos a mãe descobriu um câncer no sangue, um tipo de leucemia agressiva. Com seis meses da descoberta sua mãe veio a óbito. O pai, desolado, ficou com três filhas, viúvo. Carminha, sua mulher, tinha uma amiga que desde que adoeceu tomou conta das crianças e ajudava Pedro nas coisas da casa. Isto ocorreu durante toda a enfermidade. Dedicou assistência integral o que foi importante, pois Pedro, pai das meninas, não tinha como dar conta do seu trabalho e ainda assistir nos afazeres domésticos e da mulher que ficou acamada dependendo de pessoas que ajudassem em suas necessidades. Com a morte de Carminha, não tendo para quem apelar procurou a ajuda de Marina, e nem recusar a ajuda de Marina a amiga de sua mulher. Com o correr do tempo Pedro casou-se com Marina.
Uma coisa que percebi em Lívia foi uma mágoa do pai guardada há muitos anos, pois depois da morte de sua mãe, Pedro e Marina passaram a morar juntos, o que fazia entender que o pai já mantinha esse relacionamento mesmo sua mãe ainda viva. Este gesto do pai causou uma revolta muito grande em seu coração. Com o correr dos anos, já mais amadurecida, compreendeu a situação do pai, viúvo, com duas adolescentes e uma criança, e tendo que trabalhar para manter a casa e os encargos da família. Se não fosse a ajuda de Marina sua vida tornar-se-ia impraticável. A madrasta nunca foi ruim, pelo contrário, as tratava muito bem; nunca deixou faltar nada. Lívia sempre ficava com o coração trancado e com ressentimento, nunca pode ser aberta. Marina terminou de criar ela e suas irmãs. Lívia cresceu guardando aquele sentimento. Seu desejo era sempre sair de casa. Com 16 anos arranjou seu primeiro emprego e ao dezessete saiu de casa, alugou um Kitnet, começou a ser independente. O que ganhava dava perfeitamente para pagar as contas e se manter.
Lívia procede de uma família muito católica praticante; as irmãs fizeram a primeira eucaristia e a crisma, porém ela, como era caçula e com a perda de sua mãe, não teve a mesma oportunidade de receber a primeira comunhão, a não ser o batismo. Com isso, tinha perdido um pouco sua fé e religiosidade. Normalmente Lívia ia para o trabalho de metrô ou de ônibus. Um dia perdeu o horário, foi de trem. Enquanto esperava o transporte apareceu João, dizendo que queria falar com ela, pedindo seu telefone. Achou-a muito bonita, mas a princípio ela não deu atenção. João foi insistente e ela, para se livrar, cedeu, dando o número do telefone. Começaram a namorar. Ele, muito boêmio, característica do carioca, gostava de farra e não queria nada com a vida, filho único. Lívia, percebendo a situação, chamou-o e pressionou dizendo: “Olha João, eu sou muito independente, eu tenho meu dinheiro. Desde os 17 anos que trabalho e vivo às minhas custas, pago as minhas contas e não quero homem que venha atrapalhar minha vida. Ou faz algum curso, tem uma profissão, um emprego decente ou então pula fora da minha vida”. Então João começou a estudar no curso da ESA e formou-se militar. Eles casaram no civil e começaram a rodar o mundo. Durante esse período envolveu-se com várias crenças, questionava: “Quem é Deus? ” Sentia um vazio e nada a preenchia. Estiveram em diversos lugares de norte a sul do país, indo de um lado para outro. Tiveram dois filhos, hoje, um com 36 e outro 32 anos, e ela aos 65 anos com 41 de casada ao lado de João, numa vida de nômade, própria do militar. Com a transferência veio servir aqui em João Pessoa. O casal amou a cidade. Chegado o tempo de se aposentar não teve dúvida: fixou residência na capital paraibana. No ocaso da vida, João e Lívia escolheram João Pessoa para morar pois a consideram um paraíso!
Vivendo aqui, começaram a frequentar grupos de amigos que foram conhecendo, e sempre estavam dispostos a receber as pessoas, pois tinham o intuito de fazer novas amizades. Matricularam-se em escolas de dança, e academias. Nas aulas de musculação e de hidroginástica conheceram mais pessoas da mesma idade, frequentando as reuniões com a turma da academia. A professora de hidroginástica, Rafaela, é uma pessoa muito ligada à igreja de sua paróquia, onde trabalha em muitas atividades, agregando casais, jovens e crianças em encontros que objetivam trazer de volta para Deus aqueles que estejam afastados. Aproveitando a ocasião, Rafaela convidou Lívia e João para participarem do Encontro de Casais com Cristo. O convite foi aceito.
Ao participar do Encontro de Casais com Cristo, Lívia foi tomada de um sentimento religioso há muito tempo carente, como alguma coisa que estivesse ausente em seu íntimo, porque sobre o seu casamento não havia nada que reclamar, seu relacionamento com João era perfeito, mas sentia a falta de algo que completasse seu bem-estar. Pela primeira vez experimentava realmente a presença de Deus fazendo parte de sua vida e preenchendo aquela lacuna. A mesma sensação foi narrada pelo seu esposo. Esse momento do encontro foi determinante para que ambos refletissem sobre as suas vidas. Houve o desejo de se unirem um ao outro sob as bênçãos de DEUS, uma vez que aquela união estava civilmente correta, mas incompleta, e só na oportunidade desse momento foi possível identificar e alcançar o seu sonho.
Lívia queria receber Jesus, o que até então não havia feito. Está vivendo um conto de fadas. Juntamente com Rafaela prepara os detalhes para a festa das bodas, que será no próximo sábado. Lívia quis recuar de fazer a festa, para comemorar aquele acontecimento, pois hoje, com 65 anos, já vivendo junto com seu marido há 41 anos, talvez algumas pessoas não entendessem e considerassem ridículo, e ela relutava muito por isso. Porém Rafaela demoveu a ideia e a convenceu, no que terminou aceitando. Vai casar na Igreja, receber a crisma e a primeira eucaristia. Encontra-se eufórica junto com seu esposo ao adentrar para nova vida com DEUS. O mesmo sentimento é de seus filhos que participarão da celebração junto com os amigos que fizeram aqui em João Pessoa e lhes proporcionaram esta oportunidade. O casal não mede agradecimentos por este acontecimento em suas vidas.
Gente, o caso desse casal chama atenção pela importância de colocarmos Deus em nossas vidas. O casal estava bem, aparentemente, no entanto expressava não muito a razão de existir; agora, encontra a verdadeira felicidade de viver, a harmonia e a sintonia de estar com Deus pois só Ele é capaz de nos oferecer esse estado de alma e de espírito. Era tão bom se todos nós pudéssemos comemorar a sensação que João e Lívia estão vivendo, incluir Deus em suas vidas. Sábado iremos participar da festividade do casamento e testemunhar a felicidade que acontece aos que têm Deus no coração. O amor de Deus nos preenche. Cremos nisso!
Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP)
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